quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

ADEUS CAVACO, RAIOS TE PARTAM!



A MOÇÃO DE CENSURA DA TRETA

Frustrados, atirados para a boca de cena do palco da realidade que vai mostrando as suas pantomimas, os atores que por quatro anos foram mentindo, roubando os portugueses e oferecendo empresas estratégicas ao desbarato acabaram por cair perante uma maioria de deputados que expressa a vontade inequívoca dos eleitores portugueses. Maioria viabilizada por acordos históricos de partidos mais à esquerda com o PS de uma esquerda mais moderada que soube até agora não defraudar os seus eleitores. O desespero da direita saudosista revelou-se em altas doses de chantagens propaladas se acaso a maioria parlamentar ditasse a queda daquela direita. O protetor-mor dessa direita saudosista do salazarismo “democrático”, Cavaco Silva, dito presidente da República, encabeçou a “revolta” e tudo estudou e manobrou para fazer prevalecer nas cadeiras do poder o seu governo, com os seus muchachos e protegidos Passos e Portas. Só 52 dias depois de conhecidos os resultados das eleições Cavaco teve de se render à evidência e deixar passar a democracia que ele tanto prefere reter e afunilar. Cavaco, com ameaças veladas, futilmente, rosnou ao governo de esquerda que teve de empossar. Inédito, Cavaco e a sua direita radical teve de deixar passar a democracia.

É de inedetismos que o Expresso Curto, na lavra de Luísa Meireles, trepa para a abertura da newsletter. E fala de amor que com amor se paga. É a abordagem à moção de censura que a direita minoritária vai hoje manifestar no parlamento perante o programa do governo da esquerda, do PS com apoio dos restantes partidos de esquerda. A maioria.

A direita vai fazer um exercício a que tem direito. Isso está fora de questão. Mas que é um exercício de comédia e nada mais que isso não há quem duvide. Eles próprios, PSD e CDS, Passos e Portas, titubearam na decisão de o fazer. Por Portugal e pelos portugueses que votaram nos partidos da maioria corre o sentimento que acolhe este ato como sendo mais uma cena das cegadas que por quatro anos o governo de Cavaco-Passos-Portas apresentou. Eles sentem-se na obrigação de se afirmar e de enviar a mensagem aos radicais de direita e aos enganados que neles votaram: estamos vivos! Viva o salazarismo “democrático"! Afinal estes são os filhos, netos, primos, sobrinhos de uns quantos salazaristas que viram o 25 de Abril de 1974 como um monstro que vinha entregar a liberdade e a democracia aos portugueses e aos povos das ex-colónias. A todo o transe tudo têm feito para derrubar o monstro. Desta vez, em quatro anos de governo, quase conseguiram. A frustração de Cavaco Silva é a maior de sempre em toda a sua vida. Só pode ser. Acaba cadáver político.

Pois que venha daí a moção de censura (ou rejeição). Limitem-se a respeitar e a exercer a democracia. As desgraças que impuseram aos portugueses vão ter de ser desfeitas. Aprendam, pequenotes. A proteção do maioral Cavaco está prestes a chegar ao fim. Em 9 de Março vai haver festa em Belém para se assistir à saída, pela última vez, de Cavaco Silva da Presidência. O arraial promete. Luz, cor e alegria. O justo pela abalada de um saudosista do salazarismo, que até colaborador da PIDE foi, acontecerá. Sabemos que acontece sempre em rei morto, rei posto. Estaremos cá para defender a democracia defacto a que temos direito. Defender a liberdade e restantes portas que Abril abriu… Que eles tudo fazem para fecharem. Adeus Cavaco, presidente só de alguns. Raios te partam!

Redação PG / MM

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Luísa Meireles - Expresso

Amor com amor se paga

Não é assim que diz o ditado popular? A 10 de novembro, numa "solução inédita" das esquerdas (foi o Presidente da República que o disse), PS, Bloco de Esquerda, PCP e Verdes deitaram abaixo o Governo da coligação, votando em conjunto uma moção de rejeição (foram, aliás, quatro). Hoje, pelas 15h, iniciar-se-á o segundo debate de um programa de Governo em Portugal no espaço de menos de um mês. É igualmente inédito. O programa em causa é este, o do XXI Governo Constitucional, cujo traço - não menos inédito - é ter na bancada dos ministros quem há 22 dias estava nas bancadas da oposição. Estão prometidas nove horas de discussão. Também inédito é que este programa será igualmente alvo de uma moção de rejeição, mas da nova oposição, a coligação.

