segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Os gregos nunca se viram tão gregos, nem os portugueses, nem outros povos


Há muito que sabemos que os gregos se têm visto gregos com a “crise”. Coisa que por lá foi provocada por uma chusma de fatores, como cá e pelo mundo, sendo a principal as vigarices e roubos de banqueiros e outros vigaristas, alguns até primeiro-ministro e ministros. Foi (e ainda é?) um fartar vilanagem. Há empresários, associados à alta finança, pelo mundo inteiro e também na Grécia e em Portugal, que continuam na sua senda de vigarizar e roubar os povos. Quase sempre com absoluta impunidade. Lá cai um ou outro para “tapar” os olhos aos plebeus. Afinal eles são todos muito honestos, exceptuando uns quantos. Só que os “quantos” aproximam-se em números da maioria. Governantes idem e outros criminosos que andam por aí de gravatas e colarinhos brancos. Uns pestes para a sociedade que se quer justa e democrática. Não escapa em tudo isto iguais exemplos no próprio sistema da justiça. A corrupção e os crimes económicos de toda a espécie são endémicos e situam-se alapados à alta finança e à denominada alta sociedade. Quer dizer: aqueles e aquelas que se prestam a vigarizar e a roubar tendo por seguro a impunidade - ponto e adiante que se faz tarde.

Certo é que os gregos nunca se viram tão gregos como nestes últimos anos, nem os portugueses, nem os do sul da Europa. Até parece que foi uma “bomba” com destino exato lançada a propósito. E depois na UE chamaram-nos PIGS. Quando porcos afinal são aqueles que roubam e vigarizam. Os do costume, na UE e pelo resto do mundo.

É precisamente sobre a Grécia a abertura do Expresso Curto de hoje. Lavra de Pedro Cordeiro, do Expresso. Segunda-feira, verão realmente, calor, modorras após o almoço (para os que almoçam), umas sestas que até apetecem mas que para a maioria não pode acontecer. Devia acontecer com as previsões de calor mas não…

Do Curto há muito para ler. Consideramos que já esgotámos a nossa lauda de abertura do PG para este mesmo Curto. Quando não jamais teriam paciência para tanta lenga-lenga. Não com este calor que já faz nesta manhã.

Avancem para este Curto, então. Sem mais delongas provocadas por nós. Bom dia. Boa semana. Boas festas aos… Já sabem: os animais que passam por nós estão primeiro. Os de quatro patas. Claro. Aos outros, nossos semelhantes, é melhor dar tempo ao tempo para não sofrermos prejuízos nem desilusões. Vamos com calma e na paz que o senhor Costa  primeiro-ministro e o senhor Marcelo PR nos impingem… por bem. Então está bem. Pois. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

O sol quando nasce (também) é para os gregos

Pedro Cordeiro | Expresso

Bom dia! Começo a semana no Oeste a olhar para leste, não só porque veio desse lado o nascer do sol a que a preparação deste Expresso Curto me permitiu assistir mas porque é a oriente que fica a Grécia, berço da democracia e país que hoje fica mais livre (mas ficará?). Termina esta segunda-feira o resgate da República Helénica, iniciado há oito anos na sequência da crise da dívida soberana que pôs em risco a moeda única europeia.

Tropeço, também para levante mas mais perto, nesta notícia de última hora vinda da Catalunha: a polícia regional catalã matou a tiro um argelino que invadiu a esquadra de Cornellà de Llobregat (arredores de Barcelona) munido de arma branca e a gritar “Deus é grande” em idioma árabe. Passou-se isto pouco antes das seis da manhã.

Voltando à Grécia, após três pacotes de ajuda financeira num total de mais de 300 mil milhões de euros, foi possível converter o défice de 15,4% do PIB (2009) num superavit de 0,8% (2017), mas à custa de uma contração de 25% da economiagrega e muito graças a aumentos de impostos que minam o crescimento. O Governo grego encabeçado pelo Syriza (aliança esquerda radical), o tal que resultou da zanga do povo com os partidos ditos “do costume” mas acabou por seguir exatamente a mesma cartilha (troika 1-Varoufakis 0), celebra uma “saída limpa” (onde é que eu já ouvi isto?), mas o jornal “I Kathimerini” alerta que “poucos gregos acreditam que as suas vidas vão melhorar ou que as perspetivas do país se assemelharão às dos demais países resgatados da Zona Euro”.

