quarta-feira, 14 de novembro de 2012

SEM CRÉDITO

 


 
A mensagem de incentivo que Angela Merkel trouxe ao Governo de Portugal, espalhada pelos meios de comunicação a todo o mundo, teve vida curta. O Banco de Portugal (BdP), menos de um dia depois, veio deitar por terra a visão governamental dos efeitos da sua política de austeridade orçamental em 2013. Não se trata de um palpite à mesa de café, nem de uma das inúmeras tertúlias de escárnio e maldizer que enxameiam a blogosfera. Como resultado de um trabalho de análise independente, conclui-se que, também no BdP se prevê um ano negativo como resultado do forte aperto fiscal que se estende a muitos mais contribuintes no próximo ano. O consumo de milhões de portugueses e o investimento de milhares de empresários vão cair muito mais do que o previsto. O produto recuará muito mais e não será ainda em 2013 que se poderá dar a tão ansiada inversão de tendência económica.
 
Os parceiros sociais dizem outro tanto. Já não se trata de uma "tendência doentia" de comentadores para ressaltarem sempre os piores cenários possíveis. São praticamente todos os atores da cena económica a afirmarem que não acreditam no caminho que o Governo lhes impõe. Não é possível arrancar uma economia, ou seja, toda uma população, da espiral destrutiva da recessão com medidas desacreditadas perante quem cria os bens e serviços, quem os consome, quem impulsiona uma economia nacional. Até já o FMI o admite.
 
Já o Governo mantém-se frio e distante perante este coro de dissidentes, de uma diversidade e amplidão sem precedentes. Até ao fim do mês fechar-se-á a discussão e a votação final do OE 2013. Será que os grupos parlamentares da maioria vão aprovar o documento apesar de tanta discórdia? Ou irão acertar alterações até lá?
 
Que greve teremos
 
Qual o impacto da greve geral da CGTP marcada para hoje? Qual o grau de contestação social a que vamos assistir? Estas duas questões não têm resposta fácil. Uma greve deste género, como se sabe, fica sempre ligada ao grau de paralisação dos transportes, que afeta todos os resultados. Ora nesse sector as paragens têm-se sucedido e hoje não será exceção. Nas restantes áreas, só ao longo do dia se perceberá se os portugueses vão aproveitar o argumento e a oportunidade para fazerem um novo voto de protesto contra o garrote da austeridade ou se a situação precária da empregabilidade no País e o impacto da perda de um dia de ordenado nos salários já reduzidos pesará na decisão.
 
Há ainda um outro fator a ponderar. O facto de a CGTP não ter convidado a UGT a juntar-se a esta greve geral revela alguma divisão nos protestos. Algo que se deve à história de concorrência entre as duas centrais sindicais em Portugal, a que se junta agora a necessidade de afirmação da nova liderança de Arménio Carlos, por um lado, e a assinatura isolada e criticada de João Proença no Acordo de Concertação, por outro. Mesmo assim, mais de 30 sindicatos afetos à UGT e o próprio líder vão aderir à greve.
 
E há ainda que contar com o efeito de se tratar de uma greve europeia, que se fará sentir especialmente em Espanha, Itália e Grécia, de onde podem vir exemplos mais radicais. E perigosos. Amanhã se fará o balanço.
 

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