Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
Não
basta anunciar que se vende um banco, praticamente em ruína, por essa ser a
solução que melhor defende o interesse nacional. Quando se vende um banco por
150 milhões de euros e se entra com 2 mil milhões para guardar os seus ativos
tóxicos - aquilo que ninguém quer, aquilo que contamina - é preciso explicar
aos cidadãos a opção. E em detalhe.
Não
é a primeira vez, em poucos anos, que os portugueses são chamados a pagar os
erros de gestão da banca nacional. Banca privada, dirigida por gestores
privados bem pagos. Muitos dos ativos que ficaram no Banif "mau" (o
filme repete-se) são o resultado de crédito concedido, sem o mínimo critério de
exigência, e corporizado por imóveis altamente desvalorizados. Algum gestor
assume essa responsabilidade?
As
pessoas, as mesmas de sempre, agora chamadas a entrar com dois mil milhões de
euros, não entendem e perguntam com toda a legitimidade: "Por que raio não
deixam os bancos ir à falência?" Ao longo de seis anos, entre 2008 e 2014,
os portugueses contribuíram com quase 20 mil milhões de euros para suster
instituições bancárias. A troco de quê? Da estabilidade financeira, dizem-nos.
Algo pouco concreto. Real, bem real, foi aquilo que sentimos. Mais impostos,
mais e mais austeridade. Disseram-nos: era preciso cortar salários, apoios
sociais, subsídio de férias e de Natal. A nossa vida piorou. E afinal não
andávamos a gastar acima das nossas possibilidades. Outros andariam. O povo
português, isso sim, anda a pagar (por erros que não comete) acima das suas possibilidades.
Valerá
a pena? Temo que não. Já vão quatro. Primeiro foi o BPN, depois o BPP, o BES e
agora o Banif. Fica por aqui cortejo fúnebre da nossa desgraçada banca? As
autoridades fiscalizadoras, reguladoras, as altas figuras do Estado nunca
falaram com clareza aos portugueses. Pelo contrário. Até fomentaram o engano.
Antes da derrocada do BES, o Banco de Portugal autorizou um aumento de capital,
conduzindo os pequenos acionistas do banco para um beco sem saída. Na madrugada
de ontem, ficámos a saber mais do rigor de quem regula o nosso sistema
bancário. O caso Banif deveria ter sido atacado há um ano! Em vez disso, foi
escondido: comprometia a saída limpa do plano de resgate. Não comprometeu, mas
que benefícios trouxe esse jogo de sombras, esse silêncio cúmplice? O problema
irrompe, agora, em todo o seu esplendor.
Havia
eleições à porta, e isso, pelos vistos, tinha muita força. Tal como nos
mentiram com a fábula da sobretaxa, também nos enganaram com o Banif. Temos
muitas razões para desconfiar - e a geringonça ainda vai no adro.
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