quinta-feira, 3 de outubro de 2013

MOSCOVO ATRAVESSA-SE NO CAMINHO DA UE

 


Postimees, Talin – Presseurop – imagem Peter Schrank
 
A Rússia pressiona cada vez mais insistentemente os seus antigos satélites para que adiram ao seu projeto de união euroasiática. A Lituânia, que apoia ativamente a aproximação com a UE, está, também ela, a ser alvo de pressões cada vez mais fortes.
 
 
As penalizações alfandegárias da Rússia sobre a Lituânia fazem parte de uma enorme luta pelo poder, com o Kremlin a querer obstruir a política de Parceria Oriental da União Europeia – forçando a Ucrânia, a Bielorrússia, a Moldávia, o Azerbaijão, a Geórgia e a Arménia a desistirem de qualquer aproximação à Europa, empurrando novamente esses países, por forma a ficarem sob a alçada de Moscovo, através da chamada união (aduaneira) euroasiática.
 
No entanto, a Lituânia, que atualmente ocupa a presidência rotativa da UE, está a planear a assinatura de acordos comerciais durante a cimeira de Vílnius, em novembro, com os Estados da Parceria Oriental (exceto a Bielorrússia, que ainda faz parte da união aduaneira euroasiática). A Lituânia tem defendido muito ativamente os Estados da Parceria Oriental, chamando a atenção da UE para o facto de o Kremlin os pressionar com guerras comerciais e outro tipo de chantagens.
 
Ao longo do mês de setembro, os veículos com placas de matrícula lituanas têm sido alvo, na fronteira lituano-russa, dos mais ferozes e cansativos procedimentos aduaneiros; desde 11 de setembro, esses procedimentos impedem a passagem de qualquer produto lituano para a Rússia. Esta semana, a Rússia anunciou regras ainda mais rigorosas para os produtos lácteos de origem lituana. Evidentemente, isto implica perdas económicas tanto para as empresas de transportes lituanas como para os exportadores. Se isto não é uma ação punitiva do Kremlin por causa da proteção aos Estados da Parceria Oriental, então o que é?
 
A batalha do Cáucaso
 
Bom, qual é a situação atual desta guerra geopolítica? Muito rapidamente, o Presidente Putin conseguiu puxar a Arménia para a união aduaneira controlada pelo Kremlin. E o resultado é que a Arménia não assinará qualquer acordo com a UE, em Vílnius.
 
Com a Arménia controlada, o Azerbaijão será o alvo seguinte – tem-se especulado que passos serão dados por Putin, e quando, no que diz respeito ao conflito de Karabakh; e isso, no entanto, pode não ficar limitado a meras frustrações aduaneiras. Apesar da enorme pressão, a Ucrânia mantém-se firme, inflexível à chantagem do Kremlin; o Governo ucraniano já aprovou uma proposta de associação comercial com a UE e espera assiná-lo em Vílnius. À Moldávia, foram feitas ameaças ainda mais cruéis.
 
As ameaças podem ser ainda mais cruéis em relação à Moldávia. Segundo o vice-primeiro-ministro russo, caso a Moldávia continue a ter aspirações europeias, poderá perder o controlo sobre a Transnístria e ter de enfrentar um inverno gelado, ou seja, perder o seu fornecimento de energia.
 
Parece que a UE está em vias de perder (ou já perdeu?) a batalha do [Norte do] Cáucaso; no entanto, a norte do Mar Negro, a pressão do Kremlin teve o efeito contrário, levando a Ucrânia, a Moldávia e a UE a uma cooperação mais estreita – e mais rápida.

Ponto de vista
 
A chantagem e os negócios lucrativos
 
“O Kremlin começou uma guerra económica contra a Lituânia. Ou será mais correto dizer uma campanha de terror?” escreve no Delfi o jornalista lituano Valentinas Mitė:
 
Os nossos camiões, cheios de produtos perecíveis, estão bloqueados na fronteira com o enclave russo de Kaliningrado. Os empresários lituanos sofreram um prejuízo de milhões de euros. O controlo dos carros tomou proporções ridículas. Moscovo quer mostrar à insolente Lituânia a sua ira. Por outras palavras, um vizinho deve ser um escravo ou um inimigo — “ili rab, ili vrag”, em russo. […] Toca a meter os lituanos no mesmo grupo do que os ucranianos e os moldavos! Os ucranianos tentam envenenar-nos com o seu chocolate, os moldavos com o seu vinho. Há inimigos por todo o lado. Sobretudo os que estão ligados à UE.
 
No Slate.com, a editorialista Anne Applebaum explica a atitude de Moscovo:
 
Uma vez que a Europa conseguiu elaborar acordos de associação com a Arménia, a Ucrânia e a Moldávia, não há nada que impeça a criação de acordos semelhantes com a Rússia no futuro. Mas as elites russas, lideradas pelo Presidente Putin, não agem no interesse da Rússia. Agem no seu próprio interesse. Por enquanto, estão convencidas de que o nacionalismo económico e a linguagem do neoimperialismo lhes vão garantir o apoio das pessoas e, se possível, dinheiro.
 
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