Pedro
Goulart – Mudar de Vida
Apesar
da obediência canina do governo PSD/CDS em relação aos centros imperialistas
europeu e americano, e depois da festejada “saída” da Troika de Portugal — o
fim do tempo do “protectorado”, segundo Portas — continuam as avaliações dos
organismos troikanos, onde se tecem considerações e traçam orientações visando
condicionar a futura governação do País.
Naquela que foi chamada a primeira avaliação pós-Troika, de Janeiro de 2015, o Fundo Monetário Internacional (FMI) afirma que a passagem do salário mínimo português de 485 para 505 euros foi “prematura” e que o valor anteriormente garantido “não estava num nível tão baixo” que necessitasse do actual aumento. Sabendo que Portugal era, em 2013, o quarto país da zona euro a apresentar custos laborais por hora mais baixos, assim como o pouco que se pode adquirir com 485 euros mensais, é caso para perguntar: quem são as bestas que afirmaram que o salário mínimo de 485 euros, em Portugal, não era assim “tão baixo”?
No
mesmo relatório, o FMI defende que os cortes salariais da função pública devem
ser mantidos pelo maior prazo possível, até que os esforços de consolidação
estrutural estejam concluídos. O Fundo também considera fundamental uma nova
redução do número de funcionários públicos através de programas de rescisões
amigáveis e do regime de requalificação (mobilidade especial), assim como
”poupanças mais ambiciosas de redução ou eliminação de suplementos salariais”
no sector público. Além disso, considera que a reforma estrutural das pensões
deve ser retomada.
Apesar
dos desafios legais e da pressão política devido à proximidade das eleições
legislativas, o relatório defende que o Governo deve avançar com medidas no
curto prazo “para conter os custos salariais e de pensões”. Assim como com
“poupanças mais ambiciosas de redução ou eliminação de suplementos salariais”
no sector público.
O Fundo reitera a crítica feita pela Comissão Europeia no seu relatório de Dezembro, afirmando que Portugal continua “com desafios significativos” e que as reformas perderam gás depois da saída da Troika. Salienta, ainda, que a reversão de políticas adoptadas, quer por decisão política quer por imposição legal, é principal risco interno para para o avanço com as reformas necessárias e adverte que até às eleições podem aumentar as “tentações por políticas populistas”.
Contudo,
esta austeridade sem fim à vista que as diversas instituições da Troika
preconizam e pretendem impor, dirige-se sobretudo às classes trabalhadoras e ao
povo em geral. Para
a Banca e para os grandes capitalistas ficam os lucros e a acumulação de
capital. Também, e certamente, daqui resultaria uma Europa meridional reservada
como região de força de trabalho mais barata, de subcontratação e turismo.
As
responsabilidades dos técnicos da Troika e dos governantes locais
Se,
com estes resgates, os dirigentes imperialistas têm as responsabilidades
maiores na opressão e exploração das classes trabalhadoras e dos povos, os
governantes locais — neste caso os governos de centro-direita, em Portugal — e
os técnicos das organizações internacionais que elaboram as avaliações (quanto
ganham estas bestas que consideram bastante um salário mínimo de 485 euros?)
mantêm também altas responsabilidades. Os técnicos da Troika não são meros
funcionários que se limitem a cumprir funções burocráticas. São mercenários do
capital que, através de análises pseudo-científicas e das medidas indicadas
como indispensáveis, e em cumplicidade com os governos locais, procuram
impingir às classes trabalhadoras e aos povos as exigências do patronato. Uns e
outros são corresponsáveis pelos crimes de espoliação que, nos países
“ajudados”, se têm traduzido num enorme sofrimento para milhões de seres
humanos.
Sem comentários:
Enviar um comentário