sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Os políticos, em vez de fazerem promessas, deviam assumir compromissos… Se fossem homens



Bom dia. Expresso Curto bem servido por Ricardo Costa, o senhor diretor, do Expresso. Expresso reconfortante, saboroso. Quando não é assim e tem um sabor esquisito é por causa da máquina – tem dias que não funciona tão bem. Sem mais, siga a sugestão de Ricardo quando escreve: “hoje é dia de andar de bloco na mão” – talvez para anotar as mentiras que dizem na campanha. Estes políticos em vez de fazerem promessas deviam assumir compromissos… Se fossem homens e mulheres de palavra. Sabemos que não são. Na tal PaF a escala rebenta e transbordam os salafrários, com Passos Coelho e Paulo Portas no primeiro lugar do pódio. Nem é preciso anotar.

Aproveite a temperatura amena. Ao menos isso. Se não passar muita fome, se ainda tiver um abrigo, uma casinha, as perspetivas de passar um bom dia serão algumas. Que assim seja. Mas não se distraia. As feras andam por aí, sorrindo e a rugir pela surra, contendo os apetites para nos devorarem ainda mais… se voltarem a ser governo. Pense bem no que vai fazer, ao votar. Pela sua rica saúdinha (a que restar).

Redação PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Ricardo Costa, diretor - Expresso

Défice, rating, sobretaxa e sondagens: quando os números irrompem na campanha

Hoje é dia para andar de bloco na mão, tantas são as novidades para anotar. É bom que o bloco seja quadriculado porque estamos a falar de números.

Vamos por ordem. Primeiro há os números da execução orçamental, normalmente uma enorme maçadoria para a maior parte dos portugueses. Em campanha eleitoral as coisas são diferentes, porque qualquer bom número levará Passos Coelho ePaulo Portas a repeti-lo à exaustão frente a um palanque. E depois toda a oposição a responder num pingue-pongue que se prolonga fim de semana fora.

Desta vez não é só a campanha que fica alterada com novos números orçamentais. É que a devolução da sobretaxa do IRS em 2016 decorre diretamente dos resultados da receita fiscal que hoje vão ser anunciados. E se as coisas estiverem a correr bem no IRS e no IVA, ainda hoje o governo vai poder anunciar que a percentagem da sobretaxa a devolver vai subir mais um pouco. Mais uma discussão que se prolonga fim de semana fora.

Terceiro número: a nossa velha conhecida Fitch revê hoje o rating da República. Nem vale a pena dizer o que se passa depois desse anúncio se confirmar. Os dois parágrafos anteriores aplicam-se igualmente a este.

Chegamos, então, ao quarto tipo de números, agora sob a forma desondagens: ao meio-dia o Expresso e a SIC Notícias libertam a sua sondagem semanal, com 1500 entrevistas validadas. Mais pela hora do jantar e noite fora, chegam as sondagens diárias da TVI/Publico/TSF, da RTP e também do Correio da Manhã (veja os dados nos links).

Embora os números e os métodos variem bastante, as coisas estão a correr mal ao PS e a coligação PSD-CDS começa a ganhar alguma distância e, sobretudo, a saltar a barreira psicológica do empate técnico. Sobre as sondagens e o que elas nos dizem já escrevi este texto ontem no Expresso Diário (Duas ou três coisas sobre sondagens).

Farto de números? Vamos ao Direito, uma ciência tão inexata como a Economia e as sondagens. Ontem foi um dia em cheio para José Sócrates e as ondas de choque ainda vão no princípio. A defesa do ex-primeiro ministro não conseguiu tudo o que queria, nomeadamente sobre os prazos do processo, que segundo os dois juízes da Relação de Lisboa estão a ser cumpridos.

Mas o acórdão dos juízes Rui Rangel e Francisco Caramelo é muito duro para Carlos Alexandre e Rosário Teixeira. O Diário de Notícias tem o trabalho mais extenso e detalhado sobre o acórdão e cita passagens que vão dar muito que falar.

Esta, por exemplo: “"toda esta autoestrada do segredo, sem regras, passou sem qualquer censura pelo juiz de instrução, desprotegendo de forma grave os interesses e garantias da defesa do arguido, que volvido tanto tempo de investigação, continua a não ser confrontado, como devia, com os factos e as provas que existem contra si”.

Outra: “(que a defesa) não seja vítima dos truques e de uma estratégia dos investigadores”.

Uma última citação: “Ser dono do inquérito não significa que se pode tudo, mesmo fazendo coisas sem qualquer fundamento legal”.

A defesa já anunciou que vai hoje pedir a libertação imediata de José Sócrates e o Ministério Público tem agora dez dias para recorrer. Só depois dessa data é que a defesa pode ter acesso ao processo.

OUTRAS NOTÍCIAS

O Diário Económico tem uma curiosa entrevista com Teixeira dos Santos, que afirma que as políticas do programa do PS “são arriscadas”. Hum… Tenho uma vaga impressão que uma larga maioria dos portugueses acha que Teixeira dos Santos teve uma governação, como é que hei de dizer… arriscada. E que aquele aumento dos funcionários públicos em 2009, com as eleições à bica, foi, digamos… arriscado. Mas se calhar estou enganado. O risco não é a minha profissão. Adiante.

