terça-feira, 19 de agosto de 2014

Portugal: PARLAMENTO VAI INVESTIGAR BESGATE



Pedro Rainho – jornal i

PSD quer evitar "precipitações", mas diz concordar com a investigação dos deputados aos acontecimentos no Banco Espírito Santo

Até agora em silêncio, o PSD veio ontem dar corpo à unanimidade entre os partidos na Assembleia da República, dando aval à abertura de uma comissão parlamentar de inquérito aos acontecimentos no Banco Espírito Santo (BES). Mas a ideia de que é preciso deixar a "poeira assentar" antes de avançar com uma comissão - como defendem vozes na coligação - não colhe frutos no PS. Fonte parlamentar socialista diz ao i que "os tempos da política são diferentes dos tempos da investigação judiciária".

Entre os partidos da maioria, o CDS foi o primeiro a dar luz verde a uma comissão de inquérito ao caso BES. No fim-de--semana (cerca de duas semanas depois de o PCP ter anunciado que ia propor a comissão na reabertura dos trabalhos parlamentares), o vice-presidente centrista Diogo Feio admitiu ao Observador que o partido não levantava "qualquer oposição" ao recurso "a todos os meios admissíveis no plano parlamentar".

Forçado a agir a reboque do parceiro de coligação, o PSD veio ontem dizer, pela voz do líder da sua bancada parlamentar, que deverá ser "relativamente fácil" encontrar uma "conjugação de posições" que permita viabilizar, de forma alargada (e não apenas pela via potestativa), a comissão de inquérito.

Os sociais-democratas não avançam com propostas no parlamento que visem a constituição de uma comissão de inquérito, mas garantem olhar com abertura para as propostas das restantes forças. "É uma matéria que é importante e, quando reabrirmos os trabalhos no parlamento, nós analisaremos todas as propostas que sobre ela forem feitas", avançou Luís Montenegro à agência Lusa.

A palavra de ordem no PSD é, ainda assim, prudência. É preciso evitar "precipitações" ou "corridas de Verão para ver quem chega primeiro", sublinha Montenegro. E, ao "Expresso", fonte da coligação concretizou a ideia, sugerindo que "o ideal seria deixar assentar a poeira, para então se fazer o inquérito parlamentar".

Com o ok do PSD, está reunida a unanimidade entre os partidos com assento parlamentar para a constituição da comissão. Mas o PS rejeita o posicionamento do maior partido do governo. De um lado estão as "investigações judiciárias" e, do outro, o "apuramento das responsabilidades políticas", diz ao i fonte parlamentar socialista. "Não é quando os acontecimentos acabam que se investigam essas responsabilidades, é quando o terramoto surge que se deve analisar o que se está a passar", defende a mesma fonte.

Há sensivelmente dois meses, as primeiras notícias davam conta da saída iminente de Ricardo Salgado da presidência do Banco Espírito Santo (BES). No início de Agosto, o PCP deu o passo político em frente e anunciou que iria propor a abertura de uma comissão, o que deverá acontecer dentro de duas semanas, altura em que o parlamento reabre portas.

A única pedra no caminho de um arranque imediato dos trabalhos da comissão seria o facto de haver em curso, neste momento, outras duas comissões de inquérito simultâneas - uma sobre a compra dos submarinos e outra sobre o tragédia de Camarate que vitimou Sá Carneiro e Amaro da Costa. Há uma espécie de acordo tácito entre os partidos na Assembleia da República que dita a realização de, no máximo, duas investigações parlamentares ao mesmo tempo. Mas, já depois de ter sido prolongado em 15 dias, o prazo de validade da comissão que investiga a compra de submarinos e de viaturas blindadas caduca a 20 de Setembro.

O OLHO DO FURACÃO 

Salgado será, certamente, uma das figuras que os deputados terão interesse em ouvir no parlamento. E o banqueiro até já começou a falar.

Na edição de Domingo, "O Estado de S. Paulo" publicou declarações do banqueiro, em que o ex-presidente do Banco Espírito Santo rejeitava ser apontado como único responsável pela crise em que o BES mergulhou. "Não sou o pivô (dessa crise). Cada um (dos vários elementos da família) respondia por uma actividade de negócio. O Ricciardi pela presidência do Besi, o Manuel Fernando (Espírito Santo) pela holding Rioforte, e por aí vai", referia. "Estou no meio do olho do furacão porque sou um banqueiro à frente de uma instituição de quase 150 anos", apontou ainda Salgado, como justificação pela pressão a que tem sido sujeito.

Também ontem, o semanário Sol dava conta na sua edição online de que Salgado rejeitou até ao último momento a necessidade de intervenção externa no banco que dirigia. Na acta da última reunião do Conselho de Administração antes de ser afastado, a 13 de Julho, o banqueiro reconhecia existirem problemas de liquidez na instituição, depois de ter estado a "analisar detalhadamente" as contas, mas recusava a entrada do Estado no banco.

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