quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

O REGRESSO AO COLONIALISMO ORIGINAL – Artur Queiroz


Artur Queiroz*, Luanda

O ministro das Relações Exteriores da Federação Russa, Sergey Lavrov, fez um discurso importantíssimo na África do Sul. Os Media mundiais, nem uma palavra divulgaram. Numa conferência de imprensa em Pretória, explicou as causas que levaram Moscovo a lançar na Ucrânia a operação militar especial. Nem uma palavra foi publicada. Em Luanda fez declarações que explicam o caracter neocolonial das acções do “ocidente alargado” na guerra contra a Federação R ussa por procuração passada à Ucrânia. Mereceram uma nota de rodapé em Portugal e ponto final.

“As relações entre a Rússia e Angola são históricas. Não estão sujeitas à conjuntura geopolítica e remontam à luta armada de libertação nacional do Povo Angolano. Esta relação baseia-se num espírito de solidariedade e de apoio mútuo. Os presidentes da Rússia e de Angola estabeleceram um objectivo, dar às nossas relações o carácter de uma parceria estratégica. Estamos a avançar, com confiança, em direção a esse objetivo”. Estras palavras são de Sergey Lavrov e foram dirigidas ao ministro das Relações Exteriores, Tete António. Espero que não tenham entrado nos seus ouvidos a cem e saído a duzentos à hora.

Assim falou Lavrov:  “O Povo Angolano sabe o preço da Independência Nacional e quanto custou exercer os seus direitos culturais, tradicionais e políticos (…) O mesmo conflito, baseado no desejo do povo de defender seus direitos legítimos, ocorre há algum tempo na Ucrânia, após um golpe de Estado armado e sangrento contra a Constituição. Nazis chegaram ao poder com o apoio dos EUA e seus aliados, incluindo aqueles que pediram publicamente o assassinato de russos, judeus e polacos”. 

E mais: “Apesar de todos os esforços, inclusive da Rússia, para deter este conflito, contrariamente aos acordos de Minsk, aprovados pelo Conselho de Segurança da ONU, o regime de Kiev prosseguiu uma política abertamente colonial em relação aos russos. A língua russa, Os Media, a educação na língua russa e a cultura foram proibidas”. Estas palavras foram ditas por Labrov no Ministério faz Relações Exteriores. Que parte não compreende, quem exige da Federação Russa “um cessar-fogo incondicional”?

A hora é de revelar tudo. E Sergey Lavrov, em Luanda, revelou: “O presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, disse há um ano e meio (muito antes do início da operação militar especial)  que os ucranianos que se sentem envolvidos na cultura russa devem ir para a Rússia. O Ocidente não reagiu a essas declarações racistas e neocoloniais. Além disso, os EUA e seus aliados exploraram o ódio oculto da Ucrânia a tudo quanto é russo para transformar o país num palco de ameaças directas à segurança da Rússia, estacionando lá grandes quantidades de armas e planeando a instalação de bases militares. O objetivo de atrair a Ucrânia para a OTAN foi proclamado abertamente. No início de 2022, o presidente Zelensky declarou as suas ambições de instalar no país armas nucleares. A fim de proteger a vida das pessoas que se recusaram a aceitar o domínio do regime neonazi, para garantir a própria segurança da Federação Russa, fomos forçados a lançar uma operação militar especial após oito anos de tentativas frustradas de forçar o regime de Kiev a cumprir os Acordos de Minsk, que nem a Ucrânia, nem a Alemanha, nem a França pretendiam cumprir. Recentemente, eles declararam isso abertamente”. Estas palavras de Lavrov respondem à hipocrisia reinante desde Helsínquia até Luanda.

Ian Bremmer, professor de ciências políticas da Universidade de Columbia, EUA, escreveu: “Não estamos numa guerra fria com a Rússia. Estamos numa guerra quente com a Rússia. Agora é uma guerra por procuração. E a OTAN não está lutando contra isso directamente. Estamos lutando contra isso através da Ucrânia.” Bremmer é colunista de assuntos estrangeiros e editor-geral da revista Time.  Colaborador permanente do Financial Times. Não é um apaniguado de Putin, Nem “pró russo”.  Pelo contrário, defende a posição maniqueísta “ou se é pelo Ocidente ou pela Rússia”. O Presidente João Lourenço, que parte desta declaração de Bremmer não percebe? 

