Milhares
"que recusam ficar a ver no sofá" preparam novo protesto
29
de Setembro de 2014, 18:12
Por
Fátima Valente, da agência Lusa
Hong
Kong, China, 29 set (Lusa) -- Depois de um fim-de-semana de protestos
ininterruptos em prol da democracia, cidadãos de Hong Kong que "não querem
ficar a ver sentados no sofá" preparam nova jornada noturna de luta
pacífica.
Ao
início da tarde em Hong Kong
(manhã em Lisboa), uma moldura humana vestida de negro - muitos deles com
pequenos laços de tecido amarelo presos na roupa por alfinetes -- começava a
tomar posição nos viadutos junto à sede do governo, em Admiralty, no centro
comercial e financeiro da cidade, enquanto voluntários iam chegando ao local,
muitos deles carregando caixas de bananas e outros mantimentos.
Os
preparativos continuavam também no interior do centro comercial das imediações,
com alguns manifestantes -- a maioria estudantes universitários, mas também
alunos do secundário envergando uniformes escolares --, a aproveitarem para
fazerem refeições rápidas nos estabelecimentos de 'fastfood'.
Outros
equipavam-se com máscaras, óculos e toalhas para precaver eventuais novos
lançamentos de gás pimenta pelas forças policiais.
Gordon
Tse, Felix Chiu e Michael Chen, os três com 20 e 21 anos, estão hoje a fazer greve
às aulas pela primeira vez, uma semana depois de ter sido iniciado um boicote
estudantil. Por volta das 14:30 (07:30 em Lisboa) já tinham ido ao local do
protesto, e faziam então "uma pausa para descansar".
"Estou
muito zangado porque a polícia usou gás pimenta e gás lacrimogéneo. Ontem
[domingo] estive aqui e senti-me muito emocional. Por isso estou aqui para
apoiar", afirma Gordon Tse à agência Lusa.
Para
o estudante, apesar de os apelos da Federação de Estudantes para as pessoas
dispersarem por receios da atuação da polícia, "é importante deixar o
governo saber que a democracia é muito importante em Hong Kong ".
O
sentimento de agir pela mudança é partilhado pelos três amigos, que condenam os
que ficam em casa a ver os protestos pela televisão. "Em Hong Kong há aqueles a
quem nós chamamos 'siting room', porque só querem ficar sentados no sofá a ler
as notícias no jornal ou na televisão. Esses só querem aproveitar a
vitória".
A
vitória, porém, não é garantida, reconhece Gordon Tse: "Espero que [o
governo] mude de ideias, mas não tenho a certeza".
Opinião
idêntica tem Nick To, profissional da área do retalho, que passou pela zona de
protestos junto à sede do governo a caminho de uma consulta médica. "Não
penso que isso aconteça: talvez o Governo em Pequim esteja disposto a fazer
algumas pequenas concessões, mas eles vão querer assumir o controlo e continuar
a nomear um candidato que seja da sua confiança", refere.
O
mesmo residente de Hong Kong, na casa dos 30 anos, sublinha que "o
protesto ainda está pacífico", mas já "fora do controlo".
"Os
grupos de estudantes pediram aos manifestantes para dispersarem na noite
passada, mas as pessoas estão em todo o lado, a ocupar Admiralty, Causewbay
(ambas no distrito financeiro da Ilha de Hong Kong) e Mongkok (na ilha de
Kowloon).
"Mas
eu não tenho medo de vir aqui", remata.
O
protesto pela democracia em Hong também não é indiferente aos turistas. Caetlen
e Kir Sullivan viajaram da Califórnia (Estados Unidos) para visitar a filha
Cathy, que trabalha na Disneyland de Hong Kong.
"Nós
apoiamos a causa das pessoas de Hong Kong, que têm uma palavra a dizer e o
direito a protestar", disse a matriarca. "Mas estamos muito nervosos
por eles, é possível que seja inseguro", acrescentou Caithlin Sullivan à
agência Lusa, antes de embarcar no 'ferry' para Macau.
O
destino Macau surgiu na rota dos norte-americanos por uma questão de turismo.
"Aproveitamos a proximidade de Hong Kong e hoje vamos visitar Macau, mas
no sábado vimos de perto os protestos em Causeway", refere.
Tal
como os Sullivan, os consultor e engenheiro belgas Frederic De Coster e Denis
De Clercy preparavam-se para fazer o mesmo trajeto marítimo. "Penso que
esta é uma situação muito difícil, desde o regresso de Hong Kong à China.
