O
ex-presidente da Câmara Municipal de São Filipe, Eugénio Veiga, que coordenou o
processo da erupção vulcânica de 1995, considerou que há um “exagero na gestão
militarizada em afastar as pessoas” de Chã das Caldeiras.
Para
o ex-autarca, o perigo acontece na altura das explosões, mas em relação ao
percurso das lavas, mesmo estando em grande velocidade, “não constituem perigo”
para as pessoas que podem “conviver pacificamente sem quaisquer perigos”.
“Em
vez de uma gestão militarizada, a ilha do Fogo precisa neste momento de uma
ligação marítima diária, na ausência de ligação área, transportando turistas
que de forma organizada podiam deslocar-se à Chã para acompanhar a erupção, e
cujas receitas seriam destinadas às vítimas da própria erupção”, disse o
ex-autarca.
Eugénio
Veiga, que já efectuou várias visitas aos centros de acolhimento, sendo a
última na noite de domingo, disse ter anotado uma “desorganização nos centros
de Monte Grande e de Achada Furna”, indicando que há necessidade de “reforço da
solidariedade” porque nesses centros há uma “racionalização na própria
alimentação” da população deslocada.
Em
relação à erupção em curso, o ex-autarca disse que a de 1995 era mais
explosivo, mas que a de 23 de Novembro é mais devastadora, tendo em conta as
áreas já consumidas e a possibilidade da sua deslocação para o município dos
Mosteiros.
“Os
danos materiais são muito maiores e podem ter consequências a nível da ilha”,
disse o ex-presidente da autarquia de São Filipe, indicando que a erupção de
1995 veio criar uma “perspectiva económica” para Chã das Caldeiras com o
surgimento de várias iniciativas, enquanto esta veio a “destruir essa
perspectiva” por não ter deixado espaço para edificação de novos espaços
económicos.
Mesmo
a nível de turismo, salientou, só com “muito esforço e recursos económicos”
será possível criar condições para que turistas possam visitar Chã das
Caldeiras no futuro.
Para
o ex-autarca, que é originário da localidade de Relva, situada no sopé do
vulcão, se a erupção continuar como a de 1995 e mantendo o ritmo de emissão de
lavas pode sair para os Mosteiros e as consequências seriam “muito mais
desastrosas”.
Tendo
em conta a experiência acumulada com a erupção de 1995, Eugénio Veiga afirmou
que se houvesse uma intervenção humana e com recursos a equipamentos pesados
para criar desnível, o percurso das lavas podia ser desviada para Boca Fonte e
o impacto sobre Portela e Bangaeira seria “possivelmente menor”.
Segundo
o mesmo, o impacto da erupção não se limitou a Chã das Caldeiras e regista
“consequências gravíssimas” no sector pecuário em virtude das cinzas e areias
vulcânicas que atingiram as zonas entre Achada Furna e Cabeça do Monte, com
“forte concentração” de gado, provocando inclusive mortes aos animais.
Foto
Nicolau Centeio / Lusa
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