Depois
de nove horas "retidos" na cadeia de Calomboloca (Bengo), o
jornalista Nelson Sul D'Angola e quatro ativistas angolanos foram libertados na
noite desta quarta-feira (22.07). Eles serão ouvidos por procurador.
O
jornalista Nelson Sul D'Angola, correspondente da DW África em Angola, tinha se
deslocado à unidade prisional de Calomboloca, na província do Bengo nos
arredores da capital Luanda, durante a manhã de quarta-feira (22.07). Esteve na
companhia de uma comitiva do Grupo de Apoio aos Presos Políticos Angolanos
(GAPPA), para visitar sete dos 15 jovens em prisão preventiva, desde o final de
junho, acusados de prepararem um golpe de Estado.
A
visita foi impedida. Nelson Sul D'Angola e quatro ativistas angolanos – Rafael
Morais e Pedro Narciso, da SOS Habitat, e João Malivendele e Jesse Lufendo, da
OMUNGA – passaram ainda o dia "retidos" pelas autoridades.
O
jornalista angolano foi acusado de "ter tirado fotos da fachada do
estabelecimento prisional e de ter feito entrevistas" com os ativistas.
Já
os quatro ativistas, que também passaram o dia "retidos", são
acusados de "pretenderem fazer política no estabelecimento
prisional". Todos tiveram os seus telemóveis apreendidos, bem como os
equipamentos de trabalho do jornalista e os haveres dos ativistas da OMUNGA e
da SOS Habitat.
Esta
quinta-feira (23.07), o jornalista e os quatro ativistas angolanos terão de se
apresentar ao Comando Municipal de Icolo e Bengo para serem ouvidos por um
procurador.
Em
entrevista à à DW África, André Augusto, da organização não-governamental SOS
Habitat, contou o que aconteceu.
DW
África: Que relatos ouviu sobre as "retenções" do jornalista Nelson
Sul D'Angola e dos ativistas angolanos?
André
Augusto (AA): As organizações decidiram fazer uma visita aos nossos jovens
ativistas que estão presos há mais de um mês na cadeia de Catete. Então, os
técnicos ligados ao grupo de acompanhamento aos presos políticos deslocaram-se
para a cadeia de Calomboloca para visitar sete jovens, dos 15 que estão presos
há mais de um mês. Postos lá, portanto, acabaram por também estarem privados da
sua liberdade.
DW África:
Por quanto tempo eles estiveram "retidos"?
AA: Ficaram
"retidos" das 12 horas às 21 horas [tempo local de Angola]. Só foram
colocados em liberdade às 21 horas. Às 12 horas foi o último momento em que se
conversou com o Rafael [Morais]. Perdemos já a comunicação com ele, eram cerca
de meio-dia.
Ao
meio-dia, ele mandou a mensagem de que o jornalista Nelson Sul D'Angola tinha
sido detido e estava sob o interrogatório lá na esquadra de Calomboloca. Só às
21 horas e 30 minutos é que conseguimos ter a nova notícia de que eles tinham
sido colocados em liberdade.
DW
África: Como é que se encontram o jornalista e os ativistas neste momento?
AA: Eu
conversei com o sr. Rafael e ele está bem, mas informou que aconteceram muitas
coisas que ele poderá contar esta manhã. No entanto, depois que foram detidos,
lhes foram retirados os telemóveis. Parece que os policiais mexeram nos
telemóveis de maneira que, ao saírem da cadeia, não os possibilitou voltar a
ligá-los para poderem se comunicar conosco.
DW
África: O que irá acontecer esta quinta-feira (23.07)? Vão ser ouvidos por um
procurador. O que se pode esperar?
AA: Nós
estamos preocupados com a situação, porque está a torna-se cada vez mais
perigosa - numa altura em que se invoca estarmos num país de direito
democrático, onde as pessoas teriam o direito de exercer livremente os seus
direitos. Mas, infelizmente, não sei por onde anda a cabeça deste Governo.
Continua, então, a impedir, as liberdades e garantias fundamentais dos
cidadãos.
Logo,
é mais uma liberdade de alguns indivíduos que foi, portanto, impedida. Porque
visitar alguém que está detido numa cela, numa cadeia, não é crime. Isto é
preocupante numa altura em que estamos a nos aproximar das eleições, em 2017, e
este Governo começa a comportar-se dessa forma.
DW
África: O jornalista Nelson Sul D'Angola foi acusado de "tirar fotografias
e entrevistar os ativistas". Os quatro ativistas das organizações
angolanas – SOS Habitat e OMUNGA – foram acusados de estar a "fazer
política no estabelecimento prisional". Eles confirmam ou desmentem essas
acusações?
AA: Nós
ainda não conseguimos conversar de uma forma amena com os nossos amigos que
estavam "retidos", pelas razões já aqui invocadas. Mas hoje [23.07],
teremos uma boa informação sobre o que aconteceu.
A
informação que me foi dada pelo Rafael é que ainda hoje voltarão a Catete para,
se calhar, tratar de algumas questões. Mas mesmo nós, também tivemos
dificuldade de nos comunicar com eles.
Depois
de saírem da cadeia, quer o Nelson Sul D'Angola, como o Jesse Lufendo, o Pedro
[Narciso] e o Rafael Morais, estiveram todos com os telefones desligados.
Desconfio que na altura em que foram retidos, os policiais terão mexido nos
seus telemóveis.
Glória
Sousa / Cristiane Vieira Teixeira – Deutsche Welle
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