quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Brasil: UMA MORTE NÃO ANUNCIADA




Alfredo Prado - África 21, opinião, em Cartas de Brasília

Eduardo Campos era um político de uma geração que se começa a abrir à modernização do Brasil e da política nacional, ciente de que o progresso e o desenvolvimento exigem justiça social e uma nova maneira de fazer e de estar na política. Uma geração capaz de ouvir e interpretar, pelo menos em parte, os clamores dos protestos populares.

Eduardo Campos deixou os brasileiros aos 49 anos. Foi uma morte prematura e não anunciada. Um acidente aéreo, cujas causas, além do mau tempo que fustigava o litoral de Santos na manhã de quarta-feira, 13 de agosto, ainda estão por descobrir e revelar. Com ele perderam a vida quatro assessores e os dois pilotos do jato executivo, cuja confiabilidade tecnológica é respeitada nos meios da aviação comercial.

Eduardo Campos era um político de uma geração que se começa a abrir à modernização do Brasil e da política nacional, ciente de que o progresso e o desenvolvimento exigem justiça social e uma nova maneira de fazer e de estar na política. Uma geração capaz de ouvir e interpretar, pelo menos em parte, os clamores dos protestos populares.

Do seu avô, Miguel Arraes, também ele governador de Pernambuco, homem de esquerda, empenhado em grandes lutas sociais, marcado, é certo, pelo tradicionalismo nordestino, perseguido pela ditadura militar, Eduardo herdou um Partido Socialista que quer crescer e alargar as fronteiras regionais a que tem estado confinado.

A morte do político nordestino, em plena campanha eleitoral, apanhou o país desprevenido.  Colocado na terceira posição nas pesquisas de intenção de voto dos eleitores, atrás da petista Dilma Rousseff, que disputa a reeleição, e do socialdemocrata Aécio Neves, do PSDB, Campos, o pernambucano que queria dar uma nova cara à política brasileira, lançou-se na campanha com ímpeto de vencedor, acompanhado pela ex-senadora e ministra Marina Silva.

Ainda que a sua vitória na corrida ao Palácio do Planalto se mostrasse distante, ele seria, provavelmente, o candidato-chave para a decisão eleitoral, que possivelmente só será decidida num segundo turno, no início de novembro.

O súbito desaparecimento do líder do PSB,  torna ainda mais difícil qualquer previsão sobre o desfecho da campanha. Poucas horas após a sua morte, num ambiente  geral de consternação, as lideranças políticas começam a avaliar discretamente que rumos darão às suas campanhas.

A legislação diz que o partido ou coligação que perca o seu candidato tem dez dias para indicar outro nome.  Passado o luto imediato, a luta política irá ganhar novos contornos. O PSB terá de decidir quem irá disputar o Palácio do Planalto. Se Marina Silva, filiada ao partido no ano passado, ou se procurará outra figura.

Uma decisão em que não deixarão de pesar os 20 milhões de votos obtidos por Marina nas presidenciais de 2010. E o PT, de Dilma e de Lula, provavelmente terá de adequar a sua campanha ao perfil do adversário socialista que for anunciado. O mesmo desafio será colocado a Aécio Neves, que mantinha com Campos uma relação de cordial entendimento que deixava adivinhar eventual apoio mútuo num segundo turno, o que dificultaria seriamente a possibilidade de Dilma Rousseff se manter por mais quatro anos em Brasília, dado o elevado índice de rejeição que enfrenta.

A morte não anunciada de Eduardo Campos pode alterar, muito, os rumos da campanha, sobretudo para Dilma e para Aécio. Uma morte que lançou, numa quarta-feira chuvosa, numa cidade de beira-mar, um manto de tristeza sobre o Brasil.

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