segunda-feira, 22 de maio de 2023

Empurrão: Cavaco sente e sabe que Luís Montenegro não tem competência nem garra...

O Curto do Expresso apesar de fora das horas habituais. A opção de o considerarmos republicável devido ao sururu provocado na dislexa fala de Aníbal Cavaco Silva ex-desgraça política nacional, ex-informador da polícia política (PIDE) do fascista Oliveira Salazar, ex-primeiro-ministro, ex-presidente da República, ex-responsável pela sua conduta apensa a “rabos-de-palha” demonstrativos de interesses anotados como dúbios para os que quase sempre estiveram mais ou menos atentos ao referido sujeito.

Dele existe quem muito goste e os que nada gostam. Dele lembram-se casos como os do BPN e do BES, por exemplo… Que não perdeu um cêntimo quando estourou o BPN nem o BES - enquanto que muitos outros ficaram a “arder”. Quando já corria a verdade da calamitosa situação de falcatruas criminosas do Dono Disto Tudo, Ricardo Salgado, Cavaco afirmou (salvo erro PR a viajar por Macau) que se podia confiar no BES. Viu-se o resultado. Isto para não falar da balburdia da “troca” da casa velha, vivenda Mariani, pela casa nova na Aldeia da Coelha… Rabos-de-palha passados ficam para a história. Além de outros que pairavam em surdina. Mas convém não esquecer.

Eis que agora Cavaco soltou a verborreia viperina sobre o governo de António Costa, do PS, figadal adversário. Já antes o havia feito por escrito, no Observador e diz-se que também o fazia sinuosamente aqui e ali. Com diretas e indiretas. Claro que está no seu direito. Mas vindo dele sabe-se que dali sai peste porque faz parte do seu âmago. Talvez traumas de infância, se assim se pode deduzir.

Afinal o que Cavaco Silva denunciou acerca dele próprio é que já não tem capacidades para avançar, para se propor a dirigir o PSD, e muito menos para disputar o primado governativo em eleições constatando a necessidade de dar um empurrão ao seu partido político e ao seu anémico líder, Luís Montenegro (que até talvez também esteja a colecionar “rabos de palha” sobre a casa-palacete de seis andares, em Espinho, como consta). Nisso, parece que estão bem um para o outro.

Afinal, visto o que se viu e ouviu regista-se que Cavaco sente e sabe que Luís Montenegro não tem a competência nem a garra necessárias para dar luta a António Costa e ao Partido Socialista no governo. Por dó de alma falou como falou porque quer muito a direita com ilusórias vestes sociais-democratas no poder, o seu PSD. Cavaco, finalmente, está a ser um bom militante. Antes, na ocupação dos poderes, foi mais e quase só um bom amigo de conveniência dos endinheirados ou que lhe davam acesso a também o ser. Imensos portugueses por esses tempos passavam fome. Eram, então, os bons governos de Cavaco.

Pois é. Os episódios esquecem-se na espuma dos tempos. E assim a direita extrema e ressabiada aproveita casos e casinhos para crescer de braço dado com uma enorme procissão de donos e profissionais (?) da comunicação social, infelizmente despromovidos à classe de escribas.

E assim se faz Portugal. Alguns (poucos) vão bem e outros (muitos) vão mal.

O Curto, do Expresso a seguir. Opinião e acontecimentos a gosto e a desgosto dos que por ele enveredam. Somos livres, por enquanto, de aquilatar e opinar sobre o que vemos ouvimos e lemos. Vamos nessa. Viva a democracia em revolução permanente (isso era muito bom).

MM | PG


Ámen cavaqueira

Pedro Candeias, editor de sociedade | Expresso (curto)

A política presta-se aos clichés e muitos foram enunciados por Marques Mendes a propósito de Cavaco Silva no seu espaço de comentário de domingo à noite.

Escutei-o ativamente e tirei as notas necessárias que verti posteriormente nesta newsletter. Apontei os seguintes chavões: Cavaco fez um “discurso arrasador” e “não deixou pedra sobre pedra” no Governo; resumindo, foi um autêntico “vendaval político”.

Não vou discutir a pertinência dos dois primeiros lugares-comuns, mas reservo-me o direito de discordar do terceiro. Um “vendaval” é súbito, inesperado e violento, e Cavaco não é a primeira, nem as outras duas coisas.

Na verdade, ninguém pode dizer que não se previa o que ali vinha a partir do momento em que o antigo governante marcou posição com um texto no Observador, em junho do ano passado, com um título curioso e autoexplicativo: “Fazer melhor do que Cavaco Silva”. Aparentemente do nada, o antigo PM recuperou naquele artigo os seus anos executivos e a obra feita para exigir a Costa responsabilidade, compromisso e diálogo na sua maioria absoluta. Como Cavaco obtivera duas, sabia uma ou duas coisas sobre governar assim e sentia-se à vontade para as explicar.

Pelos vistos, também sabia como fazer oposição.

Em fevereiro deste ano, Cavaco questionou os milhões gastos em projetos sociais de rentabilidade “muito discutível”, enquanto garantia não estar ali para “lançar achas para a fogueira” porque a “situação política” era “difícil”. Em março, criticou o plano de habitação do Governo, o “resultado do falhanço da política do Governo nos últimos sete anos”. A seguir, em abril, sentou-se ao lado de Luís Montenegro na apresentação do livro de Joaquim Sarmento e disse que a “situação política” se tinha “deteriorado muito mais” do que pensava - mas uma vez mais não iria “lançar achas para a fogueira” apesar das “solicitações” para o fazer.

