terça-feira, 7 de outubro de 2014

Brasil - Eleições: A HORA É DE MARINA



João Almeida Moreira Dinheiro Vivo, opinião

Dilma, com 41%, e Aécio, com 33%, passaram à segunda volta. A ecologista, como em 2010, mostrou que está verde demais para o Planalto. Mas um sinal seu pode indicar quem é o novo presidente do Brasil.

Minutos depois de conhecido o resultado eleitoral da primeira volta das eleições do Brasil, João Santana, o "marqueteiro" alquimista do Partido dos Trabalhadores (PT), passava uma só instrução a Dilma Rousseff: silêncio absoluto enquanto Marina Silva não se pronunciasse.

Antes de votar pela manhã, Aécio Neves, na posse de sondagens do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) que o davam como garantido na segunda volta, aos jornalistas, em vez de enfatizar a sua notável subida, preferia perder-se em elogios à candidata Marina Silva. É oficial, está aberto o período de corte à ambientalista.

Lula da Silva, presidente de 2002 a 2010 e criador de Dilma Rousseff, e Fernando Henrique Cardoso, presidente de 1994 a 2002 e avalista nacional de Aécio, passaram a última semana a preparar o terreno. "Eu amo a Marina só que para presidente não", disse Lula. "Marina e Aécio, por mim, estavam juntos há muito", vem repetindo FHC.

Marina morreu, como na eleição de 2010, na praia; mas, como nessa altura, voltou a ter cerca de 20 milhões de votos e, com eles, o poder de apontar o novo presidente do Brasil.

E quem vai Marina apoiar?

Parte dos opinadores, sobretudo dos órgãos de comunicação social que declararam apoio a Aécio, como O Estado de São Paulo, acredita que Marina tenderá a juntar-se ao candidato do PSDB.

Por outro lado, um grupo de intelectuais que estava do lado da ambientalista, mas que já era muito próximo do PSDB (incluindo ex-ministros e assessores de Fernando Henrique Cardoso) assinou uma nota onde declaram apoio a Aécio.

Mas se Marina for pelo mesmo caminho não o percorrerá com tanta facilidade - uma ambientalista que passou toda a carreira política na ala mais à esquerda do PT terá pudor de se entregar a uma candidatura de centro-direita e acusada de neo-liberal sem, pelo menos, um período de reflexão.

Por um lado, a candidata do Partido Socialista Brasileiro (PSB) foi atacada até à medula pelo PT na campanha eleitoral e tem uma antipatia antiga, desde o tempo em que ambas conviveram (mal) no gabinete de Lula, por Dilma Rousseff. Por outro, assumidamente ambientalista e estruturalmente de esquerda, sente que o PSDB de Aécio está mais longe do seu ideário do que o PT, afinal de contas o partido onde militou quase um quarto de século.

"Temos de nos reunir, todos, cada um dos partidos que fazem parte da nossa coligação, analisar o sentimento do povo brasileiro, entender o que pretende, os sinais de mudança que apresentou e, então, tendo em conta a urgência de uma situação de segunda volta mas ponderadamente, tomar uma decisão", disse ontem no discurso da derrota.

Ou seja, pelo seu temperamento, Marina não se vai pronunciar tão cedo. Vai, como diz, convocar os partidos que a apoiaram a primeira semana, dizer que precisa de conhecer ao detalhe os programas dos dois candidatos na segunda semana e manter em angústia os rivais até à terceira semana, quando se realiza, dia 26, a eleição. Marina perdeu. Mas Dilma e Aécio estão nas suas mãos. Eis a sua vingança.

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