sábado, 22 de setembro de 2012

Portugal: A ECONOMIA, A POLÍTICA E O POVO

 


Diário de Notícias, editorial - com foto
 
A medida emblemática da baixa da TSU das empresas, compensada pelo contributo agravado dos seus trabalhadores, é um nado morto. Repouse em paz a sua alma. Mas tudo o mais à volta, que entrou em reboliço há duas semanas, ficará longe de se achar pacificado, tal o abalo político, económico e social. As réplicas estão aí à vista de todos.
 
Em termos económicos, multiplicaram-se depoimentos em sentido contrário ao afiançado pelo primeiro-ministro: em vez de ser a chave capaz de reabrir a porta ao emprego, acabaria por ser um instrumento de reforço da hemorragia laboral em curso. Mas a ideia da desvalorização fiscal como alavanca para a promoção da competitividade das empresas portuguesas, essa, não morreu. Foi o que o primeiro-ministro, "determinado, mas não intransigente", líder de um Governo que não é "cego, nem surdo, nem ficará mudo", admitiu ontem no Parlamento, depois à CGTP e mais tarde no Conselho de Estado maioritariamente anti-TSU. Mas se a TSU se evapora para já, nada garante que não volte a emergir transmutada numa qualquer benesse às gestões empresariais, sendo fácil adivinhar de onde virá a sua base financeira.
 
Para tapar o vazio, que a mudança de rumo orçamental abre - a três semanas da entrega do OE 2013 - ,a questão central passa a ser, agora, o equilíbrio global do documento. Mas também a equidade das medidas de austeridade à luz do exigente referencial constante do acórdão do Tribunal Constitucional e da reavivada atenção que a nova proposta orçamental vai suscitar na opinião pública, nos parceiros sociais e em todas as forças políticas. Aguarda-se, nesse contexto, o conjunto de propostas por parte das cinco confederações subscritoras do acordo social.
 
Em termos políticos, falta saber até que ponto esta monumental gafe deixa enfraquecida uma coligação cujos parceiros se apunhalavam pelas costas há uma semana, e hoje só trocam juras de fidelidade. Há traições difíceis de esquecer e que minam qualquer relação com o tempo. A união, mesmo com o criado órgão de "aconselhamento", pode durar apenas até que o Orçamento a separe. Ou pode prolongar-se até ao fim da legislatura, em nome da superior e nobre estabilidade do País, mas numa paz podre que terá de ultrapassar várias provas de fogo.
 
E há uma outra traição, a presidencial, que marcará também as relações institucionais S. Bento/Belém. Passos ouviu os recados de Cavaco através das figuras que lhe são próximas, viu o Presidente trocar uma conversa que podia ser a dois e em privado por horas de interrogatório frente à maioria crítica dos 19 conselheiros de Estado e só após as explicações técnicas de Vítor Gaspar. E tirará ilações.
 
Mas, acima de tudo, há a revolta social. O descontentamento generalizado com a classe política visível nas ruas e nas sondagens. Porque o povo, esse protagonista há tantos meses calado, passou a gritar em cada momento crítico deste processo que já não aguenta mais apertos. Como convencê--lo a aceitar agora seja lá o que for que vem aí vai ser o mais duro teste de fogo de Passos. É como a pasta de dentes: depois de saída da bisnaga, como voltar a metê-la donde nunca deveria ter saído?
 
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1 comentário:

Rol dos fiados disse...

Com TSU ou sem TSU, o rol dos fiados fechou, e a dolorosa chegou

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