quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O CARNAVAL DE LUANDA 2015 EM 55 FOTOGRAFIAS




As imagens do desfile dos grupos da Classe A do entrudo de Luanda

Alice da Cruz (texto), Ampe Rogério (fotos)

O Carnaval existe para que todas se esqueçam por algum momento todas as preocupações do quotidiano. A maior parte das pessoas quer fazer parte desta festa e divertir-se. Na Nova Marginal, nesta terça-feira, o cenário estava bastante motivador. Pessoas enérgicas que dançavam, exibiam as suas máscaras e fantasias, das mais assustadoras às mais engraçadas, e até indecifráveis. Um olhar atento revelava pessoas fantasiadas de bessanganas, borboletas, árabes, homens-aranha, Batman, o incrível homem-lama (viam-se os olhos apenas), odaliscas, travestis, e muitas outras.

O momento também serviu para lucrar. Havia de tudo um pouco à venda, peixe grelhado, pincho, magoga, churrasco, gelados, pipocas e mais fantasias para quem decidisse na hora aderir a um disfarce. Muita agitação, brincadeira e alegria para assistir de perto o desfile da classe A (adultos), que contou com a participação de 14 grupos, concorrentes aos três milhões de kwanzas. Cores, muitas cores, balões, brilhos fizeram da decoração do espaço. A animação e música ambiente esteve a cargo do Bloco Sol, que tradicionalmente abre todos os anos o acto central do Carnaval de Luanda.

O evento começou pontualmente às 16 horas, como previsto. O Governador Provincial de Luanda, Graciano Francisco Domingos fez o discurso de abertura e desejou boas vindas aos presentes. Logo a seguir os homenageados, o grupo União Tones(s)a & Mamã Santa, a mais velha Comandante do Carnaval de Luanda, começaram a festa com batuques, reco reco e muito ritmo na ponta do pé. Trajes em tons de azul, branco, champanhe, amarelo, e os padrões africanos usados, coloriram muito mais o ambiente na tarde que prometia e inspirava muito mais emoções. O presidente José Eduardo dos Santos não compareceu.

A festa continuou animada, as bancadas quase preenchidas, e tudo permanecia organizado e sob total controlo. A Associação Provincial do Carnaval de Luanda (APROCAL) contou com a colaboração da Polícia Nacional, da Elisal, dos voluntários da Cruz Vermelha e do Instituto Nacional de Luta Contra a Sida, que aproveitou a oportunidade para interagir com os jovens e sugerir relações sexuais seguras e com responsabilidade.

Nos rostos dos presentes a ansiedade para ver desfilar o grupo favorito. Os membros do júri andavam incansavelmente para frente e para trás a acompanhar todos os grupos, para avaliar cada gesto, a dança, a canção, o corte da indumentária, o painel, o desempenho dos comandantes, a alegoria e a falange de apoio.

Dos temas apresentados e representados pelos grupos da classe A destacam-se: “A mulher rural”, “Assembleia Nacional” e “As Pescas”, assuntos coincidentemente escolhidos, mas expressos de forma diferente. O décimo grupo a desfilar foi o União Etu Mudy Etu, que na verdade seria o terceiro, de acordo à ordem, se não fosse o imprevisto relacionado à coordenação, acerto de pequenos detalhes, aspectos sempre susceptíveis a acontecer.

O grupo exibiu no seu painel o mapa de Angola e imagens, em forma de homenagem, de Beto de Almeida, Mamã Kuiba, Lourdes Van-Dúnem, Aníbal Rocha, Rainha Njinga e Agostinho Neto. No carro alegórico, a representação do Mausoléu (Memorial António Agostinho Neto), que infelizmente não foi visto pelos integrantes da bancada central pelos metros de altura superiores à estrutura montada para a festa, o que pode influenciar na pontuação final, o recuo do grande e fantasiado carro.

Passadas seis horas os espectadores permaneciam pacientes e firmes, apesar de cansados. E finalmente chegou a hora de desfile do último grupo do dia, o União Twafundumuka, fundado a 18 de Novembro de 2011. Posteriormente, para alegria dos presentes, o Bloco da Juventude com a participação da cantora Ary, garantiu a animação nos minutos finais da festa, o que foi considerado um encerramento em grande, sem esquecer os fogos de artifício que serviram como um brinde à festa do povo.

No final da festa, as recomendações e sugestões feitas por homens de cultura que há muito acompanham os esforços e dedicação dos grupos angolanos de carnaval.

Pedro Vieira Dias, “Petchú”, membro fundador do ballet tradicional Kilandukilo, decidiu ver de perto toda a magia, cultura e tradição do carnaval em Luanda, pois o seu acompanhamento tem sido de forma distanciada por viver já 20 anos fora de Angola. O professor de dança tem feito pesquisas e está neste momento a produzir um documentário denominado Passo, Ritmo e Dança Angolana.

“Estão todos de parabéns. Este povo que sofre é o mesmo que dança. Admiro toda esta garra e energia. Mas algo está a se perder. Podemos trabalhar mais e fazer melhor”.

Já o pesquisador de carnaval, Francisco Pedro, sugere mais investimento principalmente nos grupos mais antigos, pela vontade de fazer acontecer, história e trajectória. “O carnaval deste ano pouco trouxe de novo. Precisamos rever os adereços, ter ousadia, atrevimento. Todos têm de ser chamados para organizar a festa de carnaval, os estilistas, os artistas plásticos, músicos, coreógrafos, designers, todos. Precisamos ter carnaval de rua, com certeza seria um bom item de classificação”.

Classe de Adultos (A) por odem de apresentação

1º União Kazukuta do Sambizanga – Canção: O maka mabitile nuka dingi mabwile (As makas passadas nunca mais acabaram)
2º União Domant (Cacuaco) – Canção: A mulher rural
3º União 54 (Maianga) – Canção: Nova Assembleia
4º União Jovens da Cacimba (Maianga) – Canção: Homenagem aos heróis de Angola
5º União Kyela (Sambizanga) – Canção: Homenagem ao Progresso do Sambizanga
6º União Mundo da Ilha (Ingombota) – Canção: Dilumba Dya Mbiji
7º União Kabocomeu (Sambizanga) – Canção: Twa Sanguluka
8º União Dimba Dya Ngola (Sambizanga) – Canção: Assembleia Nacional
9º União Povo da Samba (Samba) – Canção: Mulher angolana
10º União Etu Mudyetu (Sambizanga) – Canção: Jienda jia imbamba yokulu
11º União 10 de Dezembro (Maianga) – Representou o tráfico de escravos (Museu da Escravatura)
12º União Njinga MBandi (Viana) – Canção: O sonho continua
13º União Sagrada Esperança (Rangel) – Canção: Semba dibandela dyetu (Semba nossa bandeira)
14º União Twafundumuka (Rangel) – Canção: Preservar o meio ambiente


Sem comentários:

Mais lidas da semana