O
fosso entre ricos e pobres diminuiu, mas Portugal continua entre os países mais
desiguais e com maiores níveis de pobreza consolidada da OCDE, segundo um
relatório que analisa a evolução da desigualdade de rendimentos nos últimos
anos.
Analisando
a totalidade dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Económico (OCDE) e também economias emergentes como a China ou a Rússia, o
relatório conclui que a desigualdade de rendimentos e a pobreza aumentaram
durante a crise.
"Nos
primeiros anos da crise, a desigualdade de rendimentos antes de impostos e
benefícios aumentou fortemente, mas os impostos e benefícios amorteceram a
subida. Nos anos mais recentes, enquanto a desigualdade de rendimentos antes de
impostos e benefícios continuou a subir, o efeito de amortecimento abrandou,
acelerando a tendência geral de aumento da desigualdade do rendimento
disponível", refere a OCDE.
O
relatório, apresentado, esta quinta-feira, em Paris, adianta que entre 2011 e
2012, Portugal registou uma redução de 0,343 para 0,338 no coeficiente Gini,
que mede as desigualdades de rendimento (0 para os países com igualdade de
rendimentos e 1 para os países com maior desigualdade de rendimentos).
Portugal
surge, assim, no relatório como o nono país mais desigual entre os 34 da
OCDE, acima do índice médio destes países, que é de 0,315.
Os
10% da população portuguesa mais rica concentravam 25,9% da riqueza, enquanto
os 10% da população mais pobre tinham 2,6%. O grosso da riqueza (63%)
concentrava-se nos 40% da população.
No
mesmo período, a taxa de pobreza dos agregados portugueses passou de 12,0
para 12,9 e os níveis de pobreza consolidada subiram dos 12,4 para os
13,6, o sexto valor mais elevado entre os 34 países da OCDE e acima do nível
médio de pobreza consolidada deste bloco de países, situado nos 9,9.
Quando
analisada por idade, a pobreza afetava sobretudo as crianças e jovens, com
taxas de 17,8 e 15,8 respetivamente. Os adultos (26-65) e os trabalhadores
pobres apresentam taxas de 12,5 e 12,2.
O
estudo adianta também que, pela primeira vez, em 2011, a taxa de pobreza
das pessoas com idades entre os 66 e 75 anos ficou abaixo da média da população,
sendo essa redução classificada como "considerável" em Portugal e em
países como a Grécia, a Irlanda ou a Espanha.
Em
2007, os idosos eram o grupo etário com maior incidência de pobreza, enquanto
em 2011 os jovens e as crianças tomaram o seu lugar, segundo a OCDE, que tinha
identificado a pobreza entre os jovens como uma tendência a longo prazo, mas
que a crise acelerou.
O
estudo assinala que em Portugal, apesar do aumento da desigualdade registada no
rendimento de mercado (inclui rendimentos do trabalho, capital e propriedades),
a aplicação de benefícios fiscais e sociais resultou numa redução da
desigualdade dos rendimentos disponíveis.
O
relatório conclui que, entre 2007 e 2011, a maioria dos países da OCDE registou
um aumento na desigualdade do rendimento disponível, tendo 15 países ficado
mais desiguais e nove mais iguais.
Na
maioria dos países, o fosso entre os mais ricos e os mais pobres está ao nível
mais alto dos últimos 30 anos, com os 10% dos mais ricos a registarem em média
9,6 vezes o rendimento dos 10% mais pobres.
O
relatório conclui ainda que as desigualdades continuaram a aumentar durante a
crise, sobretudo devido ao crescimento do desemprego, mas também depois da
crise.
Em
países como a Grécia, Irlanda e Portugal, o aumento da desigualdade nos
rendimentos do trabalho foi fortemente influenciada pelos efeitos do
desemprego, no entanto as diferenças salariais reduziram-se por causa dos
cortes nos salários do setor público.
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