quarta-feira, 3 de abril de 2013

Portugal: UM DIA DECISIVO PARA SEGURO




Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

Embora a figura não exista como tal,uma moção de censura também deveser construtiva
A moção de censura que o PS põe hoje à discussão na Assembleia da República tem uma dupla função nesta fase, apesar de estar condenada à rejeição.

Em primeiro lugar verberar a governação de Passos Coelho. Em segundo, tentar mostrar António José Seguro e o PS como uma alternativa credível. Por partes.

Há razões de sobra para censurar o governo. Além de não ter cumprido as promessas eleitorais feitas numa altura em que havia dados suficientes para não esconder o verdadeiro programa, o executivo não acertou uma única das suas projecções e o ambiente económico tem-se degradado diariamente, ao ponto de Portugal estar hoje mais perto que nunca de um segundo resgate, que já parece inevitável. Simultaneamente, a condição social da população tem-se degradado a um ponto inconcebível, com desemprego, recessão e desesperança. Além disso, o país está suspenso de decisões do Tribunal Constitucional depois de o governo ter, deliberadamente, optado por insistir em medidas que são manifestamente contrárias à lei fundamental, numa atitude que lembra aqueles condutores que andam em contramão e acham que são os outros que estão enganados. Além dos erros económicos, das trapalhadas ao nível da coordenação política, da estrutura pouco eficiente, o governo está também afectado por tensões entre os seus próprios membros e, o que é mais grave, por divergências públicas assumidas por importantes protagonistas dos dois partidos da coligação quanto à necessidade de recomposição. Claro que, objectivamente, nada disto põe formalmente em causa a legitimidade democrática do primeiro- -ministro nem a sua manutenção. O grande problema é que a equipa dá sinais de cansaço e de algum descontrolo, precisando no mínimo de uma recauchutagem, como acontecia antigamente aos pneus gastos.

Quanto a Seguro, a moção vem em momento adequado, se souber usá-la em seu favor. Em qualquer circunstância, o líder do PS precisaria de utilizar um momento depressivo do governo para ganhar ascendente político e dar de si uma imagem de alternativa credível. Essa necessidade tornou-se ainda mais imperiosa depois do regresso com estrondo à crista da actualidade de José Sócrates, que ainda por cima vai tornar-se comentador já a partir de domingo.

Ao contrário de Sócrates, Seguro não vai poder entrar em jogos de autojustificação do passado. Pelo contrário, tem de apresentar alternativas económicas, sociais e caminhos para o futuro que ultrapassem a mera dialéctica. Não tem evidentemente de chegar ao extremo de apontar soluções governativas em termos de coligação ou de maioria monopartidária, porque essa matéria está reservada ao eleitorado ou à Assembleia.

Se não subir à tribuna transmitindo esperança, ideias e convicção, Seguro não se poderá admirar se, com a dose de fatalismo que os caracteriza, os portugueses acabarem por usar no fim do debate expressões do tipo “para pior já basta assim”. Está nas mãos dele evitar que isso aconteça e, convenhamos, não parece missão impossível.

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