O Ministério Público guineense enviou uma carta às Nações Unidas a solicitar a entrega à justiça de Aristides Gomes. Ex-primeiro-ministro está refugiado nas instalações da ONU desde fevereiro, altura em que foi demitido.
Nas
últimas semanas, surgiram no Parlamento várias denúncias dos deputados das
bancadas dos partidos que agora governam a Guiné-Bissau - Movimento para a
Alternância Democrática (MADEM G-15) e Partido de Renovação Social (PRS) -
sobre a alegada corrupção envolvendo o ex-primeiro-ministro
Aristides Gomes, que foi demitido em fevereiro, um dia depois de Umaro
Sissoco Embaló ter tomado posse, simbolicamente, como Presidente da
Guiné-Bissau. Desde então, o ex-governante refugiou-se na sede das Nações
Unidas, na capital guineense.
O
Ministério Público guineense enviou uma carta à representação da ONU em Bissau
a pedir a entrega de Aristides
Gomes à justiça, confirmou já um asssessor do ex-primeiro-ministro. O
pedido não é questionável, em termos legais, mas terá sempre conotações
políticas, afirmou à DW África o jurista Luís Vaz Martins.
"Não há aqui grandes questões para colocar, em termos da lei. Mas um inquérito sobre o suposto crime, nesta altura do campeonato, só nos leva a pensar que, efetivamente, essa investigação terá mais conotações políticas, do que propriamente a busca com objetividade, com vista à descoberta da verdade e a realização da justiça", sublinha o jurista guineense, que lembra ainda que já se assistiu a "várias situações que requerem uma investigação urgente da parte do Ministério Público, mas assim não aconteceu."
"É
pura perseguição"
"É
pura perseguição", conclui, por sua vez, o analista político Rui Landim em
declarações à DW África. "É simplesmente ajustar contas com ele [Aristides
Gomes] sobre toneladas de drogas que apreendeu [enquanto
primeiro-ministro] e penas pesadas a que os traficantes foram
condenados", argumenta.
Esta
segunda-feira (03.08), o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, recebeu em
audiência a representante especial do secretário-geral das Nações Unidas,
Rosine Coulibaly, que à saída preferiu falar de outro assunto.
"Para
não dizer muito, no próximo dia 10 de agosto, farei um briefing no Conselho de
Segurança das Nações Unidas sobre a evolução da situação na Guiné-Bissau e
encontrarei os atores políticos nacionais, mas o primeiro que encontro é o
Presidente da República, para análise da situação e sobre os progressos
alcançados e as dificuldades", declarou Coulibaly.
A
Missão Integrada de Consolidação da Paz na Guiné-Bissau (UNIOGBIS) "vai
terminar em breve e o importante é que as reformas sobre a qual nós estamos
engajados avancem", acrescentou a representante do secretário-geral das
Nações Unidas.
A DW África tentou, sem sucesso, junto de várias fontes, confirmar a existência da carta do Ministério Público enviada às Nações Unidas.
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche Welle
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