O Jornal de Negócios noticia que o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem não deu razão a uma queixa de uma pensionista portuguesa e considerou os cortes nas pensõeslegítimos, por defenderem o interesse público.

O escândalo da Volkswagen prossegue em grande velocidade, num caso que a muitos economistas alemães garantem poder causar a Berlim danos muito superiores a qualquer das versões da crise grega. O gigante automóvel deve anunciar hoje o seu novo CEO.

A respeitada revista The Economist já escreve que este caso pode abrir a porta para a aceleração da produção de carros elétricos em todo o mundo.

O Papa Francisco prossegue a sua visita aos EUA, depois de um histórico discurso no Congresso americano. Agora é a vez de Nova Iorque.

Obama e Putin estão finalmente prontos para falarem sobre a Síriae a Ucrânia. Vão passar culpas, claro, mas também não têm como resolver os assuntos sem contar com o outro.

Em Meca, as autoridades sauditas, sempre tão bem compreendidas e percebidas pelo Ocidente, embrenham-se em explicações bizarras sobre uma tragédia que ontem fez 717 mortos. Parece que a culpa é toda dos peregrinos.

A Europa continua baralhada com a crise dos refugiados e migrantes, agora com os países de Leste a mostrarem a sua linha dura e com pouca vontade de transigir.

Nos desportivos, a tinta corre sobre o regresso de William Carvalho, para satisfação dos sportinguistas, e da blindagem do contrato de Brahimi, para alegria dos portistas. Nota para o regressado Fábio Coentrão, agora no Mónaco, e que ontem esteve em grande numa reviravolta (2-3).

O Mundial de Ruguêbi prossegue em Inglaterra, na terceira prova desportiva mais vista nas televisões em todo o mundo, depois dos Jogos Olímpicos e do Munidal de futebol. Ontem os imbatíveis neozelandeses passaram a ferro a Namíbia, mas a forma heroica como uma equipa com muitos jogadores amadores se defendeu valeu uma bela crónica do Guardian.

Aconselho os fanáticos do futebol a espreitarem um jogo do mundial de raguêbi este fim de semana (está a ser transmitido na Sport TV) para verem como as novas tecnologias e o vídeo-árbitro podem ser usados num desporto que se joga em estádios com mais de 80 mil espetadores e tem transmissão mundial.

FRASES

“José Sócrates e Ricardo Salgado a votar fora de casa perturbam o ato eleitoral”. Jorge Miranda ao jornal i.

“A Europa não existe ou existe apenas sob a forma de subsídios, que diminuem de ano para ano”. Vasco Pulido Valente no Público.

“A partir de agora jogo limpo e cartas na mesa”. João Araújo, advogado de José Sócrates
“Quem levanta muito a caça e não segue nenhuma, não é muito que se recolha de mãos vazias”. Pe. António Vieira citado no acórdão da Relação de Lisboa e recitado por João Araújo.

O QUE EU ANDO A LER

Primeiro um livro pequeno mas muito útil que convém ter à mão nestas alturas: Sondagens, Eleições e Opinião Pública, de Pedro Magalhães. É um excelente ensaio publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, muito acessível na escrita e no preço (€4.50) e que explica e desmistifica muito do que se discute nestas alturas em que chovem sondagens.

Ainda do mesmo autor, e para quem tiver ou mais pressa ou menos tempo, sugiro que passe os olhos pelo blog Margens de Erro. Os posts mais recentes e até algumas republicações oportunas ajudam a explicar e a por no devido lugar muito do que andamos a falar.

Como a minha vida, felizmente, não é só feita destes temas, aproveito para recomendar a leitura de um livro em que peguei pela primeira vez na semana passada para me preparar para a moderação de uma conferência com o Padre José Tolentino Mendonça, colunista da Revista do Expresso e um dos sacerdotes e poetas que mais nos ajudam a pensar.

Na quarta-feira à noite estive ao seu lado na Biblioteca de Oeiras para o ouvir falar do Decameron, de Boccaccio. Tolentino Mendonça tem o dom da palavra e não teve dificuldade em agarrar a audiência para falar de uma obra que foi proibida muito tempo pela Igreja Católica e que hoje é de leitura obrigatória nos liceus italianos.

Decameron (que tenho na edição da Relógio D’Água, com tradução de Urbano Tavares Rodrigues) é um livro de estrutura rígida, mas de leitura fascnante e fácil. Aqueles dez dias em que se contam a cada dia dez contos são as nossas (do Ocidente) Mil e Uma Noites. São cem contos contra a peste que assola Florença, páginas de rutura que marcam o fim da Idade Média e o advento de um novo tempo.

Como as palavras de Tolentino são sempre melhores que qualquer imitação, acabo com uma citação dele: “O Decameron é um livro dirigido às vítimas do amor de todos os tempos”. Não vale a pena dizer mais nada.

Chegam as despedidas e o desejo de um bom dia, onde, já sabe, vão chover números. Se quiser saber de tudo à medida que acontece é só seguir-nos no Expresso Online. Ao fim da tarde publicamos mais um Expresso Diário, com informação e opinião consolidada sobre tudo o que se passou no dia. Amanhã o Expresso está nas bancas e segunda-feira o Nicolau Santos assina mais um Expresso Curto, enquanto se prepara para a sua festa de 35 anos de carreira, uma coisa épica entrecortada por jazz e poesia.

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