Alessandro
Lo-Bianco – O Dia
Rio -
Enquanto a busca pelos desaparecidos em Petrópolis era retormada na manhã desta
terça-feira pelo Corpo de Bombeiros e pela Defesa Civil,
a população amargava a dor de enterrar os familiares, vítimas da chuva que
castigou a cidade no último domingo.
Pelo menos 27 pessoas morreram no município. Onze eram crianças. O número de
vítimas fatais pode passar de 50, calculam agentes da Defesa Civil, já que 20
pessoas ainda estão soterradas e há muitos registros de pessoas desaparecidas
na noite do temporal.
No total, há 1.466 desalojados (que tiveram a moradia danificada) ou
desabrigados (que perderam totalmente a casa). Há 120 bombeiros procurando
desaparecidos em vários. Nesta terça-feira, Luciano Barros enterrou o segundo
filho em menos de 24 horas.
“Enterrei a minha
princesa de 12 anos e agora é a vez de me despedir do meu menino, de 16. Tirei
os dois de casa com vida, mas eles morreram duas horas depois nos meus braços,
esperando os bombeiros, que demoraram quatro horas para chegar. Ao vê-los
(bombeiros), corri para tentar resgatar meu terceiro filho, contra a vontade
deles e consegui salvá-lo”,
contou.
Forte comoção também marcou o velório de agente da Defesa Civil Paulo Roberto
Figueras, 38 anos, que morreu soterrado após salvar uma criança.
Segundo a amiga Juliana Araújo, salvar vidas sempre foi o maior motivo da
vida de Figueras, que também era presidente do grupo de voluntários Anjos da
Serra.
“Ele dizia que nada
lhe dava mais prazer do que salvar pessoas que ele nem conhecia. Ele salvou
dezenas na tragédia de 2011, e queria repetir o trabalho agora. Fica a
lembrança do sorriso dele tirando a primeira criança dos escombros”, disse
Juliana.
Na capela ao lado, familiares choravam a morte de Nilton Pereira Fonseca, 47
anos. O jardineiro foi surpreendido por um desabamento ao tentar ajudar a
Defesa Civil nos resgates.
“Ele escutou gritos de socorro, pegou uma lanterna e disse que estavam
precisando dele. Ele salvou três meninas e disse que tinha mais uma. Dissemos
que era perigoso, e para que ele esperasse. Mas não adiantou. Ele virou as
costas e disse que as crianças não podiam esperar. Meu irmão é um anjo que,
infelizmente, deixou cinco filhos para salvar a vida dos filhos de outras
pessoas e voltar para o céu”, disse o irmão Nelson Pereira, 57 anos.
Jovem vira herói após salvar vidas e encontrar vítimas
Morador do bairro Quitandinha desde que nasceu, Igor Nascimento tem apenas 20
anos, mas já ganhou o respeito dos moradores mais velhos do bairro.
O jovem desceu de
sua casa para ajudar as vítimas do desabamento, mas foi impedido pela Defesa
Civil de chegar nos escombros, quando a forte chuva e a falta de luz
interromperam momentaneamente o resgate no domingo.
“Eles me impediram de descer, mas como conheço esse mato todo, dei a volta e
consegui entrar com uma lanterna por outro terreno sem a Defesa Civil e o Corpo
de Bombeiros me verem. Escutei o gemido de um idoso, que estava na beira do rio
agarrado por uma árvore. Gritei pedindo socorro, mas gritavam pedindo para eu
voltar, que ele não tinha como chegar aonde eu estava. Consegui tirar o senhor
da árvore e realmente não tinha como voltar. Desci com ele no colo pela
ribanceira e consegui chegar na estrada, onde parei um carro que o levou com
vida para o hospital”.
Igor ainda salvou uma jovem de 15 anos e ajudou a localizar dois corpos nesta
terça-feira. “Acordei e resolvi sair sozinho pelo mato em busca dos
desaparecidos. Foi quando encontrei dois corpos. Liguei, orientei os bombeiros
e eles conseguiram nos achar.”
“Não podemos esperar”
Um grupo de 20 moradores está praticamente sem dormir há dois dias. Comovidos
pelo desespero de quem ainda não achou seus familiares, eles desbravaram a mata
e acabaram achando uma menina em um córrego.
“Estamos aqui porque conhecemos o local e sabemos entrar onde o resgate não
consegue. A correnteza arrastou pessoas para dentro da mata. Já achamos uma e,
se o Corpo de Bombeiros ceder o equipamento que estamos pedindo, acharemos
mais”, disse o pedreiro Luis Henrique Vieira.
Em meio a dor, ladrões roubam casas
Uma série de furtos está deixando os moradores do bairro Quitandinha ainda mais
apreensivos.
“Minha casa está destruída e meus dois filhos estão mortos. Mesmo assim, ao
retornar ao local para recuperar as lembranças, tive a surpresa de que a minha
casa foi toda saqueada. Roubaram objetos de valor, roupas, comidas, tudo. É
muita maldade”, contou Luciano Santos de Barros.
Uma moradora que prefere não se identificar acusa moradores do próprio bairro.
“Como em todo lugar, a região também abriga traficantes. Mesmo com essa
situação de desgraça, eles estão se aproveitando e roubando casas e objetos dos
escombros”, diz.
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