Talvez seja esse o local onde a cidade pertence, mas isso não quer dizer que a
democracia esteja condenada", diz o consultor, de 28 anos.
"Ninguém
gosta de ver isto: os estudantes em protesto. Espero que eles consigam fazer valer as
suas opiniões", concorda Denis De Clercy.
Já
os empresários italianos Maurício e Jean-Luc acabavam de chegar no ferry
procedente de Macau: "Vamos ter uma reunião de negócios num hotel, mas
penso que é longe da confusão. É seguro, não é", pergunta Jean-Luc, em
busca de confirmação.
FV
// VM
Mais
de 180 mil assinam petição a pedir apoio de Obama à democracia
29
de Setembro de 2014, 18:36
Macau,
China, 29 set (Lusa) -- Mais de 180 mil pessoas subscreveram uma petição
pedindo o apoio do Presidente norte-americano a eleições democráticas em Hong Kong , instando-o a
"pressionar o Governo chinês" para evitar uma réplica do massacre de
Tiananmen.
"A
recente decisão de Pequim descarta a realização de uma eleição democrática para
o chefe do Executivo de Hong Kong, fazendo com que se tornassem inevitáveis os
protestos pacíficos, em larga escala, em Hong Kong. Dado os
antecedentes de Pequim, tememos que um segundo massacre de Tiananmen possa
acontecer em
Hong Kong. Acreditamos que os Estados Unidos têm a
responsabilidade de evitar tais tragédias sangrentas que sucedam", refere
a missiva dirigida a Barack Obama, disponível no portal da Casa Branca, que contava
cerca das 10:00 de hoje (hora de Lisboa) com 181.208 assinaturas.
Os
autores da petição, criada a 04 de setembro, lançam ainda um "forte
apelo" à administração norte-americana "para que deixe claro junto
das autoridades de Pequim que qualquer ação para reprimir manifestações
pacíficas pela força será veementemente contestada e severamente punida".
"Nós,
os amantes da democracia que vivemos nos Estados Unidos e noutras partes do
mundo, instamo-lo a pressionar o Governo chinês a honrar a sua promessa",
lê-se na mesma missiva.
Um
pouco por todo o mundo têm ecoado mensagens de apoio movimento pró-democracia
no território, as quais ganharam força depois de a polícia antimotim da antiga
colónia britânica ter lançado gás lacrimogéneo contra manifestantes, muitos do
quais estudantes, munidos somente de guarda-chuvas.
A
agitação nas ruas intensificou-se sobretudo no sábado, depois de uma semana de
boicote às aulas por parte dos estudantes universitários ter culminado numa
manifestação que resvalou em confrontos.
Um
grupo denominado Hong Kong Overseas Alliance lançou nas redes sociais uma
campanha intitulada "United for Democracy: Global Solidarity with Hong
Kong" -- "Unidos pela Democracia em solidariedade global com Hong
Kong", convocando encontros em vários pontos do mundo, como Londres,
Sydney, Vancouver ou Nova Iorque.
Os
protestos em Hong Kong
estalaram depois de Pequim ter anunciado, a 31 de agosto, que os aspirantes ao
cargo de chefe do Governo vão precisar de reunir o apoio de mais de metade dos
membros de um comité de nomeação para poderem concorrer à próxima eleição, em
2017, e que apenas dois ou três serão selecionados.
Ou
seja, a população de Hong Kong exercerá o seu direito de voto mas só depois
daquilo que os democratas designam de 'triagem'.
A
China tinha prometido à população de Hong Kong, cujo chefe do Governo é
escolhido por um colégio eleitoral composto atualmente por cerca de 1.200
pessoas, que seria capaz de escolher o seu líder em 2017.
DM
// APN
Taiwan
apoia sufrágio universal em
Hong Kong e segue de perto protestos
29
de Setembro de 2014, 15:04
“O
povo e o governo” de Taiwan apoiam o sufrágio universal em Hong Kong e o governo
faz um apelo para que os atuais conflitos se resolvam rapidamente por via de um
diálogo racional e pacífico, disse o Conselho de Assuntos da China Continental.
O Conselho, o organismo máximo do governo da ilha Formosa responsável por gerir os laços com a China, também assinalou, em comunicado emitido esta noite, que em Taiwan se acompanha de muito perto a evolução dos protestos pela democracia
Lusa
Na
foto: A repressão policial subiu de tom mas os manifestantes não arredam pé. Estão
na luta.
*Título
PG
Leia
mais sobre Hong Kong e Macau no Página Global em ÁSIA
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