quarta-feira, 14 de novembro de 2012

ANTES PARADOS QUE ARRASTADOS PARA O ABISMO

 


Luís Rainha* – Jornal i, opinião
 
Para o nosso cardeal patriarca, isto das greves é um incómodo a evitar pelas formigas industriosas que todos deveríamos ser. Para iluminados como a directora do “Destak”, no lado dos “fura-greves” é que encontraremos “coragem e convicção” – mesmo que depois aqueles costumem ser lestos a aproveitar as conquistas dos que se deram ao incómodo de agir. Esta ideia já faz parte do sedimento de detritos vários que compõe o nosso senso-comum: precisamos de vergar a mola, de labutar até ao desfalecimento, para tirar Portugal da crise, para crescer, para amanhã acordarmos ricos como alemães.
 
E se a tripulação do Titanic se tivesse revoltado contra um comandante apostado em bater recordes de velocidade a todo o custo? E se uma greve tem eclodido antes do previsível encontro com a montanha de gelo? Os braços cruzados, ignorando previsões de derivas sinistras, teriam sido afinal a única manifestação de sanidade naquela noite. Menos um tema para xaropadas cinematográficas; mas milhares de vidas teriam sido poupadas à condição de adereços fúnebres no mito.
 
Por falar em fitas manhosas, que dizer da obra encomendada pelo omnisciente Marcelo? A procissão de figurantes em fuga do Parque Mayer, coreografando truísmos para sossegar a Führerin, é talvez o espectáculo mais deprimente e sabujo do ano; chegando a um clímax quase erótico ao garantir que até as nossas manifestações acabam em beijinhos entre polícias e ninfetas de subúrbio. Mais uma bela ocasião para greve que se perdeu.
 
*Publicitário
 

Sem comentários:

Mais lidas da semana