sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

China: “UM PAÍS DOIS SISTEMAS” SOBREVIVE À “REBELDIA” DE TAIWAN E HONG KONG




Contestação em Hong Kong "não ameaça" fórmula "um país, dois sistemas" -- sinólogo francês

Pequim, 05 dez (Lusa) - A fórmula "um país, dois sistemas", que garante à população de Hong Kong liberdades de expressão desconhecidas no resto da China, "não está ameaçada", apesar do persistente confronto político no território, diz um sinólogo ocidental radicado na região.

"Por razões práticas, Pequim também gosta de Hong Kong" e o estatuto de antiga colónia britânica "serve os interesses da sua elite", disse Jean-Pierre Cabestan, ex-diretor do Centro de Estudos francês sobre a China Contemporânea, num encontro com jornalistas estrangeiros realizado esta semana na capital chinesa.

Para a referida elite, Hong Kong " é um bom sítio para colocar o dinheiro e ter acesso a informação", argumentou.

Hong Kong - um território com cerca de 7,5 milhões de habitantes e uma das mais dinâmicas praças financeiras do mundo - foi integrado na República Popular da China em julho de 1997, dois anos e meio antes de Macau.

Em ambos os casos, a passagem para a administração chinesa foi feita segundo a fórmula "um país, dois sistemas".

Comparando com Macau, que tem também o estatuto de uma Região Administrativa Especial, mas que segundo Cabestan, "é já dominada pelo Partido Comunista Chinês", o sinólogo francês salienta que a antiga colonia britânica "tem uma sociedade civil muito mais forte e que permanece bastante ativa".

"Não creio que a fórmula 'um país, dois sistemas' esteja ameaçada. Toda a gente quer manter Hong Kong como Região Administrativa Especial", afirmou.

Jean-Pierre Cabestan viveu em Taiwan na década de 1990 e a seguir em Hong Kong, onde dirige hoje o Departamento de Estudos Internacionais e Governação da Hong Kong Baptist University.

De acordo com aquela fórmula, as políticas socialistas em vigor no resto da China não se aplicam em Hong Kong e Macau, e exceto nas áreas da Defesa e Relações Externas, que são da competência do governo central chinês, aqueles territórios gozam de "um alto grau de autonomia".

As famílias de Hong Kong e Macau, por exemplo, não estão sujeitas ao controlo da natalidade ("um casal, um filho") e podem aceder ao Facebook e a outros 'websites' bloqueados na China continental.

Trata-se de uma fórmula inédita no mundo e foi lançada no início da década de 1980 para tentar alcançar "a reunificação pacífica" com Taiwan, a ilha onde se refugiou o governo chinês depois de o PCC ter tomado o poder no continente, em 1949.

Taiwan, que Pequim considera uma província e não uma entidade política soberana, opõe-se àquela fórmula, alegando que não é uma colónia e que continua representar a antiga República da China, (sem o adjetivo "popular").

A contestação política que há mais de dois meses agita as ruas de Hong Kong está relacionada com o modo de eleição do chefe do governo local, em 2017.

O governo central concorda que a eleição seja por sufrágio direto, mas impôs que haja apenas "dois ou três candidatos" e que estes sejam aprovados por um Comité afeto a Pequim, o que, para os contestatários, constitui "uma limitação à democracia".

AC // JPS

"Rebeldia democrática" em Taiwan e Hong Kong poderá influenciar o interior da China - sinólogo francês

Pequim, 05 dez (Lusa) - Democratas de Taiwan e Hong Kong estão a protagonizar um "movimento de rebeldia" face a Pequim que poderá vir a influenciar o sistema político da China Continental, diz um sinólogo ocidental radicado há duas décadas na região.

"A cultura política democrática está a fazer o seu caminho na periferia da China", afirmou Jean-Pierre Cabestan a propósito dos resultados das últimas eleições locais em Taiwan e do movimento Occupy Central, que desde o final de setembro agita Hong Kong.

Antigo diretor do Centro de Estudos Francês sobre a China Contemporânea, Jean-Pierre Cabestan viveu em Taiwan na década de 1990 e a seguir em Hong Kong, onde dirige hoje o Departamento de Estudos Internacionais e Governação da Hong Kong Baptist University.

Num encontro com jornalistas estrangeiros realizado esta semana em Pequim, Cabestan salientou que "a China periférica" esta a revelar-se "muito mais rebelde face ao poder central chinês", o que "aumenta a pressão sobre o sistema de partido único" e "questiona o futuro político da China".

Na China continental, o "papel dirigente" do Partido Comunista é "um princípio cardeal" e os seus líderes proclamam repetidamente que o país "nunca adotará a democracia ocidental" como sistema de governo

Segundo Jean-Pierre Cabestan, a informação sobre Taiwan e Hong Kong "é censurada" por Pequim, mas "as fronteiras são extremamente porosas" e a "cultura política democrática" acabará por influenciar a China Continental.

"O processo será muito longo, mas, a pouco e pouco, vai modificar as coisas", acrescentou.

Nas eleições locais de sábado passado em Taiwan, o Partido Nacionalista (KMT) perdeu mais de metade das autarquias que governava, num resultado diametralmente oposto ao do partido pró-independência, o Partido Democrático Progressista (DPP).

Ao contrário do KMT, o DPP não reconhece que "há apenas uma China no mundo" e que Taiwan - a ilha onde se refugiou o antigo governo chinês depois de o Partido Comunista ter tomado o poder no continente, em 1949 - é "parte da China".

Em Hong Kong, o movimento de contestação, animado nas ruas por estudantes nascidos ou criados já depois de o território ter passado para a administração chinesa, centra-se no modo de eleição do próximo chefe do governo local, em 2017.

O governo central concordou que a eleição seja por sufrágio direto, mas impôs que haja apenas "dois ou três candidatos" e que estes sejam aprovados por um Comité afeto a Pequim, o que para os contestatários, constitui "uma limitação à democracia".

Pequim defende a "reunificação pacífica" com Taiwan, segundo a mesma formula adotada em Hong Kong e Macau, ("um pais, dois sistemas"), que garante às respetivas populações liberdades de expressão e organização politica desconhecidas no resto do país.

O KMT rejeita aquela fórmula, alegando que Taiwan não é uma colonia, mas nos últimos seis anos estreitou as relações com o continente chinês, que entretanto se tornou o maior parceiro comercial da ilha.

Uma eventual vitória do DPP nas eleições presidenciais de 2016 "tornará as relações com Pequim mais difíceis", pensa Jean -Pierre Cabestan, "mas não repetirá as tensões" registadas no início do século XXI, quando aquele partido chegou pela primeira vez ao poder.

"Económica e humanamente, Taiwan está hoje mais ligada à China continental. O DPP é pragmático e sabe que Taiwan necessita de manter relações estáveis e lucrativas com o continente", afirma Cabestan.

AC // JPS

*Título PG

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