Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
Cavaco Silva tem
nas mãos a sua mais difícil decisão dos últimos anos
E pronto. Os
portugueses têm desde ontem um documento aprovado na Assembleia da República
que é tudo o que se queira menos um Orçamento do Estado. Ninguém, mas ninguém
mesmo, nas bancadas da maioria ou nas da oposição, ou ainda nas instâncias
nacionais e internacionais e nos organismos especializados, acredita que o OE
tenha qualquer correspondência com a realidade.
Ao contrário do OE
de 2012, que foi sucessivamente rectificado, o de 2013 não é uma ficção
acidental mas uma ficção deliberada, e para ser minimamente coerente deveria
começar a receber rectificações logo a partir do primeiro dia do ano que vem em
que se reúna a Assembleia.
Quando os deputados
iniciaram a sessão final de ontem, concentravam-se frente à AR milhares de
apoiantes da CGTP para gritarem o seu protesto, pressionarem e impressionarem o
Presidente da República, a quem cabe agora assinar, vetar ou enviar o documento
para o Tribunal Constitucional. A manifestação teve forte adesão, apesar de
matutina, e foi controlada pela central sindical, salvo no estranho episódio em
que foi forçada a porta de uma agência bancária, com uma intenção objectiva que
fica por entender, esperando-se que a sempre atenta Procuradoria averigue o que
aconteceu.
Cavaco Silva tem
agora nas mãos a sua mais difícil decisão dos últimos anos, e qualquer que seja
a sua opção desagradará a um vasto grupo de portugueses.
Quanto a Passos
Coelho, há que reconhecer que soube minimizar os danos, controlando os seus
deputados e domesticando o CDS de Paulo Portas. Além disso, avança já hoje para
a fase da explicação directa ao país, através da entrevista que vai dar à TVI e
que é peça essencial da sua estratégia.
Menos feliz foi a
sua decisão de entregar o discurso final da discussão a Vítor Gaspar e de o
deixar fazer o seu tirocínio na chacota partidária, ao qualificar o PS de
aventureiro e aconselhá-lo a respeitar a sua
linhagem europeísta. Mais valia que fizesse contas certas, em vez de dar lições
de democracia a um partido com o passado do PS, por muito que se possa discordar
dele. Até porque todos os dados de conjuntura, como os da OCDE, apontam para
uma realidade económica profundamente diferente da que Vítor Gaspar traçou e
encaminham Portugal para o trilho da Grécia.
Como não foram só
atrás de objectivos nominais, os gregos obtiveram mais tempo e mais dinheiro
(43,7 mil milhões de euros), o que não é coisa pouca e prova que o que estava
errado eram os objectivos e não propriamente o esforço dos gregos de cumprir,
mesmo que nalguns pontos sejam claramente relapsos.
Oxalá as decisões
tolerantes com os gregos se estendam mesmo aos portugueses, que, de forma
sábia, continuam a mostrar ser um povo de raro bom senso. Basta olhar para
alguns aspectos da sondagem i/Pitagórica, quando rejeitam extremismos
militares, quando são contra despedimentos de funcionários públicos mesmo que
isso implique mais impostos, ou quando mais de 70% rejeitam eleições
antecipadas. Assim saibam os políticos estar à altura de um povo tão sensato e
sábio.
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