A moção de rejeição só foi decidida ontem, nas reuniões das direções do PSD e do CDS, mas já era previsível, como a Ângela Silva antecipava, explicando que "depois de terem passado as últimas semanas a colar no atual Executivo o rótulo de 'politicamente ilegítimo', além de considerarem que o seu programa é de alto risco para o país, PSD e CDS concluiram só fazer sentido avançar com a rejeição. Que será chumbada mas registará para memória futura a tomada de posição da direita". Ele há questões de coerência, e a esquerda agradece este substituto de moção de confiança, uma espécie de selo de legitimação do Governo, tudo o que a direita não queria.Vai ser interessante ver o ex-primeiro-ministro e hoje líder da oposição, Pedro Passos Coelho, no novo registo e como se articulará a dupla Passos-Portas nesta nova vida.

Apesar de ainda estar em gestão (recorde-se: até à aprovação do programa o Governo está nessa situação), o Governo já governa. António Costa estreou-se nas cimeiras europeias como novo chefe de Governo, uma espécie de "um baile de debutante com música leve", já que ninguém lhe perguntou sobre temas pesados como orçamentos, défices ou dívidas. A cimeira foi sobre a cooperação com a Turquia.

Os temas duros ficaram para ontem, para o encontro em Bruxelasdo novo ministro das Finanças, Mário Centeno, com os comissários Pierre Moscovici (Assuntos Económicos) e Valdis Dombrovskis (Euro). A reunião fez-se, mas Centeno não fez declarações à imprensa, embora tenha ficado otimista: o draft do orçamento só será apresentado em Bruxelas em janeiro. As partes decidiram não esperar pela reunião do Eurogrupo da próxima segunda-feira e reunir já. "Mr. Centeno goes to Brussels", comenta o Ricardo Costa.

O orçamento, já se percebeu, ainda vai dar que falar. Ontem, na SIC Notícias, o prazo de janeiro foi considerado "razoável" por António Vitorino e "suficiente" por Santana Lopes, mas depende se se trata de um esboço ou do orçamento enquanto tal. Depois da notícia de que o novo Governo queria o diploma tão adiado quanto possível, o que foi desmentido por Costa e por Centeno, eis que surge a acusação que "o anterior Executivo não deixou nem o rascunho preparado" do novo OE, prontamente desmentida pelos antecessores. É o segundo bate-boca em dois dias. O outro tinha sido sobre a inscrição ou não de Portugal para falar na cimeira do clima, em Paris (resposta da coligação aqui). Esperemos, em nome da sanidade mental de todos nós, que este estilo não vire regra.

OUTRAS NOTÍCIAS

Mas parece que não será assim, por enquanto, pelo menos. Tudo parece ter o verso e o seu reverso. "The Times They Are A-Changin', cantava Bob Dylan, desesperamos nós agora com a mudança. Repare: A notícia da absolvição da ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues (com explicação aqui) foi logo acrescentada por esta outra, segundo a qual a juiza desembargadora que foi relatora do acórdão do Tribunal da Relação participou na campanha do PS, lançando pois a sombra sobre a suposta isenção de uma decisão que foi tomada por um coletivo de três juízes.

Outra notícia que marcou o dia foi a nomeação da magistrada Maria José Morgado para Procuradora-Geral Distrial de Lisboa, em substituição da ministra Francisca Van Dunem. Foi eleita por unanimidade no Conselho Superior do Ministério Público.

Ainda na área judicial, Sócrates não deixou cair as denúncias feitas pelo inspetor tributário Paulo Silva, coordenador da investigação ao nível do órgão de polícia criminal (OPC), que solicitou uma "investigação à própria investigação" após a publicação na “Sábado” de notícias sobre matéria em segredo de justiça do processo da Operação Marquês. O ex-primeiro-ministro quer que a PGR investigue.

Economia: o Montepio deve ter mel: são cinco as listas concorrentes à nova direção do banco, que hoje vão a votos. O atual presidente, Tomás Correia, recandidata-se pela lista A (diz que são umas eleições de "todos contra um"). Bagão Félix e João Proença concorrem pela lista D. Outra notícia, infelizmente recorrente: CP, CP Carga, Metro de Lisboa e STCP marcaram greves para este mês. É um teste a Costa, no seu 13º dia à frente do Executivo, e o Tiago Freire, do Diário Económico comenta (mas só para assinantes). Para quem sereformar com mais de 40 de contribuições e continue no ativo depois dos 66 anos, o Governo promete um bónus. (atenção, em 2017, a idade de reforma sobe mais um mês). Também já serão possíveis as reformas antecipadas, mas com cortes.

No capítulo presidenciais - a batalha eleitoral que se segue - Paulo Morais, o candidato da transparência, foi o primeiro a formalizar a sua candidatura junto ao Tribunal Constitucional. Com a chegada ao terreno, hoje, de Marisa Matias, a candidata do Bloco de Esquerda, todos os concorrentes estão já em campo e a fazer campanha. Uns por cá, outros, como o favorito das sondagens, Marcelo Rebelo de Sousa, lá fora, em Moçambique, num fórum sobre o tema "O Futuro é Agora. Humanizando o Crescimento”. Um intervalo no campo da lusofonia.

