Hong Kong, China,
21 set (Lusa) -- Um ano depois da ocupação das ruas em Hong Kong contra a
reforma política proposta por Pequim, todos os olhos estão postos nas eleições
locais de novembro e nas de 2016, quando for eleita a nova composição do
parlamento.
Com o chumbo do
plano de reforma política a 18 de junho, mantém-se o 'status quo', ou seja, em
2017, o chefe do Executivo de Hong Kong vai continuar a ser eleito por um
comité de cerca de 1.200 membros.
Mas ao invés de
"impasse", Suzanne Pepper, investigadora do Centro de Estudos
Chineses da Universidade Chinesa de Hong Kong (CUHK na sigla inglesa), prefere
a expressão "compasso de espera" para definir o atual momento
político: "Penso que se as pessoas continuarem a discutir, Pequim
eventualmente vai dar [o sufrágio universal], mas está à espera de ver como
correm as eleições".
A investigadora refere-se
à eleição para o lugar vago deixado no Conselho Legislativo com a demissão do
pró-democrata Ronny Tong (que se arrependeu de ter votado contra a reforma
proposta por Pequim), às eleições para o District Council (os órgãos
municipais, em novembro) e às eleições para o Conselho Legislativo (parlamento)
em 2016.
"Pequim está à
espera que haja mais moderados eleitos e isso dir-lhe-á se é boa ideia
continuar a pressionar para um modelo de eleições ao estilo do interior da
China, ou seja, controladas pelo partido, ou não, no caso de os pró-democratas
--que têm estado a reclamar eleições ao estilo ocidental --, conseguirem
lugares extra, pois a proposta para a eleição do chefe do Executivo requer uma
maioria de dois terços no parlamento para passar", explica, em declarações
à agência Lusa.
Hong Kong vive
atualmente "uma competição entre dois tipos de eleições" e "uma
manifestação não é suficiente para convencer as pessoas: isso só pode acontecer
através de muitas conversas, de reuniões, de petições", afirma,
salientando a importância do tempo para passar a mensagem à população.
Grandes
manifestações já surtiram efeito no passado em Hong Kong, nomeadamente em 2003,
quando meio milhão saiu à rua contra a regulamentação do artigo 23.º da Lei
Básica e o governo adiou a proposta 'sine die', ou em 2012, quando foi retirada
a proposta de introdução da Educação Patriótica nas escolas do território. Mas
para mudar o sistema, diz Suzanne Peper, "as manifestações não chegam, é
preciso um movimento mais abrangente".
"Se vais ter
democracia, queres que toda a gente vote. E para isso, as pessoas devem
perceber em que tipo de sistema vão votar, e qual é a diferença entre votar num
candidato nomeado por Pequim ou noutro candidato que a maioria decidiu apontar.
Foi isso que o Occupy fez: levou as pessoas para a rua, e toda a gente se
sentou e começou a falar".
A ex-colónia
britânica foi devolvida à China, em 1997, sob o princípio de "um país,
dois sistemas", que promete manter os sistemas sociais e económicos da
cidade até 2047. Um conjunto de direitos e regalias que, segundo Suzanne
Pepper, a população de Hong Kong tinha assumido como "algo permanente, que
nunca vai mudar", e que a ocupação das ruas permitiu voltar a trazer para
a discussão.
"As pessoas
começaram a pensar 'como é que vai ser este sítio se continuar a evoluir ao
estilo do interior da China'. (...) Foi isso que os jovens começaram a perceber
e tudo isso veio do debate durante o Occupy", que foi "um grande
exercício de consciencialização política", aponta.
O professor Leung
Yan Wing, do Instituto de Educação de Hong Kong, também refere o período
pós-2047: "Ninguém sabe se a promessa de 'um país, dois sistemas' vai
expirar, por isso, o mais importante é não limitar a reforma política a
2017".
O académico vê os
últimos meses como um período de reflexão dos estudantes, uma altura em que
algumas associações universitárias se desvincularam da Federação de Estudantes
e surgiram "mais grupos com diferentes abordagens", apesar de
trabalharem com vista ao objetivo comum do sufrágio universal e dos valores da
justiça social.
"Embora este
movimento tenha sido reprimido, o ganho é muito maior do que a perda, porque
toda a geração ficou mais sensibilizada e alertada para os valores da justiça.
Embora tenham experimentado a perda, a depressão, penso que a longo prazo vai
ser positivo", conclui.
FV (RCS)
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