Fernando
Santos – Jornal de Notícias, opinião
O
fim do armistício entre alas desavindas do Partido Socialista estava há muito
escrito nas estrelas. O cinismo (e o calendário) foi preponderante nas várias
concertações ensaiadas nos últimos três anos para fazer de conta estar
desarmadilhado o poder saído de uma estrondosa derrota eleitoral após o pedido
de socorro internacional para salvar o país da bancarrota. Os novos
"oficiais" do PS, encabeçados por António José Seguro, conviveram com
um campo minado, ou não exista um grupo parlamentar formatado segundo o ADN
anterior.
A
contagem de espingardas era inexorável. Mais dia, menos dia. Chegou agora a
vez.
O
resultado pírrico da liderança de António José Seguro nas eleições europeias
caiu como sopa no mel dos aspirantes à (re)tomada do poder no PS. Trata-se do
último argumento capaz de os fazer suspirar com a governação após as
legislativas de 2015, e daí à entrada em pista de António Costa - ainda nem há
um ano reeleito presidente por quem confiou nele para governar a Câmara de
Lisboa por quatro anos.
De
tão básico, mete dó o modo como se tentam encontrar argumentos sofisticados
para o derrube de António José Seguro, um dos quais é de todo em todo música
cantada aos ouvidos dos mais incautos: a consciência de que o país, reverencial
e agradecido, precisa de quem se disponibilize para o governar bem.
A
atual luta no interior do Partido Socialista, de facto, tem na sua génese uma
base simples, mas de inconveniente divulgação: a de saber quem, de entre os
ilusionistas, é mais capaz de convencer os portugueses em legislativas. A
atual discussão faz-se entre o vozeirão e o aspeto de pegador de touros de
António Costa e o silabar fininho e semblante meio enjoado de António José
Seguro. Pouco, muito pouco, para do Partido Socialista se esperar uma
verdadeira alternativa.
O
debate no PS, em traços gerais, faz-se na expectativa de faturação nas urnas de
vendedores de um mesmo produto - pouco apelativo. E esse é o ponto.
António
Costa e António José Seguro são parte, curiosamente, de um dos poucos partidos
da área socialista com um resultado positivo nas últimas eleições europeias.
Com o mal dos outros podem bem os portugueses, é certo, mas dever-se-á exigir
uma reflexão mais profunda sobre as causas para o definhamento das hostes.
A
social-democracia e o socialismo democrático não dispõem, hoje, de qualquer
projeto alternativo às políticas liberais e restritivas. Enveredaram por vias
de extravagância - a terceira via de Tony Blair, por exemplo... - e acabaram
exaustos como projetos políticos.
Falar
mais grosso não basta. Enquanto a social-democracia e o socialismo democrático
viverem sem rumo, os respetivos líderes falam, falam, falam, mas na hora da
verdade vergam-se aos ditames da moda. Hollande ou Renzi são os casos mais
recentes.
Por
estas e por outras é que a discussão em torno do duelo entre António José
Seguro e António Costa não passa de um "fait divers" destinado a
apenas garantir a distribuição de benesses entre os apaniguados de ambos os
lados.
Na
hora da verdade, um e outro não serão capazes de dar o grito do Ipiranga. Farão
o mesmo.
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