quarta-feira, 6 de agosto de 2014

MÉDICO COMPARA DETENÇÃO DE IMIGRANTES NA AUSTRÁLIA COM TORTURA




Sydney, 05 ago (Lusa) - O sistema australiano de detenção de imigrantes é um ambiente comparável a tortura, afirma o psiquiatra chefe de requerentes de asilo dos últimos três anos num relatório divulgado hoje.

Peter Young, até recentemente o diretor de saúde mental da empresa que fornece cuidados de saúde a imigrantes detidos, alegou que o período de detenção era deliberadamente difícil de maneira a coagir as pessoas a voltarem para o seu país de origem.

"Temos aqui um ambiente que é inerentemente tóxico", afirmou Young ao jornal The Guardian Australia, salientando que o sistema "tem estas características que, ao longo do tempo, causam danos à saúde mental dos imigrantes. Temos provas muito claras de que este é o caso".

As rígidas políticas de imigração australianas visam levar os refugiados a não arriscarem a entrada no país.

Após um endurecimento da política no ano passado, todas as pessoas que cheguem em barcos não autorizados não podem instalar-se no país, mesmo sendo refugiados, e são enviados para a Papua Nova Guiné ou para Nauru, uma pequena ilha a nordeste da Papua Nova Guiné.

Scott Morrison, o ministro da imigração, refutou acusações de esconder problemas de saúde mental nos campos de requerentes de asilo, e pediu às pessoas para não retirarem já conclusões, durante a realização de um inquérito da Comissão dos Direitos Humanos.

Young, que na última semana respondeu no inquérito, acusou o governo de criar um sistema designado para produzir sofrimento e criar um estado mental negativo entre os detidos.

"Se considerarmos a tortura como o dano deliberado de outras pessoas em ordem a coagi-las para um resultado desejado, penso que esta situação está dentro da definição", afirmou Young.

Young relatou ao The Guardian que um terço dos imigrantes detidos pela Austrália no país, no território remoto da Ilha Natal no oceano Indico, e nos campos pacíficos de Nauru e Papua Nova Guiné apresentavam um nível significante de distúrbios mentais.

Segundo Young, "quanto mais tempo as pessoas passam detidas, maior é o risco de que estes sintomas evolvam para algo que pode ser reconhecido num diagnóstico psiquiátrico".

De acordo com números oficiais, atualizados a 31 de julho, perto de 1127 requerentes de asilo encontravam-se na ilha de Manus, na Papua Nova Guiné, e 1146 em Nauru. Outros 355 detidos voltaram voluntariamente para o seu país natal desde setembro.

HZL// PJA - Lusa

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