A
Comissão Parlamentar portuguesa de Inquérito à gestão do BES solicitou a Paulo
Morais que lhes enviasse os nomes dos beneficiários com créditos do BES
(Angola). O vice-presidente da associação cívica Transparência e Integridade
fez chegar aos deputados vários exemplares do Folha 8. Os parlamentares
portugueses foram aos arames. Só costumam ler o Pravda, o Boletim Oficial, do
regime.
Orlando
Castro
E assim
aconteceu. Os deputados receberam o “Anexo 1 (lista de documentos), anexo 2
(lista de beneficiários), anexo 3 (USB drive)”. Ao verificaram o conteúdo, os
parlamentares portugueses – sobejamente habituados a que outros trabalhem por
eles – entraram em pânico e manifestaram o seu incomodo. Alguém estava a
passar-lhes um atestado de menoridade intelectual.
Também
desta vez esperavam que que a papinha estivesse toda feita e que, por isso,
fosse apenas necessário sorrir e – de vez em quando – dar um ar sério do estilo
de quem muito labuta na matéria. Como acontece na maioria das comissões de
inquérito, é fácil e barato brilhar à custa do trabalho dos outros.
Paulo
Morais trocou-lhes as voltas e, implicitamente, disse-lhes que se queriam as
bolotas tinham de trepar. Se os deputados da nação lusa ficaram entalados ao
verificar que a lista de beneficiários não estava assinada, como pretendiam,
pelos próprios visados, entraram em pânico por o vice-presidente da associação
cívica Transparência e Integridade lhes dizer que parte desses nomes foi
revelada pelo Folha 8.
Por
outras palavras, Paulo Morais disse-lhes que eram incompetentes, mandriões e
imbecis. Isto porque, se os nomes eram públicos a partir do momento em que
foram revelados pelo Folha 8, o que andaram a fazer os deputados desta comissão
de inquérito?
Que
chatice para quem, na Assembleia da República, só lê o Pravda do regime
angolano ou, se preferirem, o Boletim Oficial. Perante esta demonstração da sua
incompetência, os deputados atiraram a pedra e esconderam a mão. Passaram a sua
indignação, parafraseando António Barreto, aos ex-assessores agora chamados de
“Press officers e Media consultants”, os tais que “falam todos os dias com os
administradores, directores e jornalistas das televisões, das rádios e dos
jornais e escrevem notícias com todos os requisitos profissionais, de modo a
facilitar a vida aos jornalistas”.
“Press
officers e Media consultants” que, citando ainda António Barreto, “mentem de
vez em quando, exageram quase sempre, organizam fugas de imprensa quando
convém, protestam contra as fugas de imprensa quando fica bem, recompensam, com
informação, os que se conformam, castigam, com silêncio, os que prevaricaram.
São as fontes. Que inundam ou secam.”
É
claro que tantos os deputados, com excepção dos do Bloco de Esquerda, como os
“Press officers e Media consultants“ podem estar descansados. O perigo só
chegará quando José Eduardo dos Santos passar, como outros, de bestial a besta.
Até lá a manjedoura do regime continua à disposição.
“A
estupefacção e o incómodo dos deputados deve resultar do facto de muitos destes
nomes já serem públicos e terem sido ignorados pela Comissão Parlamentar de
Inquérito ao BES”, diz Paulo Morais, acrescentando que “os deputados nem sequer
os conheciam ou, se os conheciam (o que se esperaria), porque não confrontaram
os administradores do BES com esta informação?”
“Parece
uma pescadinha de rabo na boca: o dirigente da associação Transparência e
Integridade, Paulo Morais, disse que “não é difícil perceber quem são os
destinatários dos empréstimos concedidos pelo BES Angola”, escreveu o jornal
português Público.
E
acrescentou que “a comissão parlamentar de inquérito ao BES pediu-lhe, então,
que fornecesse os dados que possuía. A resposta chegou na segunda-feira, com
uma lista de nomes, sim, mas baseada em artigos de um jornal angolano, o Folha
8, e nas próprias palavras de Paulo Morais, em três programas da CMTV e num
artigo de opinião que publicou no Correio da Manhã”.
