Metade
das famílias portuguesas não teve dinheiro em 2014 para fazer tratamentos
médicos necessários, tendo muitas vezes cortado na alimentação e recorrido a
empréstimos para fazer face a essas despesas, revela hoje a revista Testesaúde,
da Deco.
"No
ano passado, por falta de dinheiro, 50% dos portugueses falharam cuidados de
saúde considerados essenciais do ponto de vista médico. E ninguém escapou às
dificuldades: um terço eram crianças, que ficaram sem tratamentos, consultas ou
medicamentos aconselhados pelo médico", indica a revista de saúde da
associação de defesa do consumidor, com base num inquérito a 1.763 famílias
portuguesas.
A
dificuldade em pagar despesas de saúde afeta mais as famílias com rendimentos
mensais abaixo dos 1.500 euros, os agregados numerosos ou monoparentais e os
que incluem membros que sofrem de doença crónica, conclui o teste.
"Isto
num país em que cerca de 40% das famílias vive com menos de 1.00 euros por
mês", sublinha a revista.
No
topo dos gastos com saúde estão os tratamentos dentários e oftalmológicos, as
consultas e os medicamentos, que em 2014 foram sendo adiados por falta de
dinheiro.
O
mesmo se verificou com as urgências, que "tiveram de deixar de sê-lo
quando não havia como pagá-las": 10% dos portugueses, incluindo crianças,
não foram às urgências por não terem dinheiro.
Apesar
de os mais carenciados estarem isentos de taxas moderadoras, existem
"copagamentos disfarçados" que são "penalizadores" para a
maioria.
Salientando
que para o estudo não foram considerados os pagamentos de prémios de seguros
nem tratamentos ou cirurgias de estética e beleza, a Deco diz que no ano
transato as famílias gastaram uma média de 1.480 euros em cuidados de saúde que
nunca lhes serão reembolsados.
"O
valor sobe para 1.824 euros em agregados com doentes crónicos", a que se
junta o prémio do seguro de saúde, contratado por 20% dos inquiridos, que dizem
pagá-lo do próprio bolso: em média, custa-lhes 506 euros anuais.
Ao
todo, diz a revista, as despesas anuais não reembolsáveis representam 19% do
rendimento líquido disponível, proporção que sobe para 25% nos agregados com
doentes crónicos.
Para
fazer face a estas dificuldades, uma em cada cinco famílias teve que se
endividar, na maior parte dos casos junto de familiares, mas também de amigos
ou de instituições bancárias.
Os
inquiridos reportaram problemas de saúde dos filhos menores que necessitavam de
cuidados médicos e que em 15% dos casos eram muito sérios e em 70% importantes.
Em
consequência desta falta de assistência, não só as atividades escolares ficam
afetadas (além da saúde), mas também as necessidades básicas familiares.
"Um
quinto dos agregados teve de cortar em bens alimentares e em climatização por
causa dos gastos com a saúde. Um quarto viu-se obrigado a abdicar do conforto
no lar e de obras ou mobiliário".
A
carência de cuidados médicos por falta de dinheiro tem repercussões também no
trabalho, que se refletiram em 35 milhões de dias de trabalho perdidos.
Entre
os tratamentos que ficaram por fazer em 2014, os oftalmológicos ocupam o lugar
cimeiro com 28%.
A
estomatologia surge como uma das área que custou mais dinheiro aos portugueses,
sendo que 64% destes gastaram 564 euros e foram contraídos 1.398 euros de
empréstimo.
AL
// CC - Lusa
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