Folha
8, 30 agosto 2014
Os
passageiros que entrarem em Angola através do aeroporto internacional de
Luanda com sintomas de febre vão ficar em quarentena, como forma de despistar
eventuais casos de Ébola, informou a directora provincial de Saúde. Muito bem.
Mas será por aí que o país corre os maiores riscos? Claro que não. Então, mais
do que uma medida preventiva, é uma medida de marketing copiada de países que
não têm, como é o nosso caso, uma tão enorme fronteira terrestre com um país potencialmente
vulnerável ao vírus, como é o caso da República Democrática do Congo.
De
acordo com Rosa Bessa, no aeroporto internacional 4 de Fevereiro, em Luanda,
já funciona em permanência uma equipa de saúde para inspecção dos passageiros,
agora munida de sensores de temperatura tendo em conta que um dos principais
sintomas do Ébola é a febre.
“Aqueles
casos que chegarem ao país com febre, detectada por estes sensores, terão de
ser encaminhados para quarentena e fazer-se uma investigação”, explicou a
directora provincial de Saúde de Luanda, Rosa Bessa.
Angola
passou a integrar o grupo de países com risco “moderado a alto” de infecção
por Ébola, depois de casos confirmados na República Democrática do Congo (RDCongo).
“Até
há uma semana, Angola era considerada como um país de baixo-médio risco. Neste
momento entra para o grupo de países com risco moderado a alto, porque tem um
país vizinho com a epidemia confirmada”, explicou Adelaide de Carvalho,
Directora Nacional de Saúde Pública, referindo-se à classificação
internacional sobre a propagação da doença.
As
autoridades sanitárias estão agora a “redobrar” e a “acelerar” a mobilização de
equipas para o controlo, alerta e vigilância sanitária, nomeadamente nos postos
de fronteira a norte.
A
evolução da propagação do Ébola por vários países do continente africano e as
medidas de protecção adoptadas em Angola foram analisadas pela Comissão para
a Política Social do Conselho de Ministros, sob orientação do vice-presidente
da República, Manuel Vicente.
“Temos
de estar mais atentos à movimentação de pessoas, mas não entrar em pânico”,
defendeu o ministro da Saúde, José Van-Dúnem, no final dessa reunião, a
propósito dos sintomas da infecção por Ébola, que podem ser reconhecidos pela
população.
De
acordo com o Executivo, a forte movimentação de pessoas com a RDCongo -
Angola, através de sete províncias, partilha uma vasta fronteira terrestre com
aquele país - já obrigou à adopção de “medidas preventivas”. Nomeadamente ao
nível da vigilância das fronteiras, com agentes de segurança e militares
munidos de elementos de biossegurança.
A
RDCongo confirmou já os seus primeiros casos de febre hemorrágica Ébola, que
já afecta quatro outros países africanos.
“Os
resultados são positivos. O vírus Ébola está confirmado na RDCongo”, declarou
o ministro da Saúde congolês, Félix Kabange Numbi, a propósito das amostras
retiradas a pessoas com uma febre hemorrágica que causou 13 mortos desde 11 de
Agosto no noroeste do país.
Para
determinar a origem exacta da doença foram recolhidas amostras, que foram
enviadas para o Instituto Nacional de Investigação Biomédica e para um
laboratório em Franceville, no Gabão.
Segundo
informações recentes, mais de 80 pessoas estiveram em contacto com as vítimas
mortais e o seu estado de saúde estava a ser monitorizado nas localidades de
Boende Moke, Lokolia, Watsikengo e Lokula.
Desde
o início da epidemia de Ébola em Março e até 20 de Agosto, a Organização
Mundial de Saúde contabilizou 1.427 mortos em 2.615 casos identificados. A
Libéria é o país mais afectado, com 624 mortos em 1.082 casos, seguindo-se a
Guiné-Conacri com 407 vítimas mortais. A Serra Leoa e a Nigéria registaram,
respectivamente, 392 mortos e cinco mortos.
Entretanto,
segundo o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), esta epidemia poderá custar
entre 1% e 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países da África Ocidental
afectados pelo surto.
Globalmente,
o Ébola vai “provavelmente custar 1% ou 1,5% do PIB dos países da União do Rio
Mano”, organização que integra a Libéria, a Serra Leoa e a Guiné-Conacri,
“países que começavam a recuperar dos difíceis anos de crise, das guerras
civis das décadas de 1960, 1980 e 1990” ,
referiu o presidente do BAD, Donald Kaberuka.
As
previsões da organização apontam igualmente que a Costa do Marfim, o quarto
país daquela organização mas que ainda não foi afectado pela epidemia, deverá
sofrer as mesmas consequências financeiras.
Donald
Kaberuka alertou ainda que a segurança alimentar na Libéria, país que regista
mais casos e mais vítimas mortais, também está “em risco”, uma vez que o vírus
ameaça a manutenção das colheitas agrícolas. Neste país, “se hoje as pessoas
não se ocupam da agricultura, existirá uma crise alimentar. É o primeiro
impacto directo sobre os agricultores desta região”, apontou.
Além
da crise imediata e a médio prazo, o responsável considerou que “a
multiplicação das medidas de encerramento de fronteiras terrestres e aéreas em
muitos países africanos”, decididas por “precaução”, irá custar “muito” ao
comércio e aos fluxos económicos da região.
África,
na sequência do vírus Ébola, “arrisca a sua imagem, a fuga de investimentos,
uma nova estigmatização, quando o continente começava a descolar”, lamentou Kaberuka.
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