sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Angola: 72.º ANIVERSÁRIO DO EDUARDO


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BAJULEM, O RIDÍCULO NÃO MATA

William Tonet – Folha 8, 30 agosto 2014

O cidadão Eduardo fez, no 28 de Agosto de 2014, 72 anos de idade. Pa­rabéns com­patriota, falta pouco, muito pouco, para atingir um sé­culo, melhor 100 anos, até lá a poltroneria dos diri­gentes do MPLA, manter­-se-á inalterável, na defesa das mordomias concedi­das enquanto denominado arquitecto da paz.

Neste ano, houve tudo. Todos os excessos im­pensados em democra­cia, perdão, o regabofe assemelhou-se ao de uma qualquer militarizada dita­dura… China, Cuba e Co­reia do Norte estão à mão de semear…

O partido no poder, perdão o Titular do Poder Execu­tivo, único poder real em Angola é, constitucional­mente, uma figura única no mundo, e ele pode mesmo.

Mobiliza o Estado, abre os cordões à sua bolsa para toda a espécie de bajula­ção, distribui gasosas e multiplica “Maratonas” in­citando o mwangolé a con­sumir exageradas doses de bebidas alcoólicas e, na euforia causada pela bebe­deira generalizada, não só do corpo, mas também da mente, diz que tem 5 mi­lhões de militantes!

Actualmente nem um milhão, ideologicamente, comprometidos consegue identificar, pese a palha­çada de apresentar, regu­larmente, desertores fan­toches de outras forças da oposição!

Parabéns Presidente pelo mérito de ter descaracte­rizado ideologicamente o MPLA transformando-o na maior central de emprego de Angola.

Juro ter pensado, ingenua­mente, que aos 72 anos de idade, o Presidente da República dos angolanos do MPLA, pudesse atirar a tolha partidária ao chão e elevar-se ao pedestal de Presidente de todos os angolanos, abrindo as gri­lhetas da discriminação e neocolonização a que a maioria dos autóctones está votada.

Ledo engano.

Eduardo continua igual a si mesmo, avesso a uma visão de Estado, porque próximo da partidocracia e distante da tolerância, contenção, respeito pela diferença e conciliação. Ao obrigar uma legião de ge­nerais das FAA, economi­camente “untados” a faze­rem uma vénia bajuladora ao comandante-em-chefe, no seu aniversário, vulga­rizou a instituição, trans­formando-a num apêndice do Titular do Poder Execu­tivo, quando se deveriam assumir como Forças Ar­madas do Estado, forças republicanas, alérgicas a manipulação política de qualquer espécie.

Mas aos 72 anos de idade, quando se esperava mais contenção verbal, nos elogios ao aniversarian­te, a pomposidade saloia excedeu todos os limites do bom senso, mesmo, acredito e digo eu, no seio do próprio MPLA. O que os órgãos públicos de co­municação social e os do monopólio fizeram atingiu índices abjectos.

O temor em se ouvir opi­niões diferentes e realistas levou a censura e, assim, assistimos o velho e esfar­rapado monólogo dos an­golanos do MPLA.

Parabéns JES pela con­firmação de abominar a maioria dos angolanos, fundamentalmente, os que não pensem com a sua ca­beça, numa também clara demonstração de comba­ter a competência e pro­mover a incompetência, para tornar o espectro de apoio cada vez mais sub­misso.

Acredite camarada Pre­sidente, esperava, como antigo militante do MPLA, que aos 72 anos de idade, fosse condenar a excessiva centralização de poder e a falta de democracia inter­na, visando libertar o par­tido da ideia de só ter um ser pensante, como se os alegados 5 milhões de mili­tantes, não tivessem massa cinzenta.

