quinta-feira, 20 de abril de 2023

Portugal | O PAÍS QUE ADORMECE

Domingos de Andrade* | Jornal de Notícias | opinião

O Partido Socialista está a comemorar 50 anos de história como se não houvesse amanhã. Em vez de humildade e reflexão pelos dias que atravessamos e, sobretudo, pela crise das instituições e do Estado, aquilo a que se assiste é à total vacuidade da política, assente na arrogância da idade, de quem tudo fez e acha que tudo pode.

A pergunta a que todos os militantes e simpatizantes deveriam estar a responder é simples e a sua assunção poderia ser um primeiro passo para uma verdadeira celebração em festa, porque o nascimento de um partido e o assinalar da passagem dos anos é festejar a própria Democracia.

Se hoje, pergunta-se, o presidente da República dissolvesse a Assembleia da República, com o PS em maioria, haveria alguém que não percebesse?

Hoje, objetivamente, o Governo está nas mãos do chefe de Estado, como nenhum outro Executivo com maioria absoluta no Parlamento alguma vez esteve. António Costa e o PS colocaram-se numa posição de vulnerabilidade, cuja inteira responsabilidade só pode ser assacada aos próprios e em que já nem as decisões tomadas por quem parece estar permanentemente em campanha eleitoral parecem ajudar.

É tardio o reconhecimento do erro com as pensões, é tardio e sem aparente efeito decretar o IVA zero para umas dezenas de produtos, ou anunciar novas medidas de apoio aos portugueses que atravessam grandes dificuldades. É tardia e pouco visível a execução do PRR e nem vale a pena comparar com os vizinhos espanhóis, que vão já na quarta tranche.

Este é o Partido Socialista que adormece a saber que o gabinete do ministro João Galamba organiza secretamente reuniões entre a ex-CEO da TAP e deputados do PS. E acorda a saber que a mulher do mesmo Galamba foi escolhida para um Ministério sem ninguém ter refletido sobre a necessidade de haver transparência no processo.

O pior de tudo é que a soma de todos os casos e casinhos permite que se olhe com desprezo para a política em geral e para alguns políticos em particular, alimentando a expectativa dos extremistas que vivem como parasitas à espera da derrocada da Democracia.

O país merecia melhor.

*Diretor-Geral Editorial

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