domingo, 12 de abril de 2015

ISRAEL PREPARA A GUERRA - Wallerstein




Ao desafiar a própria Casa Branca, primeiro-ministro Netanyahu arrisca futuro do país. Talvez planeje um grande conflito, para não ceder aos palestinos

Immanuel Wallerstein – Outras Palavras

O primeiro-ministro de Israel, Benyamin Netanyahu alcançou uma expressiva vitória eleitoral em Israel, em 17 de março. Conseguiu isso fazendo dois pronunciamentos públicos de última hora. O primeiro foi de que não haveria Estado Palestino enquanto fosse presidente. Com isso, renegou formalmente seu compromisso com uma solução de dois Estados, para as negociações entre o governo de Israel e a Autoridade Palestina. O segundo pronunciamento foi para “alertar” os eleitores para um comparecimento significativo dos árabes nas eleições. Isso, é claro, foi pura demagogia – mas funcionou.

Ele manteve-se como o mais bem sucedido político israelense das últimas décadas. Mas foi tudo cuidadosamente calculado. A história teve início algumas semanas antes, quando as pesquisas revelaram um aumento significativo das intenções de voto na chamada União Sionista, encabeçada por Isaac Herzog, líder do Partido Trabalhista, de centro-esquerda. Esse grupo evitou cuidadosamente manifestar-se sobre os palestinos, exceto dizer que iria reiniciar as negociações. Em vez disso, construiu sua campanha em torno de questões econômicas exclusivamente internas, prometendo mais benefícios sociais.

Primeiro, Netanyahu respondeu a um convite (possivelmente provocado) do presidente do Congresso dos EUA, John Boehner, para participar de uma sessão conjunta do Legislativo. Isso significou uma intromissão de um chefe de estado estrangeiro na política dos EUA, completamente sem precedentes. O presidente Obama ficou muito contrariado e recusou-se a encontrar com Netanyahu durante sua breve visita aos Estados Unidos.

Netanyahu falou a uma audiência entusiástica de republicanos, ao mesmo tempo em que ocorria um certo boicote na participação dos democratas. O objetivo do primeiro ministro era motivar os judeus israelenses a não votar em outros candidatos de direita no primeiro turno das eleições, e lançar a ideia do “voto útil” em Netanyahu. Nisso, ele foi extremamente bem sucedido.

É claro que, nesse processo, ele se colocou em posição profundamente antagônica a Obama, levado a declarar que os Estados Unidos teriam agora de reavaliar suas relações com Israel. Netanyahu então recuou ligeiramente em sua declaração sobre novas negociações com os palestinos, e desculpou-se por instigar o medo quanto ao comparecimento dos árabes nas eleições. Obama não se mostrou apaziguado, e disse que levou a sério as palavras anteriores de Netanyahu sobre uma solução de dois Estados.

E o que acontecerá agora?, pergunta todo o mundo. Um pouco antes das eleições, um grupo de destacadas figuras ligadas à segurança de Israel afirmou, em pronunciamento, que a abordagem de Netanyahu estava na verdade alienando os Estados Unidos, e isso era terrivelmente negativo para o futuro de Israel como Estado judeu. Estavam certos? A resposta é sim e não.

Comecemos pelo dilema básico da maioria dos israelenses judeus. Eles não desejam nem dois Estados nem um Estado, como resultado das negociações com os palestinos. Sabem que uma solução de dois Estados requer a retirada das colônias judaicas construídas em território palestino após 1973, assim como a possibilidade de ao menos alguns palestinos retornarem do exílio – o que consideram inaceitável. E, dada a evolução demográfica, temem que a solução de dois Estados seja apenas o retardo da solução de um Estado. Quanto à solução de um Estado, ela significa renunciar à ideia sionista básica de um Estado judeu. Confrontados com esse dilema, apreciam a estratégia de Netanyahu: retardar, retardar, retardar! E, se alguém tentar forçar o caminho, manter-se de prontidão para lutar militarmente contra qualquer adversário que se coloque como uma ameaça imediata.

Há contudo um problema básico com essa estratégia: ela está tensionando a paciência do mundo, e mais criticamente a paciência daqueles que têm sido relativamente os fieis apoiadores das posições do governo de Israel – os grandes Estados europeus, a Autoridade Palestina, a assim chamada opinião árabe moderada, e sim, até mesmo os Estados Unidos. Houve uma transformação mundial na percepção de Israel, de “vítima” para “perseguidor”. Isso significa um pesadelo para a causa sionista. Apenas piora as coisas para Israel. Pode inclusive levar a um ponto, talvez daqui a poucos anos, em que os Estados Unidos não quererão vetar resoluções críticas a Israel no Conselho de Segurança da ONU.

Então, duas coisas podem acontecer. O mundo pode assistir a uma grande reavaliação das verdades que chegam de todos os lados, como parece ter acontecido na África do Sul. Esta reconsideração permitiu uma grande mudança política, combinada com uma pequena mudança econômica. No entanto, não envolveu derramamento de sangue. Ou então, isso pode não acontecer. E haverá uma grande guerra, em que os judeus israelenses vão usar toda a sua força militar para derrotar qualquer coisa como uma outra intifada.

A mensagem de Netanyahu é clara. Prefere uma grande guerra, assim como as pessoas que o elegeram.

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