Pedro Rainho – jornal i
PSD
quer evitar "precipitações", mas diz concordar com a investigação dos
deputados aos acontecimentos no Banco Espírito Santo
Até
agora em silêncio, o PSD veio ontem dar corpo à unanimidade entre os partidos
na Assembleia da República, dando aval à abertura de uma comissão parlamentar
de inquérito aos acontecimentos no Banco Espírito Santo (BES). Mas a ideia de
que é preciso deixar a "poeira assentar" antes de avançar com uma
comissão - como defendem vozes na coligação - não colhe frutos no PS. Fonte
parlamentar socialista diz ao i que "os tempos da política são
diferentes dos tempos da investigação judiciária".
Entre
os partidos da maioria, o CDS foi o primeiro a dar luz verde a uma comissão de
inquérito ao caso BES. No fim-de--semana (cerca de duas semanas depois de o PCP
ter anunciado que ia propor a comissão na reabertura dos trabalhos
parlamentares), o vice-presidente centrista Diogo Feio admitiu ao Observador
que o partido não levantava "qualquer oposição" ao recurso "a
todos os meios admissíveis no plano parlamentar".
Forçado
a agir a reboque do parceiro de coligação, o PSD veio ontem dizer, pela voz do
líder da sua bancada parlamentar, que deverá ser "relativamente
fácil" encontrar uma "conjugação de posições" que permita
viabilizar, de forma alargada (e não apenas pela via potestativa), a comissão
de inquérito.
Os
sociais-democratas não avançam com propostas no parlamento que visem a
constituição de uma comissão de inquérito, mas garantem olhar com abertura para
as propostas das restantes forças. "É uma matéria que é importante e,
quando reabrirmos os trabalhos no parlamento, nós analisaremos todas as
propostas que sobre ela forem feitas", avançou Luís Montenegro à agência
Lusa.
A
palavra de ordem no PSD é, ainda assim, prudência. É preciso evitar
"precipitações" ou "corridas de Verão para ver quem chega
primeiro", sublinha Montenegro. E, ao "Expresso", fonte da
coligação concretizou a ideia, sugerindo que "o ideal seria deixar
assentar a poeira, para então se fazer o inquérito parlamentar".
Com
o ok do PSD, está reunida a unanimidade entre os partidos com assento
parlamentar para a constituição da comissão. Mas o PS rejeita o posicionamento
do maior partido do governo. De um lado estão as "investigações
judiciárias" e, do outro, o "apuramento das responsabilidades políticas",
diz ao i fonte parlamentar socialista. "Não é quando os
acontecimentos acabam que se investigam essas responsabilidades, é quando o
terramoto surge que se deve analisar o que se está a passar", defende a
mesma fonte.
Há
sensivelmente dois meses, as primeiras notícias davam conta da saída iminente
de Ricardo Salgado da presidência do Banco Espírito Santo (BES). No início de
Agosto, o PCP deu o passo político em frente e anunciou que iria propor a
abertura de uma comissão, o que deverá acontecer dentro de duas semanas, altura
em que o parlamento reabre portas.
A
única pedra no caminho de um arranque imediato dos trabalhos da comissão seria
o facto de haver em curso, neste momento, outras duas comissões de inquérito
simultâneas - uma sobre a compra dos submarinos e outra sobre o tragédia de
Camarate que vitimou Sá Carneiro e Amaro da Costa. Há uma espécie de acordo
tácito entre os partidos na Assembleia da República que dita a realização de,
no máximo, duas investigações parlamentares ao mesmo tempo. Mas, já depois de
ter sido prolongado em 15 dias, o prazo de validade da comissão que investiga a
compra de submarinos e de viaturas blindadas caduca a 20 de Setembro.
O
OLHO DO FURACÃO
Salgado será, certamente, uma das figuras que os deputados
terão interesse em ouvir no parlamento. E o banqueiro até já começou a falar.
Na
edição de Domingo, "O Estado de S. Paulo" publicou declarações do
banqueiro, em que o ex-presidente do Banco Espírito Santo rejeitava ser
apontado como único responsável pela crise em que o BES mergulhou. "Não
sou o pivô (dessa crise). Cada um (dos vários elementos da família) respondia
por uma actividade de negócio. O Ricciardi pela presidência do Besi, o Manuel
Fernando (Espírito Santo) pela holding Rioforte, e por aí vai", referia.
"Estou no meio do olho do furacão porque sou um banqueiro à frente de uma
instituição de quase 150 anos", apontou ainda Salgado, como justificação
pela pressão a que tem sido sujeito.
Também
ontem, o semanário Sol dava conta na sua edição online de que Salgado rejeitou
até ao último momento a necessidade de intervenção externa no banco que
dirigia. Na acta da última reunião do Conselho de Administração antes de ser
afastado, a 13 de Julho, o banqueiro reconhecia existirem problemas de liquidez
na instituição, depois de ter estado a "analisar detalhadamente" as
contas, mas recusava a entrada do Estado no banco.
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