Nessa idade seria interes­sante, autorizar a abertura dos arquivos secretos do MPLA, constituindo uma CRI - Comissão de Re­conciliação Interna, para se aferir como foram as­sassinados Hoji ya Hen­da, Deolinda Rodrigues, Comandante Paganini, na Frente Leste, Virgílio Sot­to Mayor, no ex-Campo da Revolução, Comandante Jika, em Cabinda, a Crise de 1964, a Revolta Activa, a Rebelião da Jiboia, o Con­gresso de Lusaka, o golpe ao primeiro presidente do MPLA, democraticamen­te eleito, Daniel Júlio Chi­penda, o 27 de Maio e os hediondos assassinatos, as crises com Lopo do Nasci­mento, Alexandre Rodri­gues “Kito”, João Louren­ço, Marcolino Moco, entre outros. Quem não conse­gue reconciliar a sua casa, dificilmente conseguirá o País, por mais que se lhe outorgue o título de arqui­tecto.

Queria felicitá-lo efu­sivamente, aos 72 anos ouvindo um discurso de aproximação aos adver­sários políticos, abrindo o país para um Encontro Reconciliatório, com to­dos actores partidários e da sociedade civil, capaz de se assinar um Pacto de Regime, para permitir uma transição pacífica e com garantias. Não o fez, acre­ditando numa paz podre, assente na ponta das ar­mas, como garantia.

Sobre a Educação, nem uma palavra, por ser um sistema votado aos po­bres, onde ape­nas se quer a bestialização e a burrice dos alu­nos, uma vez os filhos dos diri­gentes, por não acreditarem no sistema, estuda­rem no exterior ou em escolas estrangeiras no país. É confran­gedor acreditar que apadrinha propinas que vão dos USD 3500,00 à 15.000,00 (quinze mil dó­lares mês), cobrados por colégios estrangeiros, que não se subjugam sequer ao ano escolar de Angola.

O Ensino Superior é uma lástima, por falta de ca­pacidade técnica profis­sional do seu titular, que pouco percebe de gestão académica. Uma vergo­nha, tal como o Sistema Nacional de Saúde, desa­creditado, sem capacida­de de receber, sequer um simples dirigente ou mes­mo o Presidente da Repú­blica, aos 72 anos de idade e com 33 anos de poder, para uma simples consul­ta de dor de cabeça. Ne­nhum governante em An­gola, ousa dirigir-se a um hospital público, tal como fazia Nelson Mandela.

O sistema de Justiça con­tinua amordaçado e sub­misso a vontade de um homem, descaracterizan­do a soberania que lhe é inerente constitucional­mente.

Perante este cenário, mo­tivado pelos fiascos do Kilamba, do Porto Seco, do Nosso-Super e, mais recentemente, a “cratera não vulcânica”, mas de de­saparecimento de kumbú, do BESA, o Regime JES/MPLA sentiu que era im­prescindível aumentar a dose de bajulação e a es­tratégia encontrada prima pela simplicidade: «Dá-se primeiro a impressão de que não bajulamos, até uns 15 dias ou três semanas an­tes da data do aniversário do chefe, mas aí chegados, começamos e vamos arra­sar!

É o que está a acontecer e não precisamos de dar exemplos, pois a praga bajulatória é generalizada, com uma TPA no máximo do seu fulgor a homena­gear o presidente, ousa­mos dizê-lo, centenas de vezes por dia! Não há um único programa que não contenha uma, várias ou seja totalmente consagra­do à alegada felicidade de Angola ter um homem de craveira mundial a di­rigir o país, quando o que acontece é termos um en­genheiro que de política apenas conhece as artima­nhas (e nisso ele é exímio) e lê discursos feitos por especialistas cujo teor por vezes lhe escapa e, quando isso acontece, lá sai mais uma ou outra bacorada, entre as muitas que ele de­bita, destinadas a virem a ser históricas e quase sem­pre humilhantes para a sua pessoa. Um milhão de ca­sas continuam aí, tal como a Constituição “jessiana” atípica.

Parabéns Presidente, des­te “chefe indígena” discri­minado pelo seu regime, cada vez mais colado aos métodos da ditadura as­sassina norte-coreana.

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