quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Angola | A MISSÃO AMERICANA APEDREJADA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

NO dia 4 de Fevereiro de 1961 os revolucionários do MPLA apontaram armas ao coração do colonialismo. Nasceu naquele momento a matriz da luta do Povo Angolano, segredo de todas as vitórias do MPLA, até ao dia 24 de Agosto de 2022. Os colonos puseram Luanda a ferro e fogo. Atacaram a Sé Catedral (igreja dos Remédios), prenderam o cónego Manuel das Neves e mataram milhares de luandenses indefesos. A fúria dos nazis abateu-se sobre a Igreja. D. Moisés Alves de Pinho (fundador do jornal O Apostolado), arcebispo de Luanda, ousou defender os seus padres que aderiram à luta.

Poucos dias depois, em 15 de Março de 1961 rebentou no Norte de Angola a Grande Insurreição liderada pela UPA de Holden Roberto. Eu estava lá e assisti a horrendos crimes cometidos pelas milícias, mobilizadas e armadas pelos colonos ricos, comandados pelo governador Hélio Felgas, contra civis. Centenas de mortos nas ruas. Em frente ao internato do colégio que frequentava havia um terreno baldio. Estava juncado de mortos. Gente que apenas queria fugir da violência assassina.

Em Maio cheguei a Luanda e fiquei internado no centro de refugiados, criado na antiga casa de saúde do Dr. Machado Faria. Ali mesmo ao lado (do outro lado da rua é o Hotel Trópico) ficava a nova Missão Americana, um edifico muito bonito, com belos vitrais. O templo estava vandalizado! Os colonos em fúria vingaram-se dos revoltosos do Norte de Angola, apedrejando a Missão Americana. Era assim que chamavam ao templo da Igreja Metodista Unida. Porque os líderes religiosos eram quase todos cidadãos norte-americanos.

Quando os colonos ficaram saciados de violência e morte, o templo foi reabilitado, os vitrais reconstituídos e abriu as portas ao culto. Não para mim que estou de relações cortadas com deus, desde pequenino. Mas a “missão” era e é um edifício majestoso. Ver tudo partido como eu vi em 1961, foi uma dor de alma.

Aproveito para dizer que um dia fui convidado a participar numa acção de formação para jovens estudantes de comunicação social. Dentro do templo. Estando de relações cortadas com o dono da casa, não aceitei. Mas as insistências foram muitas e eu abri uma excepção. Gostei muito de conviver com aquela juventude, empenhada, avida de saber e educada. 

Em Outubro de 1972, a “missão americana” passou a ser dirigida por um bispo angolano, Emílio de Carvalho, uma figura eclesiástica que muito aprecio. Hoje foram comemorados os 50 anos (meio século. Estou mesmo a ficar velho!) do episcopado angolano na Igreja Metodista Unida. Fiquei muito contente quando vi nas comemorações o arcebispo Filomeno Vieira Dias que entrevistei quando era bispo de Cabinda e, informo quem não sabe, foi jornalista. Portanto, meu camarada de profissão. Um pensador notável!

Graças ao Presidente João Lourenço, o episcopado angolano da Igreja Metodista Unida fez hoje 50 anos. Graças ao Presidente João Lourenço, os metodistas apostam na educação e na cultura. Graças ao Presidente João Lourenço, o Presidente Agostinho Neto fez a sua formação, em criança e na adolescência, no seio dessa confissão religiosa. Para não lhe embaciar a imagem grandiosa, vou esconder que sua excelência é um filho pródigo. Começou na Igreja Metodista Unida. Tornou-se não praticante. Hoje voltou ao templo. É o padrinho!

Obrigado, camarada presidente.

Graças ao Presidente João Lourenço, Angola importa mais de 85 por cento dos combustíveis de que necessita. Sendo um país produtor de petróleo, este feito merece uma estátua. Parabéns a quem deixou cair de podre a refinaria de Benfica. Os meus sinceros parabéns a quem andou arrastando os pés em vez de construir rapidamente as refinarias do Lobito e de Cabinda. Os meus agradecimentos. 

Espero que não me levem a mal se explicar o porquê desta situação.

Em Angola, na nossa portentosa Angola, ninguém fica rico produzindo e vendendo o que produz. Para fazer fortunas colossais, de um dia para o outro, é preciso comprar. O segredo está nas compras. É a velha maka das comissões.

Vender um litro de gasolina processada nas refinarias de Luanda, dá uns tostões. Mas se o produto for comprado nos mercados internacionais, dá dinheiro como lixo a quem importa. 

A ONU, transformada em altifalante do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA), grita aos sete ventos que se a Federação Russa não deixar sair cereais da Ucrânia isso causa uma catástrofe mundial. Estes fantoches são surdos como pneus. De Moscovo veio uma denúncia terrível. Os cereais que saem da Ucrânia ficam praticamente todos na União Europeia. Nem um grão chega aos pontos do mundo onde campeia a fome.

Sendo a Ucrânia o oitavo produtor mundial de cereais, os outros produtores, nomeadamente os EUA, podem enviar imediatamente milhões de toneladas para onde há fome. Mas não mandam. Aproveitam a guerra para vender a mercadoria ao dobro do preço a quem pode pagar.

O Estado Terrorista mais perigoso do mundo (EUA), o Reino Unido e a União Europeia atacaram a armada da Federação Russa no Mar Negro. O outro lado nem hesitou, acabou com o acordo que permitia a exportação dos cerais ucranianos. Os políticos ocidentais estão a preparar tudo para que os pobres ucranianos (pobres mesmo, antes da guerra eram os mais pobres da Europa) continuem a morrer como moscas. Estão a conseguir, com imenso sucesso. A democraCIA deles vai de vento em popa. 

À hora que escrevo não conheço os resultados das eleições presidenciais brasileiras. Mas adorava amanhã poder escrever isto: 

Graças ao Presidente João Lourenço, o meu candidato, Lula da Silva, esmagou o fantoche da extrema-direita mundial. 

Obrigado, camarada presidente. Obrigado mesmo. O camarada Lula faz falta a Angola. Faz falta à CPLP. Faz falta â nova ordem mundial.

*Jornalista

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