O bispo emérito D.
Januário Torgal Ferreira disse, em outubro quando se retirou, que não se iria
calar e este fim-de-semana em entrevista ao jornal i, cumpre a promessa. Além
de defender que “o grande erro deste Governo é ético, de incapacidade, de
tentativa de salvação”, afirma ainda que “os católicos” que a ele pertencem
“não deviam comungar”.
Começando por
assumir que “agora” que está retirado tem “maior disponibilidade” e continua
“atento e interessado na forma como a nossa sociedade vai evoluindo”, D.
Januário Torgal Ferreira, bispo emérito das Forças Armadas, volta a apontar o
dedo à atuação do Governo em entrevista ao jornal i, publicada na edição deste
fim-de-semana.
“Sinto-me cada vez
mais livre relativamente ao que me rodeia. Agora não dependo de correntes, de
pessoas ou de ordenados. Acredito cada vez mais na liberdade. Não acredito é
nas deformações da democracia em que vivemos”, esclarece D. Januário Torgal
Ferreira, defendendo que “o grande erro deste Governo é um erro ético, de
incapacidade, de tentativa de salvação de uma situação infame criada ao longo
de vários anos”.
Confessa que
“esperava” mas - pelos vistos enganou-se – “que as pessoas a quem o poder foi
entregue por voto popular tivessem aprendido com o passado. Mas a situação a
que chegámos é esta: é preciso que fique escrito na história que somos os
salvadores de uma dívida”.
“Não tenho má
vontade e fico muito satisfeito enquanto português” com “esses indicadores” que
mostram que a economia está a recuperar mas, lembra, “também há outros
indicadores. Relativamente ao desemprego, por exemplo, é certo que parece haver
um recuo nos últimos meses, mas a massa humana de desempregados não sente o
peso destes números”.
E este facto
resulta, defende, da “má política” que “usa sempre o truque e o embuste”, neste
caso, “o silêncio da derrota”. Como? Desde logo, prossegue, porque “o campo
estatístico também mostra que, ao mesmo tempo em que há esse crescimento
económico tímido e subtil, o desemprego jovem continua a crescer” e “ainda há
os números da emigração”.
“E isto é que é
triste: que as pessoas que têm todos os dados não os transmitam com toda a
liberdade. Se as pessoas disseram que se lixem as eleições”, afirma o
bispo emérito, numa clara alusão às declarações do primeiro-ministro Passos
Coelho, “porque o que interessa é o bem comum, porque é que não têm essa
clareza?”, questiona, dando um exemplo concreto deste “truque”: “Este
contributo de solidariedade (a CES), por exemplo, não passa de um imposto,
apesar de o Governo não usar a palavra ‘imposto’”.
Neste sentido,
considera D. Januário Torgal Ferreira, “estão a corrigir da pior forma,
aumentando a desgraça dos mais desgraçados. Estamos a pagar uma dívida que,
obviamente, devemos pagar, mas não com custos de aumento da dívida pública e
penalizando quem não pode pagar. como os mais pobres e a classe
trabalhadora”. “Este Governo tem problemas de consciência gravíssimos (…) em
relação aos mais idosos, à divisão de classes, à desconfiança que criou, à
penúria, à opressão. Hoje Portugal tem um mundo de gente oprimida, abandonada,
revoltada. O Governo precisa de abrir os olhos”, alerta.
Ao jornal i, o
bispo emérito afirma ainda que os “cristãos do CDS se sentem muito
envergonhados. E os dos outros partidos” com este rumo porque, justifica, “têm
sentimentos e valores”. “O ‘irrevogável’ [de Paulo Portas] só demonstrou que a
pessoa não tem carisma para vencer uma crise caseira”.
Por tudo isto, e
outras críticas mais que tece nesta entrevista, D. Januário Torgal Ferreira é
da opinião que os “responsáveis ou coniventes” com certas medidas que estão a
ser impostas aos portugueses “não deviam comungar”.
Ana Lemos, em Notícias
ao Minuto
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