segunda-feira, 17 de abril de 2023

Angola | Matadores de Sonhos e Carrascos da Liberdade – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda 

Karipande (Mukumbi Munhau) é uma comuna do Alto Zambeze, ali onde a gunga lambe as crias e a chita corre livre pelas chanas. Ao fim da tarde cheira a mel e as cantáridas cruzam o céu no seu voo louco e vertiginoso. O seu último voo de ferro em brasa. No Dia 14 de Abril de 1968 guerrilheiros do MPLA atacaram o quartel da tropa portuguesa e ocuparam-no. O combate foi duro e mortal. A meio da refrega tombou o Comandante José Mendes de Carvalho (Hoji ia Henda). O seu camarada Rui Cardoso do Matos (Maio) prosseguiu a acção até à vitória.

Pouco tempo antes, o Comandante Hoji ia Henda escreveu estas palavras: “Da miséria do nosso povo, fui transportado para a luz através da luta e sinto quão duro mas também quão saboroso é avançar. Avançar para que nem as balas do inimigo, nem a morte mo impeçam de ser imortal. Nada mais me fará recuar”. As balas e a morte levaram o “Filho querido do Povo Angolano e combatente heróico do MPLA” como foi distinguido pelo Comité Director do movimento e pelo comando do Exército Popular de Libertação de Angola (EPLA), em Agosto de 1968. Mas as balas e a morte também fizeram dele imortal.

Rui de Matos (Comandante Maio), no primeiro aniversário da sua morte em combate, escreveu este poema que depois o guerrilheiro Dudu musicou:

PROCURO UM LEÃO

Ando à procura de um leão

Que não seja muito grande

Que seja terrível na luta

Que o temam e o amem.

Quero fazer o retrato de um leão

De olhar doce

De sorriso franco

Um leão alegre

Sem reservas.

Um leão imenso

No seu amor.

Chamar-lhe-ei

Hoji ia Henda.

Procuro um leão

Um leão generoso

Que divide o seu pão

E que dá a vida.

Procuro um leão

Duro e implacável

Com os seus inimigos...

Esse leão

Doce e Humano

Amigo e simples.

Chamar-lhe-ei

Hoji ia Henda.

Ai Angola!

Ai Angola!...

Um ano passou…

De quanto tempo precisas

Para gerares outro igual?

Um ano já passou…

Ai Angola!

Ando à procura dum leão

Que sorria da derrota

Com tanta fé na Vitória.

Procuro um leão

Que seja temerário

Um leão amado

Um leão temido.

Chamar-lhe-ei

Hoji ia Henda.

Hei-de procurá-lo

Na Terra

Procurá-lo no mar

Procurá-lo nos rios

Procurá-lo nas chanas

Hei-de encontrá-lo em Angola

Farei o seu retrato

Chamar-lhe-ei Hoji ia Henda.

Frente Leste, Abril de 1969

Rui de Matos (Comandante Maio)

Aquele ano de 1968 foi terrível para os combatentes da Liberdade. Jonas Savimbi tinha feito da UNITA uma unidade especial das forças armadas portuguesas. Os majores Pedro e Sachilombo foram reforçar os Flechas da PIDE em Lumbala Nguimbo (Gago Coutinho). Centenas de homens armados reforçaram a tropa portuguesa para impedirem o avanço da guerrilha do MPLA rumo ao Planalto Central na direcção Sul e Planalto de Malange, a Norte. 

O médico e dirigente do MPLA Américo Boavida (Ngola Kimbanda) tombou em combate no dia 25 de Setembro de 1968. No mesmo ano as Heroínas Deolinda Rodrigues (Langidila), Irene Cohen, Teresa Afonso, Engrácia dos Santos e Lucrécia Paim foram assassinadas em Kinkuzu pelos esbirros de Mobutu e Holden Roberto. Ninguém sabe o dia exacto. Quem matou o melhor da Juventude Angolana? As tropas de ocupação reforçadas com os militares da UNITA. Altíssima traição que não pode ser perdoada e muito menos absolvida pela reconciliação nacional. Impossível perdoar sem antes os traidores e matadores se arrependerem dos seus crimes hediondos. Impossível absolver. Impossível renunciar à memória da traição.