No futebol, esse tema que move milhões (humana e financeiramente falando) a guerra entre Sporting e Benfica continua fora dos relvados, com acusações mútuas. A história não é fácil de explicar, envolve muitas personalidades de ambos os clubes mas há uma certeza no meio desta confusão: eles não se entendem. Por isso sugiro-lhe mesmo que leia as notícias: aqui (Benfica) e ali (Sporting).

Ainda no futebol, atenção a um negócio histórico em Portugal pelos valores que alcança: a NOS fez uma proposta de 400 milhões de eurospelos direitos de emissão dos jogos do Benfica nos próximos dez anos. A MEO também está na jogada, mas o negócio ainda não está concluído. Nunca visto! E - ah! - Pinto da Costa, presidente do Futebol Clube do Porto, é um dos 48 arguidos já constituídos na Operação Fénix, que investiga a empresa SPDE, por alegados crimes de segurança ilegal.

Mas não esqueçamos essa extraordinária notícia de que, doravante, o fabrico do chocalho é Património Cultural Imaterial da Humanidadecom Necessidade de Salvaguarda Urgente. Estas fotografiastornaram-se mais valiosas. E já agora, se está curioso sobre o que é e quem detém "património da Humanidade", consulte aqui.

Se Portugal se pode regozijar com a "canção dos chocalhos", tem a lamentar uma outra: segundo um relatório da Morgan Stanley, este pequeno rectângulo à beira-mar plantado lídera o ranking dadesigualdade entre os países mais desenvolvidos. No relatório constam, entre outros indicadores, a desigualdade de género, de salários, na saúde e no acesso ao mundo digital. A desigualdade foi precisamente o tema escolhido da conferência do Prémio Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, e ele foi linear: "a desigualdade é uma escolha, que não é feita pelos mais pobres, mas pelos nossos sistemas políticos", disse na Gulbenkian. Também disse que "uma taxa de desemprego de 12% é razão para uma depressão e não para celebração", e propôs (Ó não!) cobrar mais impostos para Portugal crescer. O Prémio Nobel almoçou com António Costa e encontrou-se com as esquerdas.

Investir em Portugal é tema de um dossiê do Financial Times, essa bíblia económica da imprensa, cujo texto de abertura é "Portugal dividido pela austeridade". Mas há muito mais coisas para ler neste jornal sobre o tema, que o Diário Económico resumiu:"é necessário que Bruxelas aceite a flexibilidade proposta por Mário Centeno".

LÁ FORA

A Conferência sobre o Clima, em Paris COP21, continua a ser o tema. Mesmo depois de tudo o que foi dito, este pequeno vídeo explica em dois minutos o que está em causa (em inglês, lamento) e de maneira bastante simples. No Le Monde, contam-se as experiências de várias países para fazer face às alterações climáticas. Não por acaso, a China elevou o nível de alerta contra a poluição em Pequim, pedindo aos habitantes para se manterem dentro de casa. EmPortugal, também há um movimento global pela Justiça Climática, que marcou uma manifestação para 12 de dezembro.

Em Espanha, a contagem decrescente para as eleições de 20 de Dezembro está em pleno. Enche as páginas dos jornais, El Pais, El Mundo, ABC, mas foi no El Confidencial que encontrei esta pequena pérola: "o Prometrómetro", para avaliar quem promete mais e quanto. Para já, é o líder do Podemos, Pablo Iglesias (€237.743 milhões), a grande distância de todos os outros. O Expresso Diário tambémaborda o tema, analisando o debate inédito entre os líderes do PSOE, Ciudadanos e Podemos (Rajoy faltou e foi penalizado). Entretanto, o Tribunal Constitucional prepara-se para anular a declaração de independência da Catalunha.

A entrada da Alemanha na coligação contra o autoproclamado Estado islâmico marca uma viragem na política deste país: Berlim vai enviar seis aviões de reconhecimento, um de abastecimento e uma fragata para o Médio Oriente, o que, juntamente com um contingente de 1200 soldados será a maior operação alemã no estrangeiro. A sra. Merkel respondeu à chamada. Esta notícia, somada à decisão dosEUA de envio de tropas para o terreno na Síria pode vir a alterar o cenário da guerra, sobretudo se a somarmos a esta outra, sobre aRússia, que quer tornar a Síria uma "zona impenetrável de conflito". Li mesmo bem, estamos a falar de ameaças de um "cemitério de Obama"? Tudo isto, também por causa do abate do avião militar russo pela Turquia, numa reação desproporcionada, como se lê nestaanálise do almirante Reis Rodrigues. Neste país, mais um atentado em Istambul, cinco mortos.