Até que o fez. No sábado, Cavaco Silva terminou o que começara quatro meses antes, executando o último ponto do seu plano: num discurso de 40 minutos de censura ao Governo e de elogio a Luís Montenegro, o líder da oposição que ele elegeu como a alternativa viável ao costismo, apesar de todas as dúvidas de Marcelo Rebelo de Sousa. Além disto, Cavaco apresentou um guião de nove pontos para Montenegro seguir a preceito.

A partir de agora, é o tempo da política e das análises: o aval de Cavaco Silva a Luís Montenegro suspendeu o alegado regresso de Passos Coelho? Os barões do PSD vão juntar-se ao líder ungido, como escreve Manuel Carvalho no Público? Ou, por outro lado, o endorsment de Cavaco unirá a esquerda contra a Némesis de Boliqueime e deixará Montenegro fragilizado como pensa Marcelo? E vamos mesmo para eleições antecipadas e estamos já em período pré-campanha, como projeta Marques Mendes?

OUTRAS NOTÍCIAS

Futebol. Podia ter sido o jogo decisivo, mas no final nada se definiu: Sporting e Benfica empataram em Alvalade (2-2) num dérbi rachado a meias entre uma equipa que dominou a primeira-parte e que se deixou levar na segunda-parte. Roger Schmidt e Rúben Amorim estiveram razoavelmente de acordo, fazem-se contas à vida para o título e lamentam-se os confrontos entre adeptos.

Morte. Uma sucessão estúpida de acontecimentos: um bebé de 11 meses morreu no hospital de Portimão à espera de transferido para a unidade pediátrica de cuidados intensivos de Faro que, por sua vez, não tinha serviço de pediatria e também não tinha uma ambulância disponível por falta de pessoal. A ambulância de Lisboa contactada estava igualmente indisponível e quando se acionou um helicóptero do INEM para o transporte, o estado do bebé piorou e deu-se a tragédia. O ministério da Saúde garantiu que tudo foi feito para a evitar.

Greve. A Federação Nacional de Educação elegeu um novo líder que logo tratou de anunciar uma greve nacional, a 6 de junho. Pedro Barreiro prometeu ainda que a luta dos professores continuará no próximo ano letivo se o Ministério da Educação “não assumir a necessidade e urgência de resolver os problemas”.

Ucrânia. Os russos garantiram ter tomado Bakhmut, os ucranianos asseguraram controlar “uma parte insignificante” do território a que Zelenksy comparou a Hiroshima depois do bombardeamento nuclear. “Já não há lá nada”, disse o líder da Ucrânia que, no G7, não se encontrou com Lula da Silva como estava programado por “falta de diligências” deste último.

FRASES

“Obrigado pelos palpites dos responsáveis anteriores [da direita] que mandam larachas. Voltem para a barriga da mãe”, Paulo Raimundo, líder do PCP, sobre o discurso de Cavaco

“Mendonça Mendes faz parte do gabinete do primeiro-ministro, António Costa, e nós não podemos ter a intervenção de serviços de informações que estão na dependência do primeiro-ministro e não saber quais foram as indicações que foram dadas. No limite, é o próprio primeiro-ministro que está em causa”, Rui Rocha, presidente da IL, pede para que Mendonça Mendes seja ouvido na comissão de Assuntos Constitucionais

“É evidente que há muitas teorias sobre este Grupo de Bilderberg ser um governo secreto, mas a maioria das pessoas deste grupo não têm poder real. Mas têm influência”, Nuno Rogeiro, no Leste Oeste, sobre o Grupo de Bilderberg

O QUE ANDO A LER

“Linha Final”, de Don DeLillo

Gary Harkness é um jovem jogador de futebol americano com uma propensão para a contemplação e alienação que tenta encontrar o significado da vida pela quarta vez na sua vida na Logos, uma escola texana. Para trás ficaram outras escolas, Syracuse, Miami e Michigan State, de onde saiu ou foi expulso por diferentes razões: ou por achar que o treino não era interessante ou por matar acidentalmente um adversário durante um jogo.

Em Logos, onde se quer refazer, encontra um treinador em circunstâncias semelhantes – outrora famoso, quer recuperar o seu nome; Taft Robinson, um atleta negro que levará a equipa para outro nível; e outras personagens complexas ou caricaturais que o acompanharão numa época em que a Logos vencerá todos os desafios, menos um.

Pelo meio, vários incidentes (alguns, inexplicáveis) marcarão a narrativa deste romance de Don DeLillo: o avião onde segue a dona da Logos cai, Taft deixa o desporto e o próprio Gary contrairá uma febre complexa de tratar. Pelo meio também, lemos diálogos estúpidos, irónicos e divertidos, aprendemos termos nucleares - porque Gary tem uma fixação pelo tema - e jargão desportivo. De alguma forma, tudo isto parece fazer sentido no final.

Um livro curto, que se lê rapidamente, e que nos revela o talento e sentido de humor negro de DeLillo.

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