José Mendes de Carvalho (Hoji ia Henda) quando era estudante do Liceu Salvador Correia já mostrava uma coragem fora do comum. Ele vivia em casa de Mamã Maria (mãe de Agostinho Neto), no Bairro Operário. Quando o nosso líder foi preso pela PIDE, Maria Eugénia ia todos os dias visitá-lo à prisão. Camaradas e familiares tinham muito que fazer, não podiam acompanhar a esposa desolada. Mas ele estava sempre disposto. E enquanto durava a visita, ficava ali sentado, desafiando os esbirros da polícia política de Salazar. Muita coragem! Um leão indomável! 

José Mendes de Carvalho partiu para o exílio em 9 de Janeiro de 1961. Pouco tempo depois de chegar a Léopoldville (Kinshasa) integrou o EPLA (Exército Popular de Libertação de Angola). Em 1964, foi eleito membro do Comité Director do MPLA, na Conferência de Quadros (Brazzaville). Logo a seguir foi nomeado Comandante da II Região Político-Militar (Cabinda). Nasceu o Comandante Hoji ia Henda. Infringiu pesadas derrotas às tropas de ocupação em emboscadas e operações com dezenas de guerrilheiros, como a célebre “Operação Macaco”. Morreu na Frente Leste com apenas 27 anos. Quem matou o melhor da nossa Juventude? Os colonialistas e a UNITA!

Nesta altura os dirigentes da FLEC alinhavam com a PIDE ou integravam as Tropas Especiais (TE). Impossível reconciliar enquanto os traidores não pedirem perdão. Impossível absolver os padres excomungados e terroristas, Raul Tati e Jorge Casimiro Congo. A reconciliação nacional não pode servir para normalizar a traição.

Antes de encerrar o capítulo Hoji ia Henda, apresento-vos Rui Cardoso de Matos (Comandante Maio). Nasceu em Luanda no Bairro dos Coqueiros. Era filho de Francisco Cardoso de Matos (Chico Matos), um luandense muito popular, e de Dona Margarida de Matos. Foi estudar Artes para Lisboa e de lá fugiu juntando-se à guerrilha do MPLA. Foi recentemente distinguido pelo Presidente João Lourenço como General das FAA. Mas falta reconhecer o artista plástico. Rui de Matos foi um grande escultor. Há trabalhos dele em todo o país. Criou os bustos de Agostinho Neto e Hoji ia Henda. Tarda a merecida distinção cultural a este Herói Nacional que dedicou toda a sua Juventude à Libertação da Pátria.

Hoje, Dia Nacional da Juventude, quero recordar um jovem excepcional que deu a vida pela Libertação da Pátria Angolana, Gilberto Aires Teixeira da Silva (Comandante Gika), nascido em Benguela. Morreu em combate no  Morro do Tchizo, em Cabinda, ano de 1975, era comissário político do Estado-Maior Geral das FAPLA. Como guerrilheiro participou nas operações que libertaram Miconje, Belize, Buco Zau e Dinge, na província de Cabinda (II Região Político-Militar do MPLA).

O Comandante Gika concluiu o liceu em Benguela (quinto ano) e prosseguiu os estudos no Lubango onde fez o sétimo ano. Partiu para Coimbra em Outubro de 1960 onde prosseguiu estudos universitários. Já no segundo ano da faculdade, em 1962, foi clandestinamente para o exílio e juntou-se à guerrilha do MPLA em Cabinda. Sobre a sua morte, em combate no Morro do  Tchizo, escrevi há dez anos:

“O Rádio Clube de Cabinda emudeceu quando era preciso falar alto. As ordens chegaram claras, concisas e precisas: Luanda não cairá! Cabinda será o coração da Pátria até ao fim de todos os tempos. Lutar. Temos de lutar contando com as nossas forças. Resistência popular generalizada. Era a voz de Agostinho Neto dando-nos força quando a força se tinha esgotado. Era a voz de um Povo Heroico e Generoso. A voz de nós, emudecida, temerosa de dizer liberdade, solta em surdina na hora de gritar a luta continua e a vitória é certa.

O emissor de dez “kilowatts” estava impecável. Abrimos-lhe as goelas e reparámos um estúdio. A antena, assim-assim. Fomos para o ar. O Pierre lia empolgado, em lingala, as mensagens libertárias dirigidas aos nossos irmãos de Boma, Banana e Matadi. A liberdade está a chegar! A liberdade está a chegar! As FAPLA vão libertar o Baixo Congo! Mobutu estremeceu. A fabulosa música dos grupos de Cabinda e congoleses incendiava as noites, acalmava a fúria dos miruís, que nos chupavam o sangue.

