domingo, 15 de março de 2015

CABO VERDE AINDA NÃO É UM PAÍS TOTALMENTE LIVRE - considera oposição




O líder do maior partido da oposição de Cabo Verde criticou hoje, na Cidade da Praia, a excessiva partidarização na administração pública cabo-verdiana, o que tem inviabilizado a existência total de liberdade no país.

Em declarações à agência Lusa no final da cerimónia pública que assinalou o 25.º aniversário da fundação do Movimento para a Democracia (MpD) - 14 de março de 1991 -, Ulisses Correia e Silva afirmou que, após 15 anos de governo do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), o país necessita de liberdade política "total".

"Tem de se consolidar a democracia e Cabo Verde, que tem condições para avançar muito mais, pois o estado da liberdade ainda precisa de ser desenvolvido. Tem de se garantir que a liberdade política seja total e que o Estado e o Governo não sejam usados para criar diferenciação dos cidadãos", afirmou.

"A questão da partidarização, do acesso às prestações sociais, as relações do Estado com os cidadãos e com as empresas não podem ter motivações político-partidárias. Ainda temos de caminhar para que Cabo Verde se torne um país totalmente livre, que ainda não é", acrescentou Correia e Silva, lembrando serem esses os valores defendidos pelo MpD quando foi Governo (1991/2001).

Segundo Correia e Silva, 2016 - altura em que haverá eleições legislativas, autárquicas e presidenciais, por esta ordem -, é um ano "fundamental" para a democracia cabo-verdiana, em que será preciso trazer "novas soluções e protagonistas" e uma forma "diferente de exercício do poder".

"Só assim poderemos acelerar o processo de desenvolvimento. Estamos num processo de estagnação económica, de alguma descrença e com falta de energia para fazer pulsar a sociedade", sustentou o também presidente da câmara da Cidade da Praia.

"Tudo isto demonstra que é chegado o momento de fazer o clique e, às vezes, só a mudança, por si só, já é um grande ganho, porque cria novas relações de confiança, liberta energias criadoras, traz novas políticas, novos protagonistas, novos atores. É tudo isto que Cabo Verde precisa depois de 15 anos do mesmo Governo", defendeu.

Por seu lado, Carlos Veiga, um dos fundadores do MpD e seu primeiro líder (1991/2001 - regressando à presidência em 2010 para as eleições de 2011, altura em que deixou novamente a liderança), disse à Lusa que a criação do partido "parece que foi ontem", salientando que os valores e ideais de 1991 continuam atuais.

"Parece que foi ontem. Todas aquelas ideias e valores que nos motivaram naquela altura de regime de partido único fizeram sentido. Conseguimos aplicá-las na prática e continuam a marcar o ritmo e a vida de Cabo Verde. 25 anos depois, o MpD continua a ser um instrumento fundamental para fazer vivificar esses valores", disse.

Sobre o futuro, Carlos Veiga - primeiro-ministro entre 1991 e 2000, ano em que deixou a chefia do executivo para concorrer contra Pedro Pires nas presidenciais de 2001, que viria a perder por uma diferença mínima de votos (12) - considerou-o "promissor" para o MpD.

"Acredito que, hoje, um número muito maior de cabo-verdianos verá que as políticas do MpD deram resultado e que as políticas contrárias às do MpD não estão a dar resultado, sobretudo em áreas como o emprego, crescimento, segurança, desenvolvimento social e a vida e o rendimento das pessoas", sublinhou.

Apesar de minoritário no Parlamento, com 32 dos 72 deputados - o PAICV tem 38 e a União Cabo-Verdiana Independente e Democrática (UCID) os restantes dois -, o MpD venceu as eleições autárquicas de 2012 (14 dos 22 municípios) e o candidato presidencial que apoiou, Jorge Carlos Fonseca, foi eleito presidente na votação de 2011.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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