Boca
do Inferno
Mário
Motta, Lisboa
Se com ironia existiam perspetivas de que no Conselho de Estado convocado
para ontem por Cavaco Silva aquele anunciaria a sua decisão de demitir o
governo, convocar eleições e de seguida se demitir, tirem os cavalinhos da
chuva e deixem de brincar com estas coisas fastidiosas que envolvem um sorumbático PR Cavaco. Que se realizou Conselho de Estado é facto mas dali (veja-se no
comunicado) saiu mais do mesmo. Parece que os conselheiros estiveram por ali, no
Palácio de Belém, a fazer como a dona Almerinda: pescadinhas de rabo na boca. Sempre à roda do mesmo, o rabo e a boca.
Cavaco
anda à roda do mais do mesmo para conseguir os seus intentos e agarra-se aos consensos
entre os partidos do arco da governação porque não pode – apesar de tentar -
exumar o cadáver de Salazar nem refundar a PIDE e o seu criador, o Estado Novo
e fascista. O que ele quer quase todos nós sabemos. Porque não consegue o ato
milagreiro de fazer o tempo voltar para trás, ao antes de 25 de Abril de 1974,
tem vindo pé ante pé fazendo regredir as liberdades e a democracia, a justiça social, os direitos
e garantias constitucionais, em sintonia com o seu governo PSD/CDS.
Por
isso mesmo delibera a fantochada de convocar o Conselho de Estado e de lá sai
em comunicado a crença no provérbio “água mole em pedra dura tanto bate até que
fura”: consenso. Não explicita como antes o “consenso entre os partidos do arco
da governação”. Ou seja, entre os do governo e o PS – como o tem feito sectária e descaradamente. Refere partidos. Tudo porque o PCP denunciou a
postura do desditoso presidente da República no seu sectarismo e exclusão
quando se pronunciava sobre a necessidade de o PS ceder e vir a consenso com um
governo que tem vendido o país, realizado mais alguns ricaços, e gerado a miséria em milhões de portugueses. Contudo sabe-se aquilo que Cavaco quer: comprometer
ainda mais o PS com estas políticas do tipo Estado Novo salazarista de que
tantas saudades tem. Cavaco quase que consegue encarnar Salazar. Espantemo-nos
por o terem eleito. Muito aflitinho, mas foi o eleito. Para mal dos nossos
pecados de ingenuidade, desatenção e falta de coragem em dar um murro nas urnas
eleitorais, deixando de votar em mais do mesmo.
Este Conselho de Estado de nada valeu. Tudo como antes. Se foi para atirar areia para os olhos de alguém... Só se afetou os distraídos.
Consta
na peça da TSF que vem a seguir: “No fim da reunião, que durou quase seis horas,
não houve qualquer declaração oficial por parte dos conselheiros. Apenas um
desabafo por parte de Manuel Alegre que, quando questionado sobre o Conselho de
Estado, respondeu «fome e sono».”
Sim.
Na realidade, com estas políticas de má governação e com este apoiante das
mesmas, Cavaco, os portugueses enfermam de muita fome e sono. Fome porque a miséria
cresce exponencialmente enquanto Cavaco e outros dos colarinhos brancos nos
poderes se agarram aos números da estatística que não mencionam a realidade imediata nem as carências de facto dos portugueses. Sono, porque Portugal tem um PR que é um
gigantesco soporífero - que só por resistência não consegue adormecer todos em Portugal.
Conselho
de Estado convida ao consenso em nome de «objetivos nacionais»
TSF
- ontem às 23:50
O
Conselho de Estado exortou hoje «todas as forças políticas e sociais» a
preservarem «pontes de diálogo construtivo» para obterem entendimentos quanto
aos «objetivos nacionais permanentes». A reunião terminou cerca das 23:35.
«O
Conselho de Estado analisou a atual situação social e económica face aos
resultados do programa de ajustamento concluído em 17 de maio e debateu as
condições necessárias para que o país consiga superar o desafio do crescimento
económico e do emprego sustentáveis com preservação da coesão e da justiça
social, com sustentabilidade das finanças públicas e equilíbrio das contas
externas, e com inversão da atual tendência demográfica», declarou o órgão
consultivo do Presidente da República. O comunicado foi lido pelo secretário do
Conselho de Estado, Abílio Morgado.
«Face
à seriedade das exigências que o país enfrenta», o Conselho de Estado exortou
ainda «todas as forças políticas e sociais, no quadro da diversidade e
pluralidade democrática, a que preservem entre si as pontes de diálogo
construtivo e a que empenhem os seus melhores esforços na obtenção de entendimentos
quanto aos objetivos nacionais permanentes. Fator decisivo da confiança e da
esperança dos portugueses».
De
acordo com o comunicado, «foi reconhecido pelos conselheiros de Estado que a
superação do referido desafio implica, por um lado, uma voz ativa de Portugal
na União Europeia em prol do crescimento, do emprego e da coesão, sobretudo no
processo em curso de aprofundamento da união económica, orçamental e bancária».
Por
outro lado, implica «a utilização muito criteriosa dos fundos estruturais do
Acordo de Parceira 2014-2020 entre Portugal e a União Europeia, que deverão contribuir
para a obtenção de resultados positivos no debelar dos constrangimentos
estruturais da economia portuguesa em matéria de competitividade,
internacionalização e assimetrias regionais de desenvolvimento».
No
fim da reunião, que durou quase seis horas, não houve qualquer declaração
oficial por parte dos conselheiros. Apenas um desabafo por parte de Manuel
Alegre que, quando questionado sobre o Conselho de Estado, respondeu «fome e
sono».
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