Na manhã seguinte fui à base da Artilharia, lá no alto de um morro bordejado de mafumeiras, fazer uma reportagem para as centrais do Diário de Luanda. Os combatentes aprumados, os canhões em posição, os comandantes em prontidão. Terminei o trabalho e fui deixar os rolos das fotos ao aeroporto onde o piloto Coutinho Tuku Tuku esperava, inquieto, o material que ia entregar à Redacção do jornal, em Luanda. 

O Comandante Margoso deixou-me em casa do Comandante Pedalé, para escrever o texto e transmiti-lo pelo telefone. Algum tempo depois, já eu ditava a reportagem ao João Serra (o melhor repórter do mundo), o heroico comandante regressou com cara de caso, lágrimas nos olhos e murmurou: - O camarada Gika morreu.

Naquele dia os rebentamentos dos obuses soavam mais perto e eram menos espaçados. A artilharia zairense estava sempre a flagelar as posições das FAPLA. O comandante Gika e o comandante Bolingô estavam no Morro de Tchizo com outros oficiais. Noutro ponto, os comandantes Pedalé, Eurico, Foguetão e Delfim de Castro. Um obus rebentou perto da zona onde o comissário político das FAPLA e o comandante da II Região Político-Militar do MPLA se encontravam. Um estilhaço, apenas um pedaço de ferro em brasa, penetrou o peito generoso do Comandante Gika.

Margoso, o terror das tropas portuguesas no Norte de Angola, o comandante de mil combates pela liberdade, não conseguia conter as lágrimas. Bolingô nem lágrimas tinha, apenas um esgar de dor. O comandante Pedalé fazia transparecer serenidade, era o responsável máximo na província. O comandante Eurico andava de quartel em quartel falando às tropas. Pedi ao João Serra que desse a notícia em primeira mão. Tínhamos perdido mais um que era o melhor. Todos os que tombavam eram excepcionais. Só ficávamos nós para dar a notícia. Imprestáveis, insignificantes, rebuscando palavras que fizessem sentido com a infinita mágoa. Leiam:

Meu irmão longínquo
Feito de terra e saudade
Peito aberto à amizade:
Que deus te imobilizou
E nos apunhalou na garganta?
Que tempestade desabrida
Nesta manhã de bronze
Assolou teu mar de liberdade
E nos obrigou a naufragar?

Das tuas mãos nasceram
Pombos verdes e gaivotas
Voos frágeis de nuvens
Desfeitas na ventania
Os teus sentidos
Percorreram o Maiombe
À procura da primeira harmonia.

O olhar subitamente parado
Como um punhal enterrado
No coração da Terra
Não é do meu irmão longínquo
O que criou dias de luz e alegria
Noites mágicas
Como a sombra fresca
Dormiu na esteira do Sol
Frutos maduros na boca
E o sumo que corria.

Longe dos céus de Cabinda
Levo-te no último voo
Nas asas quebradas do poema
Em coração aberto.
A última viagem
A derradeira paragem
O primeiro traço
Um longo, longo abraço
Os olhos em cinzas
E tanta bondade desolada
Tanta memória magoada.

Dia 16 de Junho de 1975, Gilberto Teixeira da Silva, Comandante Gika, tombou em combate, na defesa da Revolução Angolana. Alguns dias depois da morte, a Avenida Norton de Matos passou a chamar-se Avenida Comandante Gika. Foi o Órgão Coordenador das Comissões Populares de Bairro que tomou essa decisão. E ninguém se opôs. Assim ficou, até hoje”.

Quem matou o jovem Comandante Gika? Os donos do excomungado padre e agora deputado Raul Tati. Os patrões da FLEC. Impossível absolver os criminosos e traidores enquanto não pedirem perdão. E eles, ao abrigo da reconciliação nacional, prosseguem no caminho da alta traição. Continuam a matar jovens angolanos. Impossível absolver. 

O Comandante Gika é um dos Heróis da Rota Agostinho Neto que consistia em ligar a III Região Político-Militar, na Frente Leste, à I Região, no Norte, à boleia do Caminho-de-Ferro de Luanda. Nos primeiros meses de 1970, a guerrilha do MPLA acumulava vitórias. Savimbi e seus renegados entraram em acção ao lado das tropas portuguesas. Os Comandantes Toka, Petroff, Nvunda e outros Heróis Nacionais ainda estão aí para darem público testemunho dessa saga heroica da Juventude Angolana. Impossível perdoar aos traidores. Impossível absolver os crimes de alta traição. A reconciliação nacional exige que primeiro os traidores peçam perdão.

Em 1972, Savimbi propôs integrar as forças da UNITA nas tropas portuguesas e tinha frequentes encontros com o capitão Benjamim Almeida, comandante de uma companhia de artilharia (CART 6651), instalada na região de Cangumbe. Defendia a “machadada final” nas forças do MPLA, na Frente Leste. O chefe da UNITA propôs operações conjuntas contra as bases do MPLA, mesmo na Zâmbia. Numa carta do chefe do Galo Negro ao capitão Almeida, ele refere a necessidade de se encontrar “uma maneira mais curta para se resolverem os problemas da participação da UNITA na vida Nacional na sua fase mais avançada da integração” (Angola O Conflito da Frente Leste, página 199. Autor capitão Benjamim Almeida). 

A correspondência trocada entre Savimbi e o general Bettencourt Rodrigues (comandante da Zona Militar Leste) ou com o general Luz Cunha, comandante em chefe das Forças Armadas Portuguesas em Angola, foi desviada por um jovem militar português, da repartição que tratava da inteligência militar, no Quartel-General da Região Militar de Angola, em Luanda. Essas cartas foram entregues a militantes do MPLA que as fizeram chegar a jornalistas da revista “Afrique-Asie”. Daqui resultou um equívoco. Ficou a impressão de que Savimbi tinha contactos directos com a cúpula das forças armadas portuguesas. Só no ano de 2011 foi possível desfazer esse engano, com a publicação do livro do capitão Benjamim Almeida. O chefe da UNITA nunca conseguiu chegar à fala com os chefes militares. Os seus interlocutores estavam muito abaixo. Na preparação da “Operação Madeira”, que consistia na integração das forças da UNITA na tropa portuguesa e nos “Flechas” da PIDE, além da acomodação de Savimbi como governador do então distrito do Moxico, o seu primeiro interlocutor foi o chefe da inteligência militar na Zona Militar Leste, o tenente-coronel Passos Ramos. A seguir ao triunfo da revolução, juntamente com o então major Pezarat Correia, assinou com o chefe da UNITA um acordo de cessar-fogo, para que a organização tivesse argumentos que lhe permitissem reclamar junto da Organização de Unidade Africana (OUA) o estatuto de movimento de libertação. Savimbi também mandava as cartas para os altos chefes militares, pelos madeireiros e ainda através do padre Oliveira (António de Araújo Oliveira).

Savimbi, em Outubro de 1973, depois do dia 5 e antes do dia 20, enviou esta carta ao capitão Benjamim Almeida, que comandava uma companhia de artilharia aquartelada em Cangumbe:

“Fiquei contente em receber a sua carta de 5.10.73. Que tenha feito uma boa viagem e pela sua carta depreendo que tudo tenha corrido o melhor possível, é o que mais me alegra, pois associo aos seus sucessos pessoais a possibilidade de se falar no assunto. (Integração da tropa da UNITA nas Forças Armadas Portuguesas). 

Quanto à minha saúde vou muito melhor do que dantes, o que me cria condições de pensar e analisar para penetrar os labirintos complexos da política Angolana que está sendo fortemente influenciada pela opinião mundial. É este factor que tem também de pesar nas nossas decisões pois embora Portugal sempre resolveu os seus problemas com a capacidade de uma nação independente, nem sempre os outros quiseram deixar os outros em Paz. A correlação e a interdependência das políticas internas com as políticas exteriores têm hoje a sua maior expressão no desenvolvimento dos meios de comunicação, na unidade económica que só projectam com maior facilidade as ambições dos países mais fortes e as tendências ao imperialismo. Angola fica precisamente situada nessa encruzilhada. Só os homens de uma vasta visão política, podem evitar para Angola o que a História dolorosamente escreveu na alma e nos corpos de outros países que muitas vezes foram projectados para o desconhecido com as nefastas consequências que se conhecem por aí fora.

A minha experiência permite-me pensar que não há soluções mágicas para os problemas políticos nem um homem chave para decifrar tais equações. Se de um lado a capacidade dos dirigentes pesa decididamente na correcta solução dos problemas e Portugal tem homens à altura, principalmente na distintíssima pessoa de Sua Excelência o Presidente do Conselho (Marcelo Caetano), há que se ter em conta as circunstâncias que rodeiam as situações que vivemos e a evolução do Mundo. É neste capítulo que eu tenho de lamentar os processos utilizados pelas Autoridades estaduais em resolver os problemas de Angola, na hora em que o MPLA sofre a sua maior crise de sempre. O optimismo em demasia é também reflexo do desconhecimento dos problemas desta África em constante mutação, Hoje já não há aliados definitivos e incondicionais.

Propus às Autoridades do Luso o dia 20.10.73 para um encontro com o senhor Capitão Benjamim o que espero poderá materializar-se e assim terei mais um prazer de falar consigo”. (Páginas 174 e 175 do livro Angola-O Conflito na Frente Leste).

O encontro com o capitão aconteceu. Savimbi, no dia 22 de Outubro, enviou-lhe a seguinte carta, entregue em mão pelo tenente Sabino, da UNITA:

“Esta tem por fim desejar-lhe boa saúde e que tenha tido um regresso agradável depois do nosso encontro. O meu amigo PUNA e eu mesmo, ficámos com uma excelente impressão da sua pessoa e cremos que haverá um campo largo de cooperação entre as forças que comanda e as nossas, desde que uma oportunidade para isso se apresente. E será com prazer que daremos esse passo mais à frente na direcção da consolidação do que já conseguimos no decurso dos dois anos transactos. Não há dúvida de que a nossa conversa do dia 20 (Outubro de 1973) passado veio desanuviar grandemente a atmosfera das nossas relações com o Luso (Comando da Zona Militar Leste das Forças Armadas Portuguesas) que estavam a tornar-se já de um equilíbrio difícil. Oxalá que os factos que discutimos abertamente tenham no futuro uma interpretação consentânea com os maiores interesses das populações do Leste e da Paz para Angola que continua Portugal em África, na sua forma mais actualizada. Estou bastante optimista que há um campo muito vasto em que a política de Portugal em África pode ser consolidada, apesar dos vendavais movidos pelos ambiciosos que só têm o olho em casa de outrem.

Haveria, é certo, uma maneira mais curta para se resolverem os problemas da participação da UNITA na vida Nacional na sua fase mais avançada da integração. Há, porém, factos que nos levam a andar mais devagar para que consigamos resultados mais duradouros. Embora a nossa vontade seria de resolver os nossos problemas entre nós, isto é, em casa, temos e teremos por muito tempo que contar com a influência do estrangeiro, pois nem as alianças de Portugal com o resto do mundo são isentas de traições que só a cobiça explica e muito menos as fronteiras de Angola com o resto de África podem ser hermeticamente fechadas. É a situação com a qual temos de nos medir, nós e os vindouros, hoje e amanhã, para que a política de multirracialidade encontre enfim os ecos que o mundo de hoje bem precisa para salvaguarda da Humanidade. O seu contributo será enorme pois que a proximidade de Cangumbe connosco faz com que seja o elemento mais indicado para a troca de impressões, quando isso for superiormente autorizado. Estamos esperando pela nota do Luso, para que se tomem as necessárias providências para que a nossa delegação possa continuar as discussões a nível mais alto.

Não gostaria de ser incómodo, mas é a necessidade que me obriga a solicitar a sua boa vontade, caso possa fazê-lo, para me arranjar: Uma boa capa de chuva, um par de botas altas militares número 42, cinco frascos de aero-om e algumas bisnagas de bálsamo de mentol, pomada tópica. Caso lhe seja possível adquiri-los, gostaria que me indicasse quanto é.

É tudo que se me oferece para hoje. Com respeito e amizade, Jonas Malheiro Savimbi” (Páginas 199 e 200 do livro Angola - O Conflito na Frente Leste). 

Savimbi dizia às tropas portuguesas que o MPLA estava numa situação difícil e era altura de atacar em operações conjuntas, para que Angola continuasse a ser Portugal em África. Hoje, Dia Nacional da Juventude, é impossível perdoar a traição. Impossível esquecer os combatentes que morreram com a vida em flor. Impossível a reconciliação nacional enquanto os crimes der alta traição não forem julgados. Impossível conciliar assassinos e traidores com o Povo Heróico e Generoso. A Juventude precisa de se libertar das amarras da traição tecidas por um partido, a UNITA, que continua a trair. Continua a matar. Continua a destruir os sonhos da Juventude Angolana.

*Jornalista

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