Eugénio Costa
Almeida* – Pululu
Citando de
memória o primeiro presidente de Angola, Dr. António Agostinho Neto: “Conseguimos
ter melhores reacções com os partidos de direita portuguesa do que com a
esquerda que nos está próxima”. Isto foi dito, mais palavra, menos palavra,
durante o consolado português da AD.
Uma vez mais, as
reações Angola/Portugal passam, a nível institucional governativo por um
excelente período com as recentes visitas do MNE português, Paulo Portas, a
isso demonstrarem. Recordemos que PP chegou a afirmar que José Eduardo dos
Santos, presidente de Angola, é “grandes líderes africanos” contra a
opinião de alguns dirigentes portugueses, socialistas e bloquistas, que
consideram o actual regime angolano mais próximo de uma autocracia, de uma democratura.
Se a nível
institucional governativo as relações parecem ser próximas do ideal –
espectava-se uma visita, em breve, do chefe de governo português Passos Coelho,
a Angola – já as relações comunicacionais estão em linha de ruptura com vários
confrontos entre o órgão oficioso do Governo de Angola, o Jornal de Angola
(JA), e alguns órgãos justicialistas e comunicacionais de Portugal,
nomeadamente, o DCIAP e o Expresso.
Por norma o JA
reflecte a linha oficial de Luanda. Todavia, quando os temas saem directamente
da pena do seu director fica-se com a sensação que elas difundem somente a
vontade do mesmo em criar conflitos entre a sua original terra-pátria e a
sagrada terra de acolhimento.
No entanto, não se
pode deixar de admitir que algumas das afirmações apresentadas nos recentes
editoriais do JA não deixam de conter alguma incómoda verdade para quem lê e
quem comenta.
Senão vejamos, como
é possível que um processo, natural nas relações interbancárias, já seja
apresentado como um processo jurídico sob a forma de inquérito pecaminoso? Do
que se sabe, o PGR de Angola só fez uma transferência em dinheiro que,
ultrapassando o limite máximo normal aceite internacionalmente, levou a que o
banco depositário avisasse o banco central e este, por sua vez, dado ser uma
entidade estrangeira, avisasse o sistema jurídico português que, mais não terá
feito que cumprir as normas e mandar uma carta rogatória ao PGR angolano
solicitar os devidos e oportunos esclarecimentos.
Ora a notícia que
se transmitiu quase indiciava que o visado era um veículo de “limpeza” de
dinheiro e, naturalmente, ninguém gosta que um seu magistrado seja conotado
desta forma. Com a agravante do caso mostrar contornos de fuga de informação;
nada que já não seja habitual na Justiça lusa.
Acresce que esta
notícia teve maiores honras por ter acontecido por alturas do aniversário da
morte de Jonas Savimbi, reconhecido como o último líder africano que defendia a
liberdade efectiva dos africanos e que, simultaneamente, era admirado pelo
actual chefe da diplomacia portuguesa e por aqueles que debradam Eduardo dos
Santos – recorde-se as palavras de Mário Soares na sua recente biografia, da
autoria de jornalista Joaquim Vieira, quando verbera a entrada dos antigos
líderes norte-africanos derrubados pela “Primavera árabe” e aos quais inclui o
MPLA e dos Santos, na Internacional Socialista. (...)"
- Publicado no
portal LusoMonitor.
*Página de um
lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e
Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele poderão
aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade
académica, social e associativa.
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