Folha
8, 26 julho 2014
O
vice-primeiro-ministro de Portugal, Paulo Portas, afirmou em Luanda que Portugal
mantém com Angola a mais “intensa” relação, admitindo que o mercado angolano,
pela aposta das empresas portuguesas, ajudou o país a ultrapassar as
dificuldades económicas.
“As
relações económicas entre Angola e Portugal são fortíssimas, eu diria mesmo que
não há nenhum outro país no mundo com quem Portugal tenha uma relação tão intensa
como com Angola”, afirmou Paulo Portas à chegada para a sua quarta visita à
Feira Internacional (FILDA) de Luanda.
No
certame estão representadas mais de 100 empresas de Portugal, entre mil
expositores provenientes de 39 países, sendo o contingente português o mais
representativo de sempre e de maior expressão.
O
vice-primeiro-ministro destacou, a propósito desta feira, que o volume das
trocas comerciais entre os dois países, em ambos os sentidos, atingiram em 2013
“a melhor marca de sempre” e já ultrapassam os 7.500 milhões de euros anuais.
Tendência
que, ainda segundo Paulo Portas, se repete em 2014, com as exportações entre
os dois países novamente a crescer. Além disso, recordou, Angola é hoje “o
primeiro cliente de Portugal fora da Europa”, com 8.800 empresas portuguesas a
actuarem no mercado angolano.
Paulo
Portas enfatizou que Portugal, à excepção do sector petrolífero, é “o maior
investidor estrangeiro em Angola”, participando “activamente no
desenvolvimento da sociedade e da economia” angolanas e “criando oportunidades
para todos”. No sentido contrário, admitiu também, há “investimentos
importantes” angolanos em Portugal.
“O
que significa que, com uma abordagem que respeita a soberania dos dois Estados
e é pragmática para obter ganhos para ambos em termos empresariais e
económicos, a relação entre Portugal e Angola é única e que só pode crescer”,
enfatizou Paulo Portas.
Questionado
sobre a importância que o mercado angolano representou para as empresas portuguesas
afectadas pela crise financeira interna e pelas
dificuldades em alguns destinos de exportação dentro da União Europeia, o
vice-primeiro-ministro admitiu que África, e em especial An gola,
representou uma alternativa decisiva.
“As
empresas portuguesas partiram, navegaram, foram para economias emergentes.
África é um dos continentes de maior potencial económico, Angola é uma potência
africana. Estão aqui quase 9.000 empresas portuguesas a trabalharem este
mercado, imaginem quantos postos de trabalhos são defendidos pelo facto de
conseguirmos aqui exportar o que exportámos, investir o que investimos”,
concluiu.
Ainda
não há muito tempo, era então ministro dos Negócios Estrangeiros deste mesmo
Governo, Paulo Portas afirmou que Portugal considerava que o fenómeno das
“Primaveras Árabes” foi provocado pela asfixia da liberdade e pela falência de
regimes autoritários.
Traduzindo
as afirmações de Paulo Portas, que têm obviamente leituras diferentes
consoante os protagonistas, fica a saber-se que em Angola, embora o regime
autoritário de Eduardo dos Santos esteja socialmente falido e a liberdade já
nem respire, tudo é diferente.
Embora
José Eduardo dos Santos esteja no poder desde 1979, sem nunca ter sido
nominalmente eleito, ainda está no galarim dos bestiais e por isso merece toda
a confiança, apoio, solidariedade e outras mordomias. Quando passar a besta,
então sim, Paulo Portas vai dizer que o regime angolano asfixiava a liberdade.
De
facto a liberdade já não respira e o regime angolano é autoritário, para além
de desonesto. A liberdade só existe para pensar o que o regime quer, e o
regime mostra todo o seu autoritarismo e desonestidade ao querer que os seus
súbditos sejam carne para canhão.
“Muitos
destes países (árabes) pedem muita informação a Portugal e solicitam muitos
constitucionalistas, muitos políticos experientes no nosso país, para lhes
poderem dizer o que é que aconteceu há cerca de quatro décadas em Portugal e
como é que se fez a transição de uma Constituição para outra, de um regime para
outro. Nós nessa altura tivemos seis governos
provisórios até chegarmos à normalidade constitucional”, disse Paulo Portas
quando visitou a Tunísia.
Para
Paulo Portas, repita-se, foram a falta de soluções, a ausência de liberdade
e o poder prolongado de regimes autoritários as causas das mudanças nos países
do Norte de África. Quando disse isto estaria a pensar no seu grande, embora
recente, amigo José Eduardo dos Santos?