Pressupõe
o Público, como outros, que a lista de nomes baseada, nomeadamente, “em artigos
de um jornal angolano, o Folha 8” não têm credibilidade.
Escreve
o Púbico: “Junto, como solicitado, documentação relativa aos beneficiários de
empréstimos por parte do Banco Espírito Santo – Angola (BESA)”, diz a folha de
rosto endereçada a Fernando Negrão, o presidente da comissão de inquérito. Um
pouco abaixo da assinatura de Paulo Morais surge a descrição dos “anexos”:
“Anexo 1 (lista de documentos), anexo 2 (lista de beneficiários), anexo 3 (USB
drive)”.
Na
página seguinte, pormenoriza o jornal, surgem, numerados, os “documentos”:
“Jornal Folha 8 17/5/2014”, por exemplo, ou “Programa CMTV Fogo Contra Fogo
5/3/2015”. São oito, no total. Quatro edições do Folha 8, um jornal dirigido
por William Tonet, jornalista, advogado e militante da Convergência Ampla de
Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE). Três programas da CMTV,
Fogo Contra Fogo, em
que Paulo Morais debate a actualidade com Marinho e Pinto. E
uma crónica de Paulo Morais no Correio da Manhã.”
Mais:
“São estes os únicos “documentos” que Paulo Morais entregou à comissão. O
citado “anexo 3 (USB drive)” contém, de novo, os mesmos documentos, em versão
integral. Mesmo que isso tenha poupado aos deputados o trabalho de pesquisarem
em arquivos e hemerotecas o que estaria dito e escrito nos media citados, não
parece haver, em São Bento ,
grandes motivos para agradecimentos.”
Continuemos
com o Público: “É que a lista de nomes fornecida, de 15 pessoas (uma das quais
faleceu em Janeiro de 2013), é apenas suportada pelas próprias denúncias de
Morais e Tonet, amplamente conhecidas (até porque estavam divulgadas nos meios
de comunicação social agora apresentados como suporte). Não é fornecido um
único documento que sirva de fonte primária ou que permita perceber como o
jornal Folha 8, e o vice-presidente da Transparência e Integridade, chegaram
àqueles nomes e não a outros.”
Certamente
quando o jornalista do Público, José António Cerejo, revelou recentemente a
divida de Pedro Passos Coelho à Segurança Social portuguesa apresentou algum
“documento que sirva de fonte primária ou que permita perceber como o jornal
Público chegou” à conclusão de que, de facto e de jure, havia essa dívida.
Certo? Não. Errado.
O
Folha 8, tal como – presumimos – o Público, não tem que revelar as suas fontes,
sejam elas primárias ou não.
No
número 7 do Código Ético e Deontológico dos Jornalistas do Folha 8 pode ler-se:
“O jornalista não deve revelar, mesmo em juízo, as suas fontes confidenciais de
informação, nem desrespeitar os compromissos com elas assumidos. A não
revelação das fontes é, aliás, uma das razões pelas quais vale a pena ser preso.”
Diz
o Público, que “a Comissão decidiu, por unanimidade, pedir esses documentos e a
lista de devedores, com o objectivo de os fazer chegar ao Ministério Público,
que investiga a ruína do BES. O que recebeu não são provas, são outras versões
(em papel e em vídeo) das mesmas denúncias que tinham sido feitas pela rádio.”
Já
agora, deixamos à consideração dos deputados portugueses, bem como dos “Press
officers e Media consultants“, uma basilar definição do que, cá em casa,
consideramos ser fundamental: Se um jornalista não procura saber o que se
passa, é um imbecil. Se sabe o que se passa e se cala, é um criminoso.
Mesmo
não revelando as nossas fontes, primárias ou não, recusamo-nos a ser imbecis e,
ou, criminosos. Nós fazemos o nosso trabalho. Já agora, que os deputados
portugueses (e alguns jornalistas) façam o seu.
Folha 8 (ao)
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