O
clã dos Santos tem um grande poder na economia portuguesa, afirmam os autores
do livro “Os Novos Donos Disto Tudo – Quem manda de facto em Portugal”, lançado
na sexta-feira (08.05), em Lisboa.
No
seu livro "Os Novos Donos Disto Tudo – Quem manda de facto em
Portugal", os jornalistas do Diário Económico Filipe Alves e António
Sarmento apresentam a nova teia de poder e as mudanças que o tecido empresarial
português sofreu devido à crescente influência estrangeira. É dado destaque ao
império da empresária angolana Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos
Santos, atual Presidente de Angola.
Depois
do fim da guerra civil, Angola tem vindo a assumir uma posição muito importante
no investimento em
Portugal. O seu poder aumentou significativamente nos últimos
anos, com o reforço do capital angolano em setores estratégicos da economia
portuguesa, antes vedados ao investimento estrangeiro. A crise financeira e
económica portuguesa abriu portas a oportunidades que fazem da antiga colónia
um dos “novos donos” de Portugal.
“A
influência de José Eduardo dos Santos e do clã político e familiar que lidera
reforçou-se a todos os níveis nos últimos 5 anos em Portugal, desde que eclodiu
a crise e que houve o resgate internacional”, afirma Filipe Alves, co-autor da
obra. “Vários ativos foram vendidos, os angolanos tomaram posições sobretudo na
banca e na energia, e estão agora a negociar a compra de outras empresas,
nomeadamente na área das tecnologias. Também estão presentes nos media e
noutros setores, como o das conservas.”
Filipe
Alves reforça ainda que esse movimento de interesses na economia portuguesa é
liderado pelo poder político. “Os grandes investimentos em Portugal são feitos
com o consentimento, e em alguns casos até com a orientação, do poder político
de Angola. Todos os grandes negócios, nomeadamente na banca e na energia, ou
envolvem empresas estatais angolanas, como é o caso da Sonangol, uma grande
petrolífera estatal, ou então figuras próximas do poder político.”
O
livro apresenta vários exemplos factuais destes investimentos, nomeadamente da
Sonangol e de empresas de Isabel dos Santos na banca portuguesa, e explica as
origens das fortunas dos novos poderosos angolanos.
Os
investimentos angolanos em Portugal continuam a crescer
Além
de energia, telecomunicações e imobiliário, o investimento angolano poderá
crescer ainda mais, segundo Filipe Alves, abrangendo também a comunicação
social. Em Portugal, há quem não veja este “poder angolano” com bons olhos.
Como
as relações económicas e políticas luso-angolanas são desenvolvidas nos dois
sentidos, o clã dos Santos também tem a palavra decisiva no investimento português
em Angola, sustenta Filipe Alves.
“Creio
que a banca é o setor mais paradigmático da presença portuguesa em Angola,
porque a maior parte dos grandes bancos que estão no país têm capital
português. Houve agora uma mudança de circunstâncias com o BES Angola, que
colapsou tal como o BES português, mas Portugal continua a ter uma grande
importância no setor bancário angolano, e todos esses negócios são feitos com o
acordo do poder político em Angola”, explica o jornalista.
E
isso, acrescenta, acontece em muitos outros países em várias partes do mundo,
onde também aparecem vários empresários angolanos que são parceiros de grupos
portugueses em Angola. Há
o caso do Banco Fomento de Angola (BFA), controlado pelo Banco Português do
Investimento (BPI), no qual a filha do presidente angolano aparece como
acionista de referência.
O
livro dá também destaque aos investimentos chineses e de outros grupos,
sublinhando a posição de neutralidade e de abertura total do Governo português,
que considera importante o capital estrangeiro independentemente da sua origem.
Outro
aspeto relevante, sublinha Filipe Alves, «é a necessidade [que Portugal tem] de
vender os anéis para capitalizar as empresas portuguesas e pagar as dívidas».
Mas os autores concluem que, se os portugueses quiserem, serão eles os
verdadeiros donos do destino futuro do país, por muito poder que os “novos
donos disto tudo” tenham na economia portuguesa.
João
Carlos (Lisboa) - Deutsche Welle
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