quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Portugal. O LÍDER PORTAS ACABOU, O CDS NÃO SABEMOS



Ana Sá Lopes – jornal i, opinião

O tempo de Paulo Portas no CDS acabou. Mesmo para a fénix mais bem sucedida da política portuguesa haveria um dia em que as coisas teriam que acabar. Portas fez bem: depois de António Costa ter conquistado o governo com a “gerigonça” (expressão inventada pelo melhor inventor de expressões, Portas, lui-même), o CDS obteve uma derrota política

Que ficava a fazer Paulo Portas à frente do CDS depois de uma derrota política, que se seguia a um ciclo em que, no governo, o CDS tinha estraçalhado a confiança de muito do seu antigo eleitorado, os pensionistas e idosos? Como vê muito mais à frente do que todos os outros, Portas percebeu, assumiu e interiorizou a derrota da direita nas eleições de 4 de Outubro. Sim, a coligação ficou à frente, mas não está no governo porque não tem apoio para isso e, em consequência, acabou o processo com uma pesada derrota.

Portas conduziu o CDS aos píncaros, levando-o a participar em três governos. Rejuvenesceu o partido, tornou-o um bocadinho menos conservador, deu-lhe causas depois das velhas causas que o criaram no pós 25 de Abril se terem esgotado – falamos da defesa da propriedade privada, do liberalismo económico e da oposição ao “comunismo”. Com uma inteligência invulgar, uma capacidade de comunicação incomparável à direita – sim, há Marcelo Rebelo de Sousa que está prestes a tornar-se Presidente da República – Portas não deve acabar a sua vida política por aqui. É verdade que era o líder partidário há mais anos em funções – desde 1998 – mas tem pouco mais de 50 anos, uma idade em que ninguém se reforma.

Portas é um animal político. Como jornalista sempre foi um animal político. É um animal político desde a adolescência. Os animais políticos podem hibernar uns tempos mas só morrem de morte natural.

Se a saída de Portas era necessária para terminar um ciclo, resta saber que CDS vai existir depois de Portas. Os cemitérios estão cheios de insubstituíveis, mas há uns mais insubstituíveis que outros.

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