O
ministro dos Negócios Estrangeiros condenou hoje no parlamento a atitude do
anterior Governo perante os emigrantes, que acusou de quase os empurrar
"para fora do país", afirmando que tenta "contrariar os efeitos
devastadores" deste discurso.
"O
grande mal que se fez à emigração nos últimos anos foi o efeito de discurso, foi
a atitude que se teve. A ideia de que era possível partir os portugueses em
duas categorias, entre os que tinham medo e ficavam, e aqueles que se
aventuravam e saíam da zona de conforto ou lá como se dizia", disse
Augusto Santos Silva no parlamento, durante o debate na especialidade da
proposta de Orçamento do Estado para 2016.
"Em
certos aspetos foi próximo de qualquer coisa como empurrá-los para fora",
considerou, em resposta a deputados do PCP e Bloco de Esquerda, que condenaram
as políticas do anterior Governo.
O
executivo PSD/CDS-PP passou a ideia de que "o país não era uma pátria e
que as pessoas tinham de encontrar outras pátrias", o que "inflige um
dano moral e simbólico que é muito mais forte que todos os cortes que se fez,
alguns deles todos somos capazes de compreender", disse Santos Silva.
O
ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou que nas suas deslocações externas,
bem como nas dos seus secretários de Estado, há sempre um "momento de
contacto com as comunidades", que devem estar no centro da política
externa portuguesa.
"Mais
do que emigrantes, são portugueses espalhados por esse mundo, em mobilidade,
pelas mais diversas razões, mas todos eles fazem Portugal. Estou a tentar
contrariar os efeitos que me pareceram devastadores de um discurso que nos
chegou a dividir em dois", declarou.
Na
sua intervenção inicial sobre a proposta de Orçamento para 2016 - no total de
374,4 milhões de euros, menos seis milhões que no ano passado -, o governante
pediu a compreensão dos deputados para a necessidade de realizar um
"pequeno aumento com despesas de pessoal", na ordem dos três milhões
de euros.
O
ministro justificou esta necessidade com a existência de "casos
dramáticos" no funcionamento da rede consular e diplomática, em que
"a sangria de pessoal foi enorme".
A
este propósito, o deputado socialista Paulo Pisco saudou "o virar da
página da austeridade" e lembrou que, nos últimos anos, saíram perto de
mil efetivos do ministério dos Negócios Estrangeiros, entre os quais cerca de
500 funcionários consulares, 200 professores do ensino de português no
estrangeiro e 40 diplomatas.
Quanto
ao reforço dos serviços consulares, o governante anunciou, em resposta à
deputada comunista Carla Cruz, que "com este Governo, não haverá
externalização dos atos consulares", e adiantou que as permanências
consulares, iniciadas pelo anterior executivo, serão continuadas.
Questionado
pelo deputado Pedro Filipe Soares (Bloco de Esquerda) sobre "a
hecatombe" do BES, que "trouxe um problema gravíssimo" para
muitos emigrantes, Santos Silva respondeu que "uma das razões que levou o
Governo a decidir pela resolução do Banif foi também impedir que emigrantes na
Venezuela perdessem, de um momento para o outro, o equivalente pelo menos a 200
milhões de euros em poupanças que confiaram a instituições bancárias em que
acreditavam".
Lusa,
em Notícias ao Minuto
Sem comentários:
Enviar um comentário