Tiago Mota Saraiva –
jornal i
Na
maior parte dos casos é mais recorrente que justo conotar-se as centrais
sindicais de cada país com este ou aquele partido, ideologia, governo ou
associação patronal em função dos seus posicionamentos políticos no tempo.
Contudo, em Portugal parece existir hoje um caso absolutamente extraordinário:
uma central sindical cujo secretário-geral toma a palavra para defender uma
família suspeita de ter feito inúmeras falcatruas num banco privado – por
sinal, seus ex-patrões.
Quando
o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, foi eleito para liderar a central
sindical, desdobrou-se em entrevistas sobre a sua vida passando a ideia, em
vários momentos, de que teria pedido (e obtido) uma espécie de bênção ao chefe
da família Espírito Santo, à época, Ricardo Salgado – e que se encontra detido
à hora a que escrevo. Não sendo este facto original, estou em crer que não
haverá muitos dirigentes sindicais que achem relevante revelar este tipo de
conversas publicamente. Sendo do foro privado, não fica muito claro qual a mensagem
que se pretendia passar ao trazê-las a público.
Passados
dois anos após a sua eleição e de um significativo desaparecimento da central
sindical que dirige, eis que Carlos Silva, há poucas semanas e na pele de
secretário-geral da UGT, veio declarar para espanto geral que o problema do BES
está na actuação dos “poderes públicos”. E não se ficou por aqui! Criticando a
alegada decisão do Banco de Portugal de, passo a citar, “correr com a família”,
concluiu, numa frase esclarecedora: “Com o devido respeito, acho que é uma
estratégia errada porque, acima de tudo, retira confiança a quem é depositante,
aos investidores, põe em causa um nome consagrado da vida portuguesa e até em
termos internacionais e, acima de tudo, estão em causa oito mil postos de
trabalho.”
“Com
o devido respeito”, não me parece muito simpático que os milhares de
sindicalistas e sindicalizados filiados na UGT passeiem no bolso da família
Espírito Santo.
Escreve
ao sábado
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