Persistem dificuldades de acesso aos mercados internacionais; a austeridade não vai acabar, prevendo-se novos cortes nas pensões já em janeiro, uma de várias medidas que visam excedentes primários de 3,5% até 2022 e que se estenderão pela próxima década; os credores permanecerão alerta; o crescimento económico ainda é débil (menos de 2% este ano); os bancos estão pejados de ativos tóxicos; e as reformas estruturais ficaram por fazer, sobretudo no combate à corrupção e à fraude fiscal.

“The Guardian” também desaconselha euforias pela partida das “instituições”, que é como quem diz o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, que, a seu ver, “governam o país na prática desde 2010”. Não houve, escreve o diário britânico, história de sucesso, tributo à solidariedade ou abordagem de bom senso, antes um “falhanço colossal” pautado por “incompetência, dogma e atrasos desnecessários, com os interesses dos bancos colocados à frente das necessidades das pessoas”. Recorde-se que o objetivo inicial era que a Grécia recuperasse o acesso aos mercados num prazo de dois anos, o que nem remotamente foi alguma vez possível, sentencia o editor de Economia, Larry Elliott.

Recomendo, por fim, este vídeo do “Financial Times” que resume em menos de dois minutos o estado da economia grega: 20% de desemprego (mais do dobro do valor pré-crise) e quebra de 70% no investimento, naquele que é hoje o quarto país mais pobre da União Europeia, à frente da Bulgária, Croácia e Roménia, os mais recentes Estados-membros. Nada que ver, frisa o “Público”, com o fim do programa de reajustamento português. Já agora, leia-se o que tem a dizer a revista “The New Yorker” sobre os dez anos da crise global, de um ponto de vista americano.

Para o ano há legislativas na Grécia e as sondagens parecem favorecer a Nova Democracia, partido de centro-direita que foi um dos responsáveis pelo estado a que o país chegou há oito anos. O outro, o socialista PASOK, após a implosão do seu eleitorado, diluiu-se numa aliança de centro-esquerda a quem são vaticinados 8,5% dos votos. À espreita está sempre a neonazi Aurora Dourada (10% nas sondagens) e longe parecem os sons da canção velhinha em que o greco-egípcio-francês Georges Moustaki traça paralelos entre a sua Grécia e Portugal, libertados da ditadura em 1974.

OUTRAS NOTÍCIAS

Olhando agora cá para dentro, vão-se sabendo mais dados sobre a morte do empresário Pedro Queiroz Pereira, sábado, aos 69 anos. O homem mais conhecido por PêQuêPê terá morrido no seu iate, então ancorado em Ibiza, depois de cair de umas escadas, escreve um jornal local. A queda pode ter sido provocada por um ataque cardíaco. Aguardam-se os resultados da autópsia. O Expresso recorda o percurso do falecido e republica uma entrevista de há dois anos em que este frisava a coragem necessária para investir em Portugal. O Observador perscruta as origens da sua fortuna e evoca a guerra com o BES, que ajudou ao colapso do banco de Ricardo Salgado.

Desapareceu também Rui Alarcão, antigo reitor da Universidade de Coimbra (1982-98) que o Público retrata.

Não querendo dar a este Expresso Curto aromas de câmara ardente, cabe ainda relembrar, neste texto da “The New Yorker”, o grande homem que foi Kofi Annan, sétimo secretário-geral das Nações Unidas, desaparecido no sábado aos 80 anos. É impressionante a atualidade de uma conversa entre o ganês e o Expresso há dez anos.

Na frente desportiva, e quando só falta jogar o Vitória de Guimarães-Feirense, a primeira liga de futebol é liderada, à condição, pelo Futebol Clube do Porto, campeão em título. Os dragões venceram ontem o Belenenses na sua casa emprestada (Estádio do Jamor) por 3-2, com um penálti em tempo de descontos (96 minutos), como conta o Diogo Pombo. Um dia antes, o Benfica vencera o Boavista por 2-0, no Bessa, e o Sporting dera-se bem (2-1) na receção ao Vitória de Setúbal. Ainda no que toca aos leões, o Record resume um debate entre os inúmeros candidatos à liderança do clube (sem a participação d’Aquele-Que-Não-Pode-Ser-Nomeado). Para a semana há dérbi lisboeta, sábado às 19h.

O ex-diretor da CIA John Brennan admite processar Donald Trump depois de o Presidente dos EUA lhe ter retirado as autorizações de acesso a informação de confidencial, um gesto sem paralelo relacionado com a investigação em curso às ligações russas da campanha que o levou à Casa Branca. “Foi um claro sinal de que se alguém se lhe opuser, ele utilizará todas as ferramentas à sua disposição para o castigar”, acusa o homem que liderou os serviços secretos externos entre 2013 e 2017.