Talvez seja tempo também de refletir sobre o que se passa com aEuropa da defesa, num interessante artigo sobre o "preço" dos atos do terrorismo. Está tudo ligado. E neste, sobre os muros europeus que os refugiados estão a fazer erguer na Europa e a destrui-la. "É como se fosse 1989 ao contrário", diz Timothy Garton Ash, um dos melhores pensadores sobre a Europa.

Com todas estas notícias pesadas, surgiro-lhe agora estas, mais amenas: nascem bebés todos os dias, que encantam os respetivos pais, de tal modo que se transcendem a si próprios. É o que se pode dizer da decisão de Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook, que anunciou que vai doar 99% das suas ações nesta rede social para obras de caridade e "mudar o mundo". São €42,3 milhões, mas serão doados quase ao longo da vida. E esta outra, que não é uma notícia, mas um regalo para os olhos e os ouvidos. Ora ouça. OsBosquímanos são um povo que habita o sul de Angola e parte da Namíbia, sendo que naquele país também são conhecidos por "Mucancalas" ou "Kamussequeres" e têm uma fala característica, comunicando com estalidos da língua.

FRASES

"Estive cá há 15 anos e as coisas só ficaram piores", Prémio Nobel da Economia, Joseph Spiglitz, na conferência da Gulbenkian.

"Não há margem para acordo em, questões orçamentais e de programa de governo com o PS. O que há, neste momento, é a nossa oposição feroz", um ex-membro do Governo da coligação, ao I

"Não precisamos de revoluções na Justiça, precisamos de organização", Maria José Morgado, nova Procuradora-Geral distrital de Lisboa

"É meu íntimo desejo que o Presidente da República se aperceba que já seu o suficiente à nação", Luaty Beirão, ativista angolano, durante o julgamento em Luanda

"Isto vai mudar alguma coisa? Teremos cabras com mais chocalhos? Teremos magotes de turistas a verem chocalhos?", Luís Costa, produtor de arte sonora, ao Público

O QUE ANDO A LER

Já muita coisa se escreveu (e escreverá) sobre o processo que conduziu ao novo Governo - uma revolução no sistema político até agora vigente em Portugal. Por isso, peguei neste livro, que li em grande parte. "O futuro da representação política democrática" (Vega), organizado e coordenado por André Freire (investigador no ISCTE-IUL. Escreve ele: "Esta é uma época paradoxal. Por um lado (...) temos hoje provavelmente o maior número de sempre de democracias no mundo. Porém, por outro lado, avolumam-se vários sinais de crise nos regimes democráticos representativos (...) nomeadamente ao nível do núcleo duro destes regimes no Ocidente (...). Há a clara e firme perceção de que estamos numa fase de transição para algo diferente. Todavia, há uma grande indefinição sobre o perfil dos novos regimes que resultarão desta transição". Ou seja, podem evoluir num sentido ou noutro. Percebe agora porque o livro é interessante para nos fazer pensare precisamente neste momento? É uma obra coletiva a 10 mãos.

Noutra vertente, menos académica, e se é dado a efemérides, recorde o que aconteceu no dia de hoje no Boletim da Assembleia da República. Nesta data, há 40 anos, houve a primeira discussão no Parlamento sobre o 25 de novembro, que tinha ocorrido há dias, em vésperas da invasão de Timor Leste, que haveria de dar-se cinco dias depois, a 7 de dezembro (leia o que diz Ramos Hortasobre o assunto nesta entrevista ao Expresso, confessando que foi contra a declaração unilateral de independência e que se tivesse ido para um seminário, poderia ser hoje cardeal em Roma - esta só convence quem não o conhece, mas tem graça); 2 de dezembro foi também a data (há 36 anos) da vitória eleitoral da primeira AD; e encontro esta frase fantástica de Miller Guerra, deputado da ala liberal na Assembleia Nacional de Marcello Caetano: "A unidade verdadeira, sólida, incontestável, provém da diversidade de pensamento e de atitudes e não da monotonia das concordâncias”. Foi dita em 1971 e permanece "solidamente incontestável".

Incontestável também é que chegámos ao fim deste Expresso nada Curto. Perdoem-me a grandeza, mas os acontecimentos são muitos e variados. Recordo sempre: isto é uma escolha pessoal e assinada.

Passe um bom dia, por favor. Faça uns cliques no online do Expresso nas notícias do dia - e hoje prometemos bastantes com a discussão do programa do Governo - e leia o mais substancial no Expresso Diário, lá mais para o fim do dia, às 18h. Amanhã, o Curto cabe ao nosso "barra" do Desporto, o Pedro Candeias, que tem uma escrita fina como poucos.

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