sábado, 4 de agosto de 2012

Ban Ki-moon alerta para crimes contra Humanidade e guerra de longo prazo na Síria



PDF - Lusa

Nações Unidas, Nova Iorque, 03 ago (Lusa) - O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou hoje que os atos de "brutalidade" na cidade síria de Alepo podem constituir crimes contra a Humanidade, e que o país caminha para uma "guerra civil de longo prazo".

O secretário-geral falava no início de uma sessão da Assembleia-Geral da ONU em que será votada uma resolução exigindo o fim da violência na Síria e negociações sobre uma "transição política", apelando ao Governo de Bashar Al-Assad para dar o "primeiro passo" e retirar tropas e armamento pesado.

Na sua intervenção, o secretário-geral comparou os "horrores na Síria" ao genocídio em Srebrenica (Bósnia-Herzegovina) e no Ruanda, a que os líderes mundiais reagiram na ONU "apoiando o conceito da responsabilidade de proteger" civis.

Na cidade de Alepo, onde Governo e rebeldes têm estado a concentrar forças, "os atos de brutalidade que estão a ser relatados podem constituir crimes contra a Humanidade ou crimes de guerra" e "têm de ser investigados e os seus responsáveis encontrados", defendeu Ban.

Perante a incapacidade de a comunidade internacional parar a violência, o país enfrenta agora a possibilidade de "uma guerra civil de longo prazo", com "trágicas implicações para o povo sírio" e em prejuízo da estabilidade regional.

"Não quero que a ONU de hoje falhe este teste. Todos nós temos de mostrar ao povo da Síria e ao mundo que aprendemos as lições de Srebrenica", afirmou.

"A pressão internacional unificada pode fazer a diferença. O povo sírio precisa de ação, a responsabilidade primária de parar a violência cabe aos que estão no terreno, particularmente o Governo. Mas a sua recusa em depor as armas não absolve o resto de nós da necessidade de agir", adiantou.

A resolução da Assembleia-Geral, que, ao contrário das aprovadas pelo Conselho de Segurança, não tem caráter vinculativo, segue-se a outras semelhantes do plenário da ONU em dezembro de 2011 e fevereiro de 2012.

O texto inicial, apresentado pela Arábia Saudita e que inclui Portugal entre os cerca de 60 países proponentes, apelava ao Presidente sírio para abandonar o poder, na linha das intervenções do enviado especial demissionário da ONU e Liga Árabe, Kofi Annan, mas esta referência foi retirada para obter o apoio de mais países e conseguir uma votação o mais expressiva possível.

Também o presidente da Assembleia-Geral da ONU, Nassir Abdulaziz Al-Nasser, apelou à aprovação do texto, afirmando que está em causa a credibilidade da ONU, a estabilidade do Médio Oriente e "milhares de vidas".

Abdallah Al-Mouallimi, embaixador da Arábia Saudita que preside ao grupo árabe na ONU, defendeu a resolução e o processo de negociação, em que foram retirados elementos contestados, nomeadamente um apelo ao Presidente sírio para deixar o poder, para conseguir o maior apoio possível.

Em defesa do regime de Bashar Al-Assad saíram a Venezuela, Bolívia, Cuba, Coreia do Norte e Irão, além do próprio embaixador sírio, Bashar Jaafari, que acusou os proponentes da resolução, em particular Qatar e Arábia Saudita, de estarem a enviar armas para os "terroristas", alimentando o conflito.

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