Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
Há vários mistérios
à volta das contas nacionais, além da crueza dos números que diariamente nos
vão sendo debitados, qual deles o mais assustador, tanto no campo
macroeconómico como no âmbito das famílias.
Ainda ontem se soube
que o défice aumentou 13% no primeiro trimestre, apesar do brutal aumento de
impostos decretado pelo governo.
Mas quanto aos
mistérios, diga-se que um deles tem a ver com a definição em concreto da meta
do défice para 2014. A informação de que o governo tem vindo a negociar uma
tolerância maior para o ano que vem começou por ser negada veementemente, para
a seguir começar a ser admitida como hipótese teórica, com tendência já para
uma pré- -confirmação para algo de óbvio.
É que a situação
catatónica da economia nacional é tal que não há hipótese a não ser renegociar
esse défice, e quanto mais cedo melhor, por forma a que os ministérios possam
elaborar os seus orçamentos sectoriais com um mínimo de rigor. E convém lembrar
de passagem que os orçamentos são feitos durante o Verão e devem ser
apresentados à Assembleia até 15 de Outubro.
Mais grave é a
questão dos célebres 4,7 mil milhões de euros que se pretende cortar por
vontade interna e da troika e que se irão traduzir na reforma do Estado que
Paulo Portas anda há meses a fugir de apresentar como o Diabo foge da cruz.
Inicialmente a
apresentação do documento ao país estava planeada para este mês. Mas o que em
concreto existe neste momento é um misterioso guião que circula entre Portas e
Passos, admitindo-se que com passagem por Vítor Gaspar, mas aparentemente à
margem dos próprios ministros.
Relativamente à
reforma do Estado e aos
montantes concretos dos cortes, a situação é confrangedora. Já ninguém, a
começar pelos próprios governantes, consegue explicar os montantes que se
pretende reduzir. As informações variam entre 4 mil milhões e 6 mil milhões
consoante as fontes, sendo o montante mais consensual os tais 4,7 mil milhões,
vá-se lá saber porquê. O número é, aliás, atirado sem que se saiba se esses
cortes são para fazer em 2013, 2013 e 2014, 2014 e 2015, ou até se podem ir
para além disso, ou seja, para uma legislatura que já não dependa deste
governo.
A questão dos
cortes é, aliás, e para citar alguns dos mais conhecidos economistas que tenham
adesão ao país real, absolutamente irrelevante, uma vez que é impossível
amputar uma quantia tão grande, muito menos durante a permanência da troika,
sensivelmente até esta altura do ano que vem. Para uma redução tão ampla
seria necessário, na prática, um choque tão grande que se instalaria uma
situação de completa e total ruptura em áreas tão essenciais como a saúde, a
segurança social, a protecção civil, a justiça, as forças de segurança, etc.
Os dados
disponíveis e a reserva que tem havido na identificação das áreas a atingir por
essa austeridade de carácter definitivo indicam que o governo está consciente
de um problema que tem de ser gerido com pinças para evitar o que pode ser uma
crise social sem precedentes e um afundamento definitivo do país.
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