Na Ucrânia, depois do golpe de estado nazi em 2014, ucranianos com laços históricos e familiares, tradições e crenças religiosas à Federação Russa foram excluídos da vida política e processados criminalmente. A pide do Poroshenko (nazi golpista de 2014) e do Zelensky matou jornalistas e políticos da oposição. Fechou meios de comunicação social russófonos. Lavrov disse isto em Luanda: “A criação de um estado nazi dirigido pela polícia estava em pleno andamento na Ucrânia. Foi criado com a bênção do Ocidente”

Aviso de Sergey Lavrov em Luanda, hoje: “O colonialismo das potências ocidentais manifesta-se de forma marcante nas relações com os países em desenvolvimento. Vejam para onde vai o investimento norte-americano. E cada acordo de investimento inclui sempre exigências políticas ou o envio de tropas! Muitos peritos já estudam este fenómeno, o colonialismo retrógrado, que nem é neocolonialismo. É o colonialismo na sua forma original, considerando as suas metas e objetivos: Subjugar os povos e usar os recursos naturais a seu favor”. O aviso está feito.

O “ocidente alargado” quer impor as suas regras a todos os países não-alinhados. Essas “regras” não são as leis internacionais que garantem democracia, igualdade e soberania a todos os países. São “regras” que lhes permitem impor tudo a todos. Lavrov na sua declaração em Luanda hoje, foi lapidar: “A Declaração OTAN-União Europeia diz que é preciso evitar a selva internacional ‘no interesse de um bilião de cidadãos que representamos’. A selva deve ser protegida e utilizada à maneira colonial”.

Lavrov visitou a Liga Árabe e contou este acontecimento: ”O secretário-geral disse-me antes de eu tomar a palavra que três dias antes de minha chegada, uma delegação de embaixadores ocidentais exigiu que o meu discurso fosse cancelado. A resposta foi que isso seria impossível porque a Liga Árabe é amiga da Rússia. Então eles exigiram que todos os membros da Liga Árabe tomassem a palavra depois de mim, para condenarem a agressão russa. Aqui também tiveram uma resposta negativa. Houve um terceiro pedido, o mais humilhante para o Ocidente. Pediram para ninguém posar para fotos comigo. Isto não é uma piada. Mas todos, um a um, posaram comigo. Se isto tivesse acontecido na Europa, era necessário muita coragem política.

O “ocidente alargado” matou definitivamente o Jornalismo com as aldrabices Ucrânia. Todos os dias aparecem papagaios debitando aquilo que os donos lhes mandam dizer e mostrar. Não chega daquelas paragens um apontamento sobre o que pensa a população. Ninguém quer saber do que pensam os partidos e deputados da Oposição. Mas também escondem o que se passa com a turma nazi de Zelensky. Como a notícia foi censurada, revelo os nomes e cargos de todos os altos funcionários ucranianos demitidos por Zelensky. Nesta lista não estão incluídos os que foram executados pela pide dos nazis: 

Vice-chefe do Gabinete do Presidente da República, Kirill Timoshenko , vice-ministro da Defesa, Vyacheslav Shapovalov , vice-ministro do Desenvolvimento Comunitário, Ivan Lukerya , vice-ministro da Política Social, Vitaly Muzychenko, comandante da Administração Militar Regional de Dnepropetrovsk (OVA), Valentin Reznichenko , da Administração Militar Regional de Zaporizhzhya, Oleksandr Starukh , da Administração Militar Regional de Kiev, Oleksiy Kuleba , da Administração Militar Regional de Sumy, Dmitry Zhivitsky, e da Administração Militar Regional de Kherson, Yaroslav Yanushevich. Ninguém quer saber quantos chefes militares sobraram? 

*Jornalista

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