Austeridade à paquistanesa. O novo primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, quer fazer os ricos pagar mais impostos (menos de 1% da população paga imposto sobre o rendimento) e anunciou um esforço de redução da dívida, para acabar com “o mau hábito de viver de empréstimos e ajuda de outros países”. Empossado no sábado, vai vender a frota de carros governamentais à prova de bala e propõe-se viver numa casa simples, não no palácio que lhe é oficialmente destinado, e contentando-se com dois empregados em vez dos 524 a que teria direito. Ao mesmo tempo, promete combater a pobreza, a iliteracia e as alterações climáticas. Causou alguma surpresa a escolha de muitos membros do Executivo vindos da equipa do ditador militar Pervez Musharraf (2001-2008).

O descambar da situação na Venezuela e na Nicarágua, onde a democracia se desmorona e a insegurança galopa, gera ondas migratórias recebidas com dificuldade nos vizinhos Peru, Colômbia, Brasil ou Costa Rica, cujos governos tentam lidar com o influxo de pessoas desesperadas e conter a pouco surpreendente reação popular xenófoba. Da Venezuela de Nicolás Maduro terão fugido já 2,3 milhões de pessoas, calcula a ONU. O país prepara-se para ver cair cinco zeros de todos os preços, num plano económico que não deverá paliar os graves problemas que fazem alastrar a pobreza numa nação rica em recursos naturais e humanos.

Faz amanhã meio século que a União Soviética esmagou a Primavera de Praga, nome por que ficou conhecida a tentativa de reforma política na Checoslováquia liderada por Alexander Dubček, que almejava por um “socialismo de rosto humano”. Democratizado em 1989, dividido em 1993 entre Chéquia e Eslováquia, o país (ou os dois a que deu origem) ainda não vive em paz com o peso do que foi a presença da URSS e do que é hoje a influência da Rússia. “The Guardian” aborda o tema e propõe uma galeria fotográfica sobre os acontecimentos de 1968.

Nesse mesmo ano, recorda o “Observador”, Salazar remodelava pela última vez o seu Governo, já depois da queda e antes da cirurgia que o afastaria para sempre do poder.

Em vésperas do casamento de mais uma neta da rainha Isabel II (Beatriz, filha do príncipe André), “The Washington Post” refere o recente enlace entre Ivar Mountbatten, primo da monarca, e o seu namorado James Coyle (em jeito muito moderno e aberto, o aristocrata será levado ao altar pela sua ex-mulher). O periódico americano aproveita para recordar a longuíssima história da homossexualidade na família real britânica, em que um dos casos mais destacados (e com influência na condução política do país) foi o do rei Eduardo II, no século XIV.

MANCHETES DE HOJE

JN: Fatura da luz é a segunda mais cara da Europa
Público: Inspetores da Educação caíram 40% desde 2001
i: Mais de mil guardas “transformados” em bombeiros deixam GNR sem patrulhas
Correio da Manhã: SMS de Bruno incendeia balneário
Negócios: Emprego no imobiliário duplicou em três anos
O Jornal Económico: Ministra do Mar tem 600 milhões para financiar economia azul

O QUE EU ANDO A LER

Num percurso que volta à Grécia com que este texto começou, tem-me acompanhado neste verão a biografia de Leonard Cohen, “I’m your man”, por Sylvie Simmons. Meio milhar de deliciosas páginas com histórias da vida e da arte deste santo do meu altar, que morreu há quase dois anos. Com fotos curiosas e depoimentos copiosos dos muitos com quem se cruzou (de Judy Collins a David Crosby), esta obra de 2012 só deixa de fora o último disco e a doença final do poeta e músico, de resto cobertos num soberbo texto de 2016 de “The New Yorker”. Tenho para mim que Cohen devia ter recebido o Nobel de Dylan, mas não vou amargar, que ele não ligava muito a isso. Tive a sorte de vê-lo três vezes ao vivo. Hallellujah.

O QUE EU ANDO A VER

Na capela do Rato até 9 de setembro, é favor não perder a instalação “Perto do Chão”, de Carlos Nogueira (nota de transparência, somos amigos). O artista transformou aquele espaço de culto de forma capaz de nos suscitar um estremecimento de alma, e mais não digo.

Boa semana, sigam toda a atualidade no Expresso online e aguardem pelo Diário às 18h. Amanhã de manhã, novo Curto a fumegar… sejam felizes!

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