quinta-feira, 3 de abril de 2014

Austrália veda acesso a arquivos sobre crimes de guerra indonésios em Timor- Leste




O Tribunal de Recurso Administrativo da Austrália deu razão ao Arquivo Nacional, que recusou a um professor universitário acesso a arquivos com informações sobre crimes de guerra indonésios em Timor-Leste, noticiou hoje a imprensa australiana.

Em janeiro, o procurador-geral australiano George Brandis já tinha impedido a presença do professor e antigo membro das forças armadas australianas Clinton Fernandes nas audiências.

Clinton Fernandes é professor associado da Universidade New South Wales, em Sydney, e tenta há seis anos ter acesso a arquivos dos departamentos das Relações Externas e Comércio do Governo australiano, que têm relatos sobre uma grande ofensiva militar indonésia em Timor-Leste ocorrida no final de 1981 e no início de 1982.

Na operação, os militares indonésios utilizaram mais de 60 mil civis como escudos para expulsar guerrilheiros de determinados locais. A operação terminou com um massacre de centenas de civis timorenses.

Clinton Fernandes pediu para consultar registos de conversas entre diplomatas australianos em Jacarta com um oficial da inteligência indonésia, assim como telegramas diplomáticos australianos e relatórios dos serviços de inteligência.

O Departamento de Defesa australiano já reconheceu que monitorizou comunicações de rádio de militares indonésios em Timor-Leste, mas o Arquivo Nacional da Austrália disse que o acesso a alguns registos solicitados pelo professor "contraria os acordos da Austrália com os Estados Unidos sobre a proteção de informação classificada".

Na audiência, realizada quarta-feira, o juiz Duncan Kerr lamentou ter de tomar uma decisão que era "incapaz de explicar".

O juiz referia-se a evidências dadas pelo Departamento das Relações Externas e do Comércio que em maio de 2013 o governo norte-americano aconselhou o executivo australiano a manter o "acesso restrito a quatro documentos" que permanecem "sensíveis".

As autoridades australianas referem também que a divulgação dos documentos poderia provocar danos nas relações com parceiros internacionais e lembrou a "especial sensibilidade" das relações entre a Indonésia e a Austrália, sublinhando que existem atualmente "tensões significativas", explicou o juiz.

Clinton Fernandes disse à imprensa que estava determinado em continuar a lutar pela consulta e divulgação dos documentos.

"Não deveríamos estar a encobrir atrocidades contra o povo timorense e seus padres e irmãs por mais de 30 anos. Vou continuar a desafiar os tribunais, ganhe ou perca. Quinze anos nas forças armadas australianas treinaram-me para ser resiliente", disse.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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