terça-feira, 25 de abril de 2023

Portugal | UM PAÍS EMPATADO

Paulo Baldaia* | Diário de Notícias | opinião

Ser a principal figura da oposição, como acontece com André Ventura na sondagem da Aximage, não capacita ninguém para a governação, de igual forma, ser incapaz de ser percepcionado como líder da oposição, como acontece com Luís Montenegro na mesma sondagem, não incapacita ninguém, mas aconselha vagar. No mesmo estudo de opinião, a percentagem de portugueses a considerar positiva a actuação do governo (23%) é um ponto percentual superior às opiniões positivas que a oposição consegue no seu conjunto (22%). Não é chegado o tempo de procurar nas urnas a alternância no poder.

A actuação do primeiro-ministro (27% de opiniões positivas) é, aliás, melhor avaliada que a do secretário-geral do PS (22%) e é superior à de qualquer outro líder partidário. O eleitorado dá sinais de cansaço continuado em relação à governação e ao PS, mas não vê alternativa. Montenegro fica a pouco mais do meio do caminho, quando comparado com Costa, na confiança que transmite aos eleitores quanto à sua capacidade para liderar um governo. Três meses de imensas trapalhadas socialistas não deram ao líder do PSD mais que dois pontos percentuais numa aproximação ao poder.

É verdade que o modo campanha em que entraram os partidos, com o PSD a clarificar a sua posição em relação ao Chega e o governo a usar os cofres do Estado para reconquistar o eleitorado mais velho, ainda não tem efeito neste estudo de opinião, embora os últimos dias de trabalho de campo sejam em cima da entrevista de Montenegro a Maria João Avilez. O que se percebe é que o Chega e o seu líder mantêm um significativo potencial de crescimento e as eleições que se aproximam beneficiam o partido de Ventura. Na Madeira, a extrema-direita parte praticamente do zero e pode bastar-lhe eleger um deputado regional para ser o fiel da balança, como é nos Açores. Nas Europeias do próximo ano, partindo igualmente do zero, a campanha é terreno fértil para discursos nacionalistas, xenófobos e racistas.

Serão as Europeias de 2024 e os resultados do PS e PSD a determinar se Marcelo Rebelo de Sousa tem condições para avançar com a dissolução que apresentou ao país como praticamente inevitável. Não chega que o PS perca terreno se o PSD não o ganhar. Aquilo que vemos nas sondagens pode acontecer nessas eleições: o PS tem três eurodeputados de avanço do PSD, tem de os perder e o PSD ganhá-los, mas ao mesmo não podem os social-democratas perder em igual medida para os partidos à sua direita.

O PSD não pode hesitar, bem pelo contrário, na mensagem de que não conta com o Chega para chegar ao poder. O eleitorado moderado, que se cansou de oito anos de governação socialista, não alinha nos ziguezagues de Montenegro. Não, o socialismo de António Costa não é pior que o populismo de André Ventura. Luís Montenegro precisa de afirmar como alternativa, competir com o PS nas soluções que cada um tem para o país. Se pensa que o seu campeonato é com o Chega a ver quem diz mais do governo, vai ter de continuar a contentar-se cm sondagens que lhe dão vitórias poucochinhas. Na verdade, nem está à frente do PS, está empatado. Está o PSD, está o PS e está o país.

* Jornalista

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