Seja
como for, o governo português continua desesperadamente à espera da OPA
(Oferta Pública de Aquisição) do MPLA sobre Portugal. Que importa que Angola
seja de facto, que não formalmente, uma ditadura? Sim, o que é que isso importa
tanto para o governo português supostamente social-democrata, para um
vice-primeiro-ministro democrata-cristão ou para um presidente da República
que é um misto de nada com coisa nenhuma?
A
única coisa que conta é o petróleo, que é um bem muito – mas muito - superior
aos direitos humanos, à democracia, à liberdade, à cidadania. Reconheça-se,
contudo, que a hipocrisia não é uma característica específica de Portugal, se
bem que tenha nele alguns dos seus mais latos expoentes.
E
como Angola tem petróleo, ninguém se atreve a perguntar a Paulo Portas se acha
que Angola respeita os direitos humanos. Além disso, como não poderia deixar de
ser, ele não vê o que se passa mas amplia o que gostava que se passasse. Vai
daí não se cansa (embora sem a mesma efusividade de José Sócrates) de
enaltecer os méritos do regime angolano.
É
claro que em Angola, tal como nos restantes países da Lusofonia, existem
muitos seres humanos que continuam a ser gerados com fome, nascem com fome e
morrem, pouco depois, com fome. Mas, é claro, morrem em português... o que
significa um êxito também para Portugal.
Paulo
Portas, tal como Cavaco Silva, Passos Coelho e José Sócrates, tem razão. O
importante é mesmo os famintos e miseráveis da Lusofonia saberem dizer, em bom
português, “não conseguimos viver sem comer”. Continuarão, como até aqui, sem
comida, sem medicamentos, sem aulas, sem casas, mas as organizações
internacionais vão perceber o que eles dizem.
Recordam-se
que, no dia 6 de Maio de 2008, o músico e activista Bob Geldof afirmou, em
Lisboa, que Angola era um país “gerido por criminosos”? Ele disse, mas nem
Cavaco, nem Sócrates, nem Passos Coelho, nem Paulo Portas ouviram. E não
ouviram porque as verdades são duras e Eduardo dos Santos, não iria gostar que
eles dissessem que ouviram.
PORTUGAL
E ANGOLA COOPERAM NO BRANQUEAMENTO DO BESA
O
vice-primeiro-ministro português, Paulo Portas, veio cá dizer que os bancos
centrais de Angola e de Portugal estão a trabalhar em conjunto na situação no
Grupo Espírito Santo e ramificações nos bancos do grupo nos dois países. Em
estudo estará, previsivelmente, a dose de sabão a usar para um melhor branqueamento.
A
posição do governo português foi transmitida aos jornalistas após uma audiência
de quase uma hora entre Paulo Portas e o Presidente da República, José Eduardo
dos Santos, no âmbito da visita do vice-primeiro-ministro português.
“Eu
serei naturalmente discreto sobre essa matéria, mas sempre poderei adiantar
que os reguladores de Angola e de Portugal têm trabalhado conjuntamente e eu
confio nas medidas de estabilização que saberão encontrar”, afirmou Paulo
Portas.
O
Banco Espírito Santo detém 55,71 por cento do BES Angola, instituição bancária
que segundo o próprio regulador angolano apresenta problemas na carteira de
crédito. Forma simpática e já branqueada de referir as vigarices protagonizadas
por altos dignitários do regime, tal como o Folha 8 revelou na edição passada.
Embora
sem adiantar o teor da conversa com José Eduardo dos Santos ou a solução
técnica para o caso, Paulo disse apenas entender que a articulação em curso é
um “sinal com confiança”.
Há
pouco mais de uma semana o Governador do Banco Nacional de Angola (BNA) admitiu
existir um “problema” na carteira de crédito do BESA, perspectivando a
necessidade de um reforço de capitais.”Há um problema nesta altura
identificado com a qualidade da carteira de crédito do Banco Espírito Santo
[Angola]. Temos operações em situação irregular, operações de crédito malparado”,
disse José de Lima Massano.
O
Governador foi questionado pelos deputados da Oposição sobre os relatos de um
volume de crédito malparado naquele banco que poderia atingir os 5,7 milhões
de dólares e que terá sido alvo de cobertura parcial por uma garantia soberana
do Estado angolano.
O
Governador do BNA explicou que a instituição está a ultimar a conclusão de uma
avaliação à situação daquele banco, mas admitiu um cenário de “reforço dos
capitais por parte dessa instituição”, entre outras “recomendações” do
regulador angolano para “mitigar as irregularidades e inconformidades detectadas”
no BESA.
“Não
está em causa nem a garantia dos depósitos constituídos junto do BESA nem as
responsabilidades que esse banco tem perante terceiros. E muito menos a
estabilidade do nosso sistema financeiro”, disse José de Lima Massano.
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