Rafael
Barbosa – Jornal de Notícias, opinião
José
Sócrates fica na prisão. A decisão cai como uma bomba. Não é ainda um juízo de
culpabilidade, mas é um libelo poderoso. Pela extrema gravidade dos crimes
pelos quais está indiciado - fraude fiscal agravada, corrupção e branqueamento
de capitais; pelo facto de se tratar de um ex-primeiro-ministro; ou pela
consciência que vamos adquirindo de que estamos perante crimes que terão sido
praticados quando José Sócrates era chefe do Governo de Portugal. Um libelo
poderoso, ainda, porque um juiz de instrução criminal com um currículo à prova
de bala não só cauciona as suspeitas que lhe foram apresentadas pelo Ministério
Público, como considera os indícios suficientemente sólidos para se decidir por
uma medida extrema como a privação da liberdade.
Na
linguagem técnica da Justiça, não é ainda uma pena. Mas na avaliação mais
elaborada que se fará nos corredores da política, ou na avaliação mais
simplista que se fará à mesa do café, é como se fosse. Uma avaliação em
qualquer caso que não terá efeitos apenas sobre José Sócrates. É ainda cedo
para prever com honestidade todos os seus efeitos. Mas é fácil concluir que os
estilhaços atingirão com particular violência o PS, como irão atingir o
conjunto da classe política estabelecida, já tão debilitada e desacreditada com
a sucessão de escândalos dos últimos anos (basta pensar no saque do BPN e nas
figuras do PSD que lhe estão associadas; no Face Oculta que condenou o
socialista Armando Vara; na desvergonha e subsequente falência do BES, o banco
que servia de placa giratória para tantos políticos dos partidos do arco da
governação; ou no mais recente caso dos vistos dourados que atingiu altos
quadros da administração pública, incluindo o nosso guarda-fronteiras).
Não
é caso, no entanto, para desesperar. Num certo sentido, o regime pode estar em causa. Concretamente ,
a estabilidade da oligarquia que hoje controla o Poder. Mas a democracia não
está em causa. Ao
contrário, só pode sair fortalecida.
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