segunda-feira, 17 de abril de 2023

Portugal | OLHA O PASSARINHO

Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião

Portugal está em suicídio lento. Tanto que o canário da mina já morreu. Jaz gélido e inerte no chão da gaiola. Se há barómetro que atesta com fidedignidade a qualidade civilizacional é a protecção das crianças e, claro, a respectiva educação. Os menores são os mais frágeis entre os frágeis e defendê-los é o primeiro dever de uma sociedade. Ademais, não o fazer é também hipotecar o futuro, uma atitude para-suicidária. Entre hiper-medicar miúdos (porque são activos e exigentes - são crianças) e abandoná-los aos ecrãs, os exemplos abundam. Mas, observando a nossa escola pública, o monitorar dos gases tóxicos revela que já se passou o vermelho. O canário morreu. Agora, vários directores escolares alertaram para as dificuldades dos alunos em aprender novas matérias, especialmente os mais novos e os mais carenciados, porque na gestão covid perderam-se "aprendizagens essenciais que bloqueiam as aprendizagens seguintes". "Não ter tido aulas fez com que as consequências fossem arrasadoras", acrescentaram. Arrasadoras, sublinhe-se. De resto, a opinião geral é que o Plano de Recuperação das Aprendizagens (PRA) do governo precisa de um grande prolongamento. No mínimo. Também se concluiu que os atrasos que se multiplicam devem-se ainda à gritante falta de professores (e não às greves). Coisa que só se resolve, óbvio, quando a profissão for valorizada e protegida.

Ou seja, Portugal colocou no prego décadas e décadas, fabricou uma ou duas gerações de frágeis que nunca deixarão de o ser, mesmo quando forem cuspidos para um mercado de trabalho agreste. E, repita-se tantas vezes quanto as necessárias, fê-lo com consciência que não se justificaria tamanho golpe à cabeça do país. Desde março de 2020 que se sabe que a residual mortalidade deste Coronavirus não impunha medidas drásticas. Várias pessoas o afirmaram - muitos silenciados -, inclusive cientistas de renome. Março. E não setembro ou abril de 2021, por mais que alguns colaboracionistas queiram agora passar por faróis. As medidas adoptadas (como demonstram escândalos como o Lockdown Files e quejandos) em nada se relacionaram com Saúde Pública, mas com politiquices e seus agentes. Visco.

Como também se costuma dizer, com alguma propriedade, em política aquilo que parece é. Quais foram dos principais resultados das medidas covid? Como hoje se constata (embora, de novo, fosse previsível desde o início), a destruição do SNS (aquele que, supostamente, se pretendia salvar) e a implosão da escola pública. Seriam esses os efeitos pretendidos? Se anda como um pato, grasna como um pato e parece um pato, é um pato. Tudo indica que um dos desígnios desta gestão da covid era atacar sem dó os Serviços Públicos, deixando-os cada vez mais fracos e como meras soluções de recurso apenas para os desfavorecidos (que, qualquer dia, nem isso). Aliás, quando se olha para a TAP a mesma conclusão se pode retirar.

Valorizem-se actos e não palavras: António Costa e as suas equipas estão no terreno com uma missão e uma missão apenas - destruir o Estado Social, por mais que propagandeiem o oposto. E por isso lhes é permitido, concomitantemente, encherem os seus próprios bolsos e disseminar o fartar vilanagem. Tudo isso é considerado efeitos colaterais. Ou ganhos secundários. Até à dissolução final. Piu piu.

*Psicóloga clínica. Escreve de acordo com